Pular para o conteúdo

Ossos de 3.000 anos revelam a vítima de encontro com tubarão mais antiga já descoberta

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

O risco de morte por um encontro com um tubarão pode ser bastante exagerado na cultura popular, mas isso provavelmente não serve de consolo para um homem que viveu e morreu 3.000 anos atrás. Seus restos mortais agora representam a mais antiga vítima conhecida de tubarão já encontrada.

De acordo com uma análise de seus ossos, o homem teve um encontro particularmente desagradável com um dos predadores marinhos no Mar Interior de Seto, dentro do arquipélago japonês. Apresenta 800 ferimentos marcados em seu esqueleto, nenhum dos quais mostrou qualquer sinal de cicatrização – sugerindo, fortemente, que o encontro foi fatal.

Os ossos, recuperados de um sambaqui do sítio arqueológico Tsukumo perto do Mar Interior de Seto, foram escavados pela primeira vez no início do século 20 d.C., mas uma explicação para os ferimentos do homem permaneceu indefinida.

Em seguida, os ossos foram redescobertos pelos arqueólogos J. Alyssa White e Rick Schulting, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que investigavam a violência no Japão pré-histórico.

“Inicialmente ficamos confusos com o que poderia ter causado pelo menos 790 ferimentos profundos e serrilhados a este homem. Houve tantos feridos e mesmo assim ele foi enterrado no cemitério da comunidade, nos sambaquis de Tsukumo”, disseram eles.

“Os ferimentos se limitaram principalmente aos braços, pernas e parte da frente do tórax e abdômen. Por meio de um processo de eliminação, descartamos conflitos humanos e predadores animais ou necrófagos mais comumente relatados”.

Tradução da imagem: úmero direito (right humerus), clavícula direita (right clavicle), escápula esquerda (left scapula), ulna direita (right ulna), úmero esquerdo (left humerus), fêmur esquerdo (left femur) e fíbula esquerda (left fibula). Créditos: White et al., J. Archaeol. Sci. Rep., 2021 / Universidade de Kyoto.

As lesões nos ossos do homem, conhecidas apenas como Tsukumo nº 24, eram certamente curiosas. Tinham arestas afiadas e curvas, o que os pesquisadores consideraram inconsistentes com as ferramentas de pedra em uso na época.

Além disso, sua mão esquerda e sua perna direita estavam faltando, e sua perna esquerda tinha sido colocada em cima de seu corpo em uma posição invertida para o enterro.

Encontros de tubarões raramente são vistos nos registros arqueológicos, mas os ferimentos não parecem corresponder a qualquer outro tipo de encontro com animais. Os arqueólogos procuraram o biólogo marinho George Burgess, do Programa para Pesquisa de Tubarões do Museu de História Natural da Flórida, bem como registros de encontros com tubarões, para ver se os ferimentos do nº 24 combinavam com eles.

“Devido aos ferimentos, ele foi claramente vítima de um ataque de tubarão”, disseram White e Schulting.

“O homem pode muito bem ter pescado com companheiros na época, já que parece ter sido salvo rapidamente. E, com base no caráter e distribuição das marcas de dente, a espécie mais provável responsável foi um tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) ou tubarão-branco (Carcharodon carcharias)”.

Era impossível restringir ainda mais a espécie, uma vez que as marcas de mordidas são tão numerosas e sobrepostas que um diagnóstico do formato de mandíbula não pôde ser inferido.

A equipe também realizou avaliações bioarqueológicas dos ossos, para determinar quando o nº 24 havia vivido, confirmar seu sexo e descobrir quantos anos ele tinha no momento da morte.

De acordo com a análise dos pesquisadores, o homem era jovem ou de meia-idade no momento da morte e viveu por volta de 1370 a 1010 a.C. Seus restos mortais foram recuperados logo após o encontro com o tubarão e enterrados no cemitério de seu povo.

Embora o encontro pareça violento, os pesquisadores acreditam que o homem teria morrido muito rapidamente. Dado o número de mordidas que atingiram os ossos do homem, suas artérias femorais teriam sido cortadas precocemente, resultando em morte rápida por choque hipovolêmico, que acontece quando o corpo perde rapidamente pelo menos um quinto de seu sangue.

A pesquisa oferece uma visão rara dos riscos do estilo de vida de um caçador-coletor.

“O ataque a Tsukumo nº 24 destaca os riscos da pesca marinha e do mergulho em busca de frutos do mar ou, talvez, os riscos da caça oportunista de tubarões atraído pelo sangue durante a pesca”, escreveram os pesquisadores em seu estudo.

“Os humanos têm uma longa história compartilhada com os tubarões, e este é um dos casos relativamente raros em que os humanos estavam em seu menu e não o contrário”.

A pesquisa foi publicada no Journal of Archaeological Science: Reports.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.