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Pesquisadores internacionais confirmam cabeça encolhida de museu como restos humanos reais

Traduzido por Julio Batista
Original de Jeff Renaud para a Universidade do Ontário Ocidental

Pesquisadores da Universidade do Ontário Ocidental verificaram a autenticidade de uma tsantsa (cabeça encolhida) sul-americana como restos humanos, um passo importante no esforço global para a descolonização e preservação e compreensão da história indígena.

As descobertas foram publicadas hoje na importante revista PLOS One.

Usando tomografia computadorizada clínica (TC) e microtomografias de alta resolução, os pesquisadores conseguiram determinar que a tsantsa atualmente mantida na coleção do Museu de Chatham-Kent em Chatham, Ontário, é de fato restos humanos reais e não uma falsificação feita de partes do corpo de animais ou outros meios frequentemente usados em reproduções comerciais.

Este é o passo inicial na determinação da autenticidade dessas cabeças.

A tomografia computadorizada produz imagens bidimensionais de uma “fatia” de um corpo ou parte do corpo, que são então coletadas e colocadas em camadas para construir imagens tridimensionais.

“Esta técnica realmente redefine a arqueologia porque, tradicionalmente, a arqueologia pode ser agressivamente destrutiva”, disse Lauren September Poeta, pesquisadora do povo Anishinaabe e associada do projeto no Departamento de Iniciativas Indígenas da Universidade do Ontário Ocidental. “A arqueologia digital, incluindo a tomografia computadorizada, fornece uma dimensão totalmente nova de autenticidade e é um progresso para o campo, tornando-o muito menos invasivo”.

Varredura de micro-TC da tsantsa. (Créditos: Andrew Nelson)

Essa nova abordagem de digitalização é um primeiro passo significativo na autenticação de tsantsas, à medida que a comunidade global muda sua mentalidade para a repatriação liderada por indígenas de restos humanos, arte e artefatos arqueológicos atualmente mantidos em coleções públicas e privadas em todo o mundo.

A tsantsa examinada para o estudo foi doada ao museu na década de 1940 pela família Sulman, depois de ter sido comprada em um passeio pela bacia amazônica. O registro original lista as tsantsas como provenientes de “índios peruanos” na América do Sul e nada mais, o que não é incomum.

As Tsantsas já foram reconhecidas como uma rica representação de informações sobre história, cultura, rituais e identidade. Agora que esta tsantsa foi verificada, pesquisadores da Universidaded de San Francisco de Quito no Equador (parceiros acadêmicos no estudo) podem trabalhar em conjunto com representantes dos povos Shuar e Achuar do Equador e do norte do Peru para os próximos passos.

“Para este estudo, a autenticação foi realmente o foco. Precisamos entender melhor todo o processo de construção da tsantsa porque as fontes etno-históricas variam bastante”, disse Andrew Nelson, presidente do departamento de antropologia da Universidade do Ontário Ocidental.

Muitas fontes etno-históricas sugerem que as tsantsas foram preparadas para prender a alma dentro dos restos mortais enquanto os olhos e a boca eram costurados. Ao encolher a cabeça de um inimigo derrotava, acreditava-se que o vitorioso aproveitava seu espírito para a servidão e impedia que a alma vingasse a morte do inimigo.

“Tsantsas são uma representação muito boa da história indígena na América do Sul, mas também o legado comercial de cabeças encolhidas destaca as redes coloniais em todo o mundo”, disse Poeta. “Ser capaz de fazer parceria com pesquisadores locais no Equador para este estudo e conectar-se com os povos Shuar e Achuar nos ajuda a trabalhar para a descolonização”.

Embora Poeta, Nelson e seus colaboradores tenham obtido evidências conclusivas de que a tsantsa são restos humanos, eles não conseguiram determinar se o objetivo do encolhimento da cabeça era cerimonial ou comercial.

Poeta observou que a equipe sabia que estava de fato estudando restos humanos ao examinar os olhos e ouvidos usando microtomografias de alta resolução. Para Nelson, o cabelo entregou.

“Você pode ver as camadas individuais da pele na tomografia clínica, mas na microtomografia você pode realmente ver os folículos individuais, e fica muito claro o que está acontecendo”, disse Nelson.

Os pontos usados ​​para fechar as incisões, assim como os olhos e os lábios, também só podem ser examinados criticamente usando uma microtomografia computadorizada.

“Se materiais de videira fossem usados ​​para selar os olhos e os lábios, provavelmente identificaria a tsantsa como cerimonial, mas se um fio mais moderno e mais barato fosse usado, seria mais indicativo de interesses comerciais quando estava sendo feito”, disse Poeta.

Os pesquisadores não saberão com certeza os detalhes e o propósito final da preparação da cabeça encolhida até que mais tsantsas – aquelas que são garantidas como cerimoniais e aquelas tidas como falsas – sejam examinadas.

“Sempre trabalhamos de forma respeitosa e intencional com os sujeitos de nossa pesquisa e esperamos trabalhar com nossos colegas equatorianos, incluindo os Shuar e Achuar, para orientar qualquer trabalho futuro”, disse Poeta.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.