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Podemos estar à beira de uma pandemia de coronavírus. Aqui explicamos o que isso significa

Por Jonathan Lambert
Publicado na Science News

O surto de coronavírus que começou no final do ano passado na China agora se espalhou para 42 países, atingindo todos os continentes, exceto a Antártica. Enquanto a grande maioria dos casos ainda está na China, o vírus está ganhando espaço em outros países, aumentando o medo de que o mundo esteja à beira de uma pandemia. A Coreia do Sul viu quase 1.000 pessoas adoecerem apenas na última semana, enquanto as autoridades italianas da saúde disseram que 229 pessoas em todo o país foram diagnosticadas recentemente com a doença, agora chamada COVID-19.

Mas quem decide o que pode ser classificado como uma pandemia e o que isso significa? Aqui está o que sabemos até agora.

O que é uma pandemia?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pandemia é a disseminação mundial de uma nova doença. É mais frequentemente usado em referência à gripe (influenza) e geralmente indica que uma epidemia se espalhou para dois ou mais continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa.

A gravidade da doença não se enquadra na definição estrita de pandemia da OMS – apenas a disseminação da doença – embora a OMS possa levar em consideração o ônus geral da doença antes de declarar uma pandemia. Sendo a principal agência de saúde global, a OMS é a primeira a fazer a declaração de uma nova pandemia.

A COVID-19 é uma pandemia?

Apesar do alcance global da doença, a OMS até agora se recusou a declarar a pandemia de COVID-19.

“No momento, não estamos testemunhando a disseminação global não contida desse vírus e não estamos testemunhando mortes ou doenças graves em larga escala”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em 24 de fevereiro.

“Esse vírus tem potencial pandêmico? Absolutamente”, disse Ghebreyesus. “Já estamos lá? Na nossa avaliação, ainda não”.

Quando foi a última pandemia?

A última vez que a OMS declarou uma pandemia foi em 2009, por conta de uma nova cepa da gripe H1N1, que alguns pesquisadores estimam ter infectado 1 bilhão de pessoas nos primeiros seis meses e matado centenas de milhares no primeiro ano. Em comparação, mais de 2.700 pessoas morreram da COVID-19 desde que o vírus surgiu em dezembro.

A gripe espanhola de 1918 é a pior pandemia dos registros recentes; ceifou a vida de pelo menos 50 milhões de pessoas em todo o mundo, de 1918 a 1919.

História da pandemia

Uma pandemia é a propagação global de uma nova doença, de acordo com a OMS. O termo é usado com mais frequência em referência à gripe. Ao longo do século passado, ocorreram quatro pandemias de gripe, incluindo a mais recente de 2009–2010, conhecida como “gripe suína” ou pandemia de H1N1. A pandemia mais letal, com os primeiros casos em 1918, também foi causada por um vírus H1N1, de origem aviária. Embora muitas vezes chamada popularmente de gripe espanhola, não há consenso sobre a origem desse vírus. Estima-se que a pandemia de 1918 tenha causado cerca de 675.000 mortes nos Estados Unidos.

Número estimado de pessoas mortas em pandemias de gripe, 1900-2010

Crédito: Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

Qual a diferença entre uma pandemia e um surto ou epidemia?

Todas as pandemias começam com um surto de uma nova doença em uma localização geográfica específica. Se esse surto se tornar maior, mas ainda estiver confinado a uma região específica, ele se tornará uma epidemia. Nesse momento, a OMS pode declarar uma emergência de saúde pública de interesse internacional para aumentar a conscientização de que uma doença grave está se espalhando e pode afetar países vizinhos, mas, no final das contas, ainda pode estar contida. Quando uma doença se espalha globalmente, com várias epidemias em diferentes continentes, é uma pandemia.

Não está totalmente claro quando um surto cruza o limiar tênue para se tornar uma pandemia, de acordo com Amesh Adalja, médico de doenças infecciosas no Johns Hopkins Center for Health Security, em Baltimore (Estados Unidos). “Não há critérios rígidos para demarcação”, diz ele. “De certa forma, é um termo simbólico”.

Mas quando vários países ao redor do mundo relatam surtos sofridos pela transmissão de pessoa para pessoa que não podem mais estar diretamente ligados à fonte inicial, é uma pandemia, diz Adalja. “Acho que estamos nos estágios iniciais de uma pandemia, do ponto de vista de um médico de doenças infecciosas, e é apenas uma questão de tempo até que [a OMS] a declare oficialmente”.

Em janeiro, a OMS declarou o novo surto de coronavírus uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional, sinalizando à comunidade global que a COVID-19 era uma ameaça séria. Essa declaração permitiu à OMS fazer recomendações mais rigorosas, embora não vinculativas, aos países membros, em um esforço para conter o vírus e impedir que ele se tornasse uma pandemia.

Declarar uma pandemia não garante à OMS nenhum poder adicional. Mas sinaliza que esse vírus não pode mais ser contido em uma região ou regiões específicas e que os países podem optar por novos procedimentos para lidar com a COVID-19 e evitar medidas de contenção, como quarentenas excessivamente restritivas.

O que acontece se a OMS declarar COVID-19 uma pandemia?

O coronavírus que causa a COVID-19 chegou a esse ponto, ao contrário do SARS ou do MERS, porque se espalha de forma parecida com a gripe comum do que os vírus, mas de forma menos transmissível, diz Michael Osterholm, epidemiologista da Universidade de Minnesota em Minneapolis (Estados Unidos). “Tentar parar a transmissão da gripe é como tentar parar o vento”, diz ele. “A contenção [da COVID-19] nunca iria funcionar”.

Osterholm diz que, independentemente de a OMS declarar COVID-19 uma pandemia nos próximos dias, todos devemos mudar nossa mentalidade, para abandonar ideias de confinamento diante de um vírus que não pode ser impedido pelas restrições nas viagens. Embora essas medidas possam retardar temporariamente a propagação do vírus, elas são ineficazes a longo prazo, diz ele, e ainda podem levar a interrupções na rede de fornecimento de suprimentos médicos, grande parte da qual é produzida na China.

Em vez disso, Osterholm diz que os países devem se concentrar em minimizar o impacto da COVID-19. Isso pode ser um desafio, já que a maioria dos países não estão preparados para uma pandemia, de acordo com um estudo publicado no final de 2019 pela Johns Hopkins Center for Global Health Security. Após investigarem 195 países, os pesquisadores descobriram que a maioria dos países tinha sistemas insuficientes para detectar novas doenças e trabalhar de forma rápida e eficaz para conter disseminações ou cuidar dos doentes. Até os nove países mais preparados, incluindo o Canadá e os Estados Unidos, apresentaram lacunas significativas no preparo para lidar com essas ameaças.

Osterholm diz que o primeiro passo é proteger os profissionais de saúde e reforçar os sistemas de saúde para o possível esforço adicional de tratar casos críticos de COVID-19, além de casos rotineiros de gripe, ataques cardíacos e diagnósticos de câncer.

A grande maioria dos casos de COVID-19 serão leves, com algumas pessoas sem nenhum sintoma. Mas especialistas dizem que identificar indivíduos que correm maior risco de complicações graves ajudará os sistemas de saúde a triar recursos.

“Todos nós vamos superar isso”, diz Osterholm. “Mas como iremos superar será determinado apenas em parte pelo que o vírus poderá fazer. Também é uma questão de quão bem todos trabalhamos juntos para minimizar o impacto”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.