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Períodos de seca frequentes podem ter sido essenciais para o surgimento da vida na Terra

Traduzido por Julio Batista
Original de Tessa Koumoundouros para o ScienceAlert

Como a vida surgiu na Terra a partir de uma variedade de moléculas não vivas é um mistério duradouro. Os experimentos podem nos mostrar como etapas importantes podem ter acontecido, mas para cada salto à frente existem becos sem saída confusos.

A água, por exemplo, parece ser um componente essencial da vida desde o início. No entanto, o processo de crescimento de alguns dos componentes mais vitais da vida tem uma aversão frustrante a ela.

“Sabemos que os aminoácidos são os blocos de construção das proteínas e as proteínas são essenciais para a vida”, disse John Yin, engenheiro bioquímico da Universidade de Wisconsin-Madison, EUA.

“Na química pré-biótica, há muito tempo se questiona como podemos fazer com que essas coisas formem ligações e cadeias de uma maneira que possa eventualmente levar a uma célula viva. A questão é difícil porque a química específica envolvida é aquela que tende a falhar em presença de água”.

A teoria predominante desde a época de Charles Darwin é que a vida emergiu de uma ‘sopa primordial‘ logicamente úmida, tornando difícil reconciliar o papel preciso que a água pode desempenhar nas origens daquelas primeiras reações autorreplicantes sustentadas.

Assim, a engenheira química da Universidade de Wisconsin-Madison, Hayley Boigenzahn, conduziu um estudo em um ambiente em mudança simulado – um que alterou entre condições úmidas e secas que são facilmente replicadas na natureza com ciclos de marés e de dia e noite, bem como mudanças climáticas.

A equipe de Boigenzahn combinou uma seleção de aminoácidos que se mostraram bastante fáceis de produzir naturalmente. Como os blocos de construção das proteínas – unidades que podem realizar o trabalho mecânico dos processos vivos – as estruturas resultantes são uma boa aposta para desempenhar um papel importante nas formas iniciais da biologia.

Infelizmente, conseguir que essas unidades se unam em cadeias mais longas é um desafio. Nesse caso, os pesquisadores usaram o aminoácido glicina.

Em seguida, adicionaram trimetafosfato à sopa, uma molécula produzida naturalmente em vulcões.

Finalmente, a sopa foi temperada com hidróxido de sódio (NaOH) para aumentar seu pH.

Eis que, durante a primeira hora do experimento, a glicina se acoplou para formar uma molécula de duas unidades chamada dímero. Essa reação libera prótons que, por sua vez, neutralizam o pH necessário para que a dimerização ocorra, efetivamente freando todo o processo.

Conforme encontrado em pesquisas anteriores, à medida que o pH da solução se tornava mais neutro, os dímeros lentamente começaram a se ligar uns aos outros em cadeias ligeiramente mais longas. À medida que a solução secava, no entanto, a taxa de reação aumentava, possivelmente devido às concentrações das moléculas que se aproximavam, suspeita a equipe.

“O que estamos mostrando aqui é que não precisa necessariamente ser o mesmo ambiente em todas as reações”, disse Boigenzahn. “Eles podem ocorrer em diferentes ambientes, desde que as reações que estão ocorrendo ajudem a criar um ambiente favorável para as próximas etapas”.

Um ciclo de transições entre condições úmidas e secas poderia transformar a molécula em proteínas mais complexas, algumas das quais poderiam promover outras reações químicas envolvidas na vida.

“O fato desses mecanismos de reação serem conhecidos há muitos anos e de haver uma avaliação limitada da ligação entre eles sugere que pode valer a pena prestar mais atenção aos efeitos das reações prebióticas propostas em seu ambiente, além dos efeitos do meio ambiente nas reações”, notou Boigenzahn e a equipe.

Esta também não é a primeira pista de que as origens da vida podem ter ocorrido com a falta da umidade. No início deste ano, químicos descobriram que os aminoácidos flutuantes livres no ar eram mais reativos no limite ar-água de pequenas gotículas. Além do mais, essas reações aconteceram em condições ambientais normais sem a necessidade de outros produtos químicos ou radiação.

Ainda há um longo caminho a percorrer antes de entender tudo o que está envolvido, mas entender os processos por trás da origem da vida também pode abrir as portas para novas e mais poderosas tecnologias baseadas na química.

“Eventualmente, você pode criar sistemas químicos capazes de armazenar informações, adaptar e evoluir”, disse Yin.

“O DNA armazena informações em milhares de vezes a densidade de um chip de computador. Se pudéssemos obter sistemas que fazem isso sem necessariamente serem células vivas, então você começa a pensar em todos os tipos de novas funções e processos ocorrendo no nível molecular.”

Esta pesquisa foi publicada em Origins of Life and Evolution of Biospheres.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.