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Pesquisadores desvendam os segredos antigos da máquina de Anticítera, o “primeiro computador”

Traduzido por Julio Batista
Original de Ben Turner para a Live Science

Os cientistas podem ter finalmente feito um modelo digital completo do dispositivo mecânico de 2.000 anos chamado máquina de Anticítera, que se acredita ser o primeiro computador do mundo.

Descobertos pela primeira vez em uma embarcação naufragada da era romana por mergulhadores gregos em 1900, os fragmentos de uma engenhoca do tamanho de uma caixa de sapatos, antes cheia de engrenagens e usada para prever os movimentos de corpos celestes, têm confundido e maravilhado gerações de pesquisadores desde então.

Os fragmentos descobertos constituíam apenas de um terço de um dispositivo maior: uma caixa de engrenagens movida à mão altamente sofisticada, capaz de prever com precisão os movimentos dos cinco planetas conhecidos pelos gregos antigos, bem como o Sol, as fases da Lua, e os eclipses solar e lunar – exibindo-os em relação aos períodos de eventos antigos, como os Jogos Olímpicos.

No entanto, apesar de anos de pesquisa e debate meticulosos, os cientistas nunca foram capazes de replicar totalmente o mecanismo que impulsava o dispositivo surpreendente, ou os cálculos usados ​​em seu projeto, a partir do fragmento dessa lata-velha danificada e corroída descoberta nos destroços.

Mas agora os pesquisadores da Colégio Universitário de Londres (UCL) dizem que recriaram totalmente o design do dispositivo, a partir de cálculos antigos usados ​​para construí-lo, e agora estão montando sua própria engenhoca para ver se o projeto funciona.

“Nosso trabalho revela a máquina de Anticítera como uma bela concepção, traduzida por uma engenharia excelente em um dispositivo genial”, escreveram os pesquisadores em 12 de março no arquivo de acesso aberto Scientific Reports. “Isso desafia todos os nossos preconceitos sobre as capacidades tecnológicas dos gregos antigos.”

Por que recriar a Anticítera? 

Os pesquisadores queriam recriar o dispositivo por causa de todo o mistério que o cerca, como uma forma de, possivelmente, ir a fundo em diversas questões.

Além disso, ninguém jamais havia criado um modelo planetário que se reconciliasse com todas as evidências físicas.

“A distância entre a complexidade deste dispositivo e outros do mesmo período é infinita”, disse o coautor Adam Wojcik, cientista de materiais da UCL, ao Live Science. “Francamente, não há nada parecido que já foi encontrado. É algo praticamente fora daquele mundo.”

As engrenagens complexas que compunham o mecanismo do dispositivo são de uma escala que você poderia esperar encontrar em um relógio de pêndulo, mas as únicas outras engrenagens descobertas por volta do mesmo período são as muito maiores que faziam parte de coisas como balistas, ou grandes bestas, e catapultas.

Essa sofisticação levanta muitas questões sobre o processo de fabricação de uma engenhoca tão complexa e única, bem como por que ela foi descoberta como o único dispositivo conhecido de seu tipo em um antigo navio naufragado na ilha de Anticítera.

“O que ela estava fazendo naquele navio? Encontramos apenas um terço dela; onde estão os outros dois [terços]? Eles corroeram? Alguma vez ela funcionou?”, disse Wojcik.

“Essas são perguntas que só podemos realmente responder por meio da arqueologia experimental. É como tentar responder como eles construíram o Stonehenge. Vamos pegar 200 pessoas com um pouco de corda e uma grande pedra e tentar puxá-la pela Planície de Salisbury. É mais ou menos o que estamos tentando fazer aqui. “

Fazendo o primeiro computador

Para criar o modelo, os pesquisadores basearam-se em todas as pesquisas anteriores sobre o dispositivo, incluindo a de Michael Wright, um ex-curador do Museu da Ciência em Londres, que já havia construído uma réplica funcional.

Usando inscrições encontradas no mecanismo e um modelo matemático de como os planetas se moviam, que foi inicialmente concebido pelo antigo filósofo grego Parmênides, eles foram capazes de criar um modelo de computador de um mecanismo de engrenagens sobrepostas que cabem dentro de um compartimento profundo (2,5 centímetros).

Seu modelo recria cada engrenagem e mostrador giratório para mostrar como os planetas, o Sol e a Lua se movem pelo Zodíaco (o antigo mapa das estrelas) na face frontal e as fases da Lua e eclipses na parte traseira.

Ele replica a suposição agora desatualizada da Grécia antiga de que todos os céus giravam em torno da Terra.

Agora que o modelo de computador foi criado, os pesquisadores querem fazer versões físicas, primeiro usando técnicas modernas para verificar se o dispositivo funciona e, em seguida, empregando as técnicas que poderiam ter sido usadas pelos antigos gregos.

“Não há evidências de que os gregos antigos foram capazes de construir algo assim. É realmente um mistério”, disse Wojcik. “A única maneira de testar se eles poderiam [ter sido capazes] é tentar construí-lo à maneira da Grécia Antiga.”

“E também há muito debate sobre para quem e quem o construiu. Muitas pessoas dizem que foi Arquimedes“, disse Wojcik. “Ele viveu na mesma época em que foi construído, e ninguém mais tinha o mesmo nível de habilidade de engenharia que ele. Foi também um naufrágio romano.”

Arquimedes foi morto pelos romanos durante o Cerco de Siracusa, depois que as armas que ele inventou não conseguiram impedir a conquista da cidade.

Também permanecem mistérios quanto a saber se os gregos antigos usavam técnicas semelhantes para fazer outros dispositivos ainda a serem descobertos ou se cópias do mecanismo de Anticítera estão esperando para ser encontradas.

“É um pouco parecido com ter uma TARDIS aparecendo na Idade da Pedra”, disse Wojcik, referindo-se à espaçonave viajante do tempo de Doctor Who.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.