Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
Uma nova análise dos genomas dos neandertais sugere que o sangue antigo que antes era bombeado por essa população há muito tempo extinta de humanos arcaicos tinha mais em comum com o sangue humano moderno do que os cientistas imaginavam.
Embora se presumisse por muito tempo que todos os neandertais possuíam sangue do tipo O, um novo estudo de genomas previamente sequenciados de três indivíduos de Neandertal mostra variações polimórficas em seu sangue, indicando que eles também carregavam outros tipos de sangue encontrados no sistema de grupos sanguíneos ABO.
Isso significa que o sangue neandertal não só aparecia na forma de sangue do tipo O – que era o único tipo confirmado antes disso, com base na análise anterior de um indivíduo – mas também dos tipos de sangue A e B.
A descoberta, baseada em uma série de alelos de grupos sanguíneos identificados nas sequências genéticas de três indivíduos neandertais (e também de um Denisovano), parece ter estado bem ocultada de nós, com a equipe que fez a descoberta sugerindo que pesquisas de grupos sanguíneos como esta foram negligenciadas em meio ao surgimento de outras tecnologias de análise de DNA.
“Os grupos sanguíneos dos glóbulos vermelhos são marcadores antropológicos poderosos”, explicam os pesquisadores em um novo estudo, liderados pela paleoantropóloga Silvana Condemi, da Universidade de Aix-Marselha, na França.
“Curiosamente, apesar de sua importância e da quantidade de dados genotípicos disponíveis em humanos modernos que estão se acumulando continuamente, quase nenhuma atenção foi dada aos principais polimorfismos de glóbulos vermelhos em estudos paleogenéticos”.
Além das descobertas do ABO, os pesquisadores dizem que os genes subjacentes aos grupos sanguíneos nesses humanos arcaicos consolidam a visão de que os neandertais e denisovanos surgiram originalmente da África – devido à ausência de certos antígenos em seu sangue e à presença de grupos sanguíneos ancestrais ligados às populações africanas.
“Essas características estão de acordo com um fundo genético Neandertal e Denisovano anterior à saída do Homo sapiens da África”, escreveram os pesquisadores.
Outras pistas genéticas revelam uma passagem de tempo muito posterior, incluindo um alelo do gene RHD (que codifica uma proteína no grupo sanguíneo Rh), que não é encontrado em humanos modernos, com exceção de dois indivíduos atuais: um aborígine australiano e um papua indígena.
É provável, sugerem os pesquisadores, que esta ligação misteriosa seja evidência de cruzamento entre neandertais e H. sapiens antes que este último migrasse para o sudeste da Ásia.
Quanto ao que mais tarde ajudou a impulsionar o declínio dos neandertais, o novo estudo oferece algumas ideias também nessa direção.
De acordo com os pesquisadores, um grande número de alelos compartilhados vistos nos genomas arcaicos dos três neandertais e dos denisovanos sugere baixa diversidade genética, provavelmente ligada à endogamia no caso dos neandertais.
Além disso, variantes genéticas no sangue arcaico transmitido pelos neandertais os teriam tornado muito mais propensos a desenvolver doença hemolítica do recém-nascido (HDFN), uma condição aloimune em que o sistema imunológico da mãe ataca as células do sangue de seu feto.
“Esses elementos podem ter contribuído para enfraquecer os descendentes a ponto de levar à sua extinção, especialmente combinados com a competição com o H. sapiens pelo mesmo nicho ecológico”, escrevem os pesquisadores.
Os resultados foram publicados no PLOS One.