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Pode haver uma nova explicação para os ‘lagos’ subterrâneos em Marte, mas não é água

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

Uma rede de características estranhas descoberta no subsolo no polo sul de Marte podem não ser lagos de água salgada líquida, afinal.

De acordo com uma nova análise, as estranhas manchas brilhantes vistas em dados de radar coletados da sonda orbital Mars Express podem ser resultantes de argila congelada – especificamente silicatos de alumínio hidratado ou esmectita.

“Até o momento, todos os estudos anteriores foram capazes apenas de sugerir interpretações com furos no argumento em favor do lagos. Demonstramos que outro material é a causa mais provável das observações”, disse o cientista planetário Isaac Smith, do Planetary Science Institute e Universidade York no Canadá.

“Agora, nosso estudo oferece a primeira hipótese alternativa plausível, e consideravelmente mais provável, para explicar as observações do MARSIS”.

A saga começou quando uma equipe de cientistas notou algo estranho nos dados coletados do MARSIS, o radar sonoro acoplado ao Mars Express. Abaixo da calota polar sul de Marte, havia uma região que refletia fortemente o sinal do radar. A equipe descobriu que isso era consistente com um bolsão de água líquida – um lago subterrâneo.

A pesquisa de acompanhamento revelou que a região não estava sozinha. Outras três manchas muito brilhantes foram encontradas nos dados do MARSIS. Era algo fantástico, uma vez que sugeria um lugar em que Marte poderia ser habitável para a vida microbiana extremófila e quimiossintética (vivendo de reações químicas em vez de luz solar).

Mas outros cientistas encontraram um problema significativo: Marte é realmente terrivelmente frio. Frio demais, constatou um estudo recente, para grandes reservatórios de água líquida, mesmo saturada de sal, o que diminui o ponto de congelamento do líquido. O que, por sua vez, deixou um ponto de interrogação gigante pairando sobre o planeta vermelho: se as manchas brilhantes não são água líquida, o que diacho são?

Depois de dar uma olhada nos dados, Smith acredita que ele e seus colegas encontraram uma explicação muito plausível.

“Argilas sólidas congeladas a temperaturas criogênicas podem refletir de tal forma. Nosso estudo combinou modelagem teórica com medições de laboratório e observações de sensoriamento remoto”, disse ele.

“Todos os três concordaram que as esmectitas podem fazer os reflexos e que as esmectitas estão presentes no polo sul de Marte. É a trifeta: medir as propriedades do material, mostrar que as propriedades do material podem explicar a observação e demonstrar que os materiais estão presentes no local da observação”.

A argila esmectita, ele explicou, está presente em quase 50% da superfície marciana, com uma concentração maior ocorrendo no hemisfério sul, particularmente nas terras altas do sul. O rover Curiosity examinou depósitos de esmectita no antigo leito seco de lago que explora.

Também há evidências abundantes de que a água líquida esteve presente no polo sul marciano em eras passadas, há mais de 100 milhões de anos.

Smith e sua equipe acreditam que as argilas esmectitas podem ter se formado nesta época e posteriormente soterradas sob a calota polar do sul. Qualquer gelo perdido na camada de argila seria reposto na calota de gelo acima ou no solo congelado abaixo e assim permaneceria até hoje.

A equipe testou sua hipótese com amostras de argila de cálcio-montmorillonita, que é conhecida por ser abundante em Marte, congelando-a a 230 Kelvin (cerca de -43 graus Celsius) e medindo sua permissividade dielétrica – a propriedade captada pelo radar ao penetrar o solo. Eles acharam consistente com os dados do MARSIS.

Eles também usaram modelagem para estimar a potência do eco que seria observada pelo MARSIS em diferentes cenários e, novamente, descobriram que a detecção de argila esmectita era uma explicação plausível para o sinal.

A água líquida ainda pode ser explicada se Marte tiver aquecimento interno – o que pode ser possível, considerando as pistas recentes de que o planeta é geológica e vulcanicamente ativo. Mas não sabemos se existe tal atividade abaixo do polo sul. A argila esmectita fornece uma resposta que não requer um fator não verificado.

“Lagos sob o gelo deixam mais perguntas sem respostas do que respondidas. Uma resposta mais simples é que um material que agora sabemos que existe no polo sul de Marte explica as observações anômalas melhor do que uma reivindicação extraordinária de corpos de água líquida”, disse Smith.

“Considerando o trabalho recente neste tópico encontrando falhas com a teoria do lago, isso é como várias porradas que atordoam fortemente a interpretação do lago e então resolve o enigma. Em minha opinião, é um nocaute”.

A pesquisa foi publicada na Geophysical Research Letters.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.