Pular para o conteúdo

Antigas ‘pegadas fantasmas’ pré-históricas nos EUA são uma ‘descoberta única na vida’

Traduzido por Julio Batista
Original de para a Live Science

Arqueólogos recentemente se depararam com um conjunto de misteriosas ‘pegadas fantasmas’ nas salinas de um deserto de Utah, nos EUA.

Esses vestígios antigos incomuns recebem seu nome misterioso não porque sejam de um reino sobrenatural e etéreo, mas devido à sua composição terrena: elas se tornam visíveis somente depois que chove e as pegadas se enchem de umidade e ficam mais escuras, antes de desaparecer novamente depois que secam ao sol.

Os pesquisadores descobriram acidentalmente as marcas incomuns no início de julho, enquanto dirigiam para outro sítio arqueológico próximo na Base Aérea Hill, no deserto do Grande Lago Salgado, em Utah.

A equipe inicialmente encontrou apenas um punhado de pegadas, mas uma varredura completa da área circundante usando radar de penetração no solo (GPR, no acrônimo inglês) revelou pelo menos 88 pegadas individuais pertencentes a uma variedade de adultos e crianças, potencialmente tão jovens quanto 5 anos de idade.

(A técnica de GPR funciona disparando ondas de rádio no solo que ricocheteiam em objetos que estão escondidos sob a superfície.)

As pegadas fantasmagóricas foram deixadas por pés humanos descalços há pelo menos 10.000 anos, quando a área ainda era um vasto pântano. No entanto, os pesquisadores suspeitam que os rastros podem datar de 12.000 anos atrás, durante o período final da última era glacial durante a época do Pleistoceno (2,6 milhões a 11.700 anos atrás).

As pegadas antigas. (Créditos: R. Nial Bradshaw)

A descoberta de tantas pegadas antigas é uma “descoberta única na vida”, disse Anya Kitterman, gerente de recursos culturais da Base Aérea Hill, que supervisionou o trabalho arqueológico, em comunicado. “Encontramos muito mais do que esperávamos.”

No entanto, a descoberta ainda não foi publicada em um periódico revisado por pares porque os pesquisadores ainda estão analisando as pegadas.

O Deserto do Grande Lago Salgado já foi coberto por um grande lago salgado semelhante ao vizinho Grande Lago Salgado – o maior lago de água salgada do Hemisfério Ocidental – que dá nome ao deserto.

O antigo lago secou lentamente devido a mudanças no clima da Terra desencadeadas pelo final da última era glacial, que deixou para trás os sais que antes eram dissolvidos na água.

Mas durante a transição do lago para as salinas secas, a área foi brevemente um grande pântano que foi ocupado por humanos até 10.000 anos atrás, de acordo com o comunicado.

Durante esse período, as condições teriam sido perfeitas para formar as pegadas fantasmas, disseram os pesquisadores.

As pessoas parecem estar andando em águas rasas, com a areia preenchendo rapidamente suas marcas atrás delas, assim como você pode experimentar em uma praia”, disse o pesquisador Daron Duke, arqueólogo do Far Western Anthropological Research Group, uma empresa privada especializada em gestão de recursos culturais, disse no comunicado.

“Mas sob a areia havia uma camada de lama que manteve a marca intacta após o preenchimento.”

Daron Duke mostra aos visitantes as antigas pegadas. (Créditos: R. Nial Bradshaw)

As pegadas foram preenchidas com sal à medida que os pântanos secaram, tornando-as indistinguíveis da paisagem circundante quando estão secas, acrescentou Duke.

Normalmente, quando chove, a água é rapidamente absorvida profundamente no sedimento circundante, o que significa que o solo volta rapidamente à sua cor normal. Mas quando a chuva cai sobre as pegadas lamacentas escondidas, a água fica presa, criando manchas de sedimentos escuros e úmidos que se destacam do ambiente.

A menos de 1,6 km de distância de onde as pegadas foram descobertas, um grupo de pesquisa anterior descobriu um acampamento de caçadores-coletores que data de 12.000 anos atrás, onde os humanos que deixaram as pegadas podem ter vivido.

Achados arqueológicos no local incluíam uma antiga fogueira, ferramentas de pedra usadas para cozinhar, uma pilha de mais de 2.000 ossos de animais e sementes de tabaco carbonizadas, que são as primeiras evidências do uso de tabaco em humanos.

Os pesquisadores envolvidos com a nova descoberta amostraram algumas das pegadas para determinar sua idade exata. Usando a datação por radiocarbono, os pesquisadores esperam poder analisar pequenos pedaços de material orgânico que podem ter ficado presos no sedimento pelo pé de quem deixou as pegadas, segundo o comunicado.

Esta região é um ponto central para pegadas humanas antigas. Em setembro de 2021, um estudo revelou que 60 pegadas humanas no Parque Nacional White Sands, no Novo México, datavam entre 21.000 e 23.000 anos atrás, tornando-as a “evidência inequívoca” mais antiga de humanos nas Américas. Essas pegadas também foram descobertas usando GPR.

“Há muito tempo nos perguntamos se outros locais como White Sands estavam por aí e se o GPR seria eficaz para imagens de pegadas em outros locais”, disse Thomas Urban, arqueólogo da Universidade Cornell que desenvolveu a técnica de pesquisa GPR usada em White Sands e, mais recentemente, em a Base Aérea Hill, em um comunicado.

“A resposta para ambas questões é sim.”

Os pesquisadores disseram que esses tipos de descobertas são importantes porque são evidências diretas de assentamentos humanos na área e são muito mais viscerais do que outras descobertas arqueológicas próximas.

“Há uma conexão humana imediata ao ver pegadas humanas”, disse Duke. “Vê-las de um passado distante, especialmente tão diferente do que parece hoje, pode ser impactante”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.