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Por que a NASA usa canetas no espaço? Aqui está a verdade!

Por Michelle Starr
Publicado n
o ScienceAlert

Uma história muito recorrente sobre a corrida espacial de meados do século 20 envolve o desenvolvimento das canetas espaciais.

Quando os humanos deixaram a superfície da Terra para o ambiente sem peso do espaço pela primeira vez na década de 1960, eles rapidamente descobriram que as canetas esferográficas projetadas para o ambiente de gravidade da Terra não eram tão eficazes no espaço. Já tentou escrever usando uma caneta esferográfica barata em uma superfície vertical? Não vai tão bem, não é?

A NASA, diz a lenda, gastou milhões de dólares desenvolvendo uma caneta esferográfica que funcionaria em um ambiente de microgravidade. Os cosmonautas russos, por outro lado, supostamente contornaram o problema usando lápis de grafite.

É uma anedota divertida e circula há décadas, percorrendo as caixas de entrada de e-mail das pessoas antes do surgimento das mídias sociais. Há apenas um grande problema. A história é, em sua maioria, falsa.

Inicialmente, astronautas e cosmonautas usavam lápis no espaço. A NASA gastou algum dinheiro pesquisando a viabilidade de uma caneta esferográfica projetada para uso no espaço, mas descartou o projeto logo no início, quando ficou claro que os custos aumentariam.

bloco de notas
Bloco de notas e lápis concedidos ao astronauta John Glenn para o primeiro voo espacial orbital tripulado da NASA a bordo do Friendship 7 em 1962. ( Smithsonian Institution )

A caneta Fisher Space Pen foi desenvolvida de forma independente por uma empresa privada, a Fisher Pens, com seu próprio dinheiro. E, uma vez que a Fisher Space Pen foi lançada para o mundo no final dos anos 1960, tanto os astronautas quanto os cosmonautas acabaram usando-a para todos os seus requisitos de escrita em microgravidade.

Mas por que tanto barulho em primeiro lugar?

Acontece que há certas coisas que você não quer flutuando no espaço. O detrito do lápis é um deles. A ponta pode se soltar, o que representa um perigo; mas você também não quer lascas de madeira inflamáveis ​​flutuando soltas em uma espaçonave, ou as partículas microscópicas de grafite eletricamente condutivo que se desprendem de um lápis enquanto ele escreve.

Quaisquer partículas minúsculas que possam se alojar em máquinas delicadas são um perigo no espaço, e as partículas que saem dos lápis são motivo de grande preocupação. O fogo, em particular, é um sério problema de segurança em espaçonaves, e a NASA não o trata levianamente depois que um incêndio matou todos os três membros da missão Apollo 1 em 1967.

As canetas esferográficas da época também eram perigosas. A primeira caneta esferográfica de sucesso comercial foi lançada em 1945 e as canetas, de acordo com o fundador da Fisher Pen Company , Paul C. Fisher, “vazavam por toda parte”. Gotas de tinta também não são algo que você realmente quer que flutue em uma cápsula espacial.

Os astronautas da Apollo usaram canetas hidrográficas feitas pela Duro Pen Company; na verdade, um deles salvou a missão Apollo 11 depois que um interruptor quebrou. Buzz Aldrin enfiou o cano de sua caneta no encaixe do interruptor quebrado, permitindo que o módulo partisse da Lua. (A Fisher Space Pens afirma que era uma Fisher Space Pen, mas Aldrin especifica que era uma caneta hidrográfica.)

escrevendo
O piloto do módulo lunar da Apollo 7 R. Walter Cunningham usando uma caneta Fisher no espaço em 1968. ( NASA )

Mas eles também usaram canetas esferográficas depois que Paul C. Fisher, juntamente com Friedrich Schächter e Erwin Rath, aperfeiçoaram a caneta espacial, registrando a primeira patente em 1965.

Como conta Fisher, a fórmula para consertar a tinta que vazava veio a ele em um sonho: “Meu pai havia morrido cerca de dois anos antes e, naquele sonho, ele veio até mim e disse: ‘Paul, se você adicionar uma quantidade mínima de rosina* para a tinta, isso vai parar o vazamento”. Eu disse ao químico sobre isso, e o químico riu! Ele disse que não iria funcionar. Ele tentou todos os tipos e quantidades de rosina*.

“Três meses depois, ele voltou para mim e disse que eu estava certo! Ele disse que estava tentando encontrar uma maneira de fazer a rosina* funcionar, mas então percebeu que eu quis dizer resina*! Ele usou resina a dois por cento e funcionou bem. Mesmo com 140 libras de pressão de ar atrás dele, não vazou.”

caneta
O comandante da Expedição 22, Jeff Williams, fazendo uma demonstração a bordo da Estação Espacial Internacional em 2010. Atrás dele, instrumentos de escrita de vários tipos podem ser vistos presos a um quadro com velcro. ( Escritório do Programa NASA-ISS )

Essas canetas usam cartuchos de tinta pressurizados e podem funcionar em uma variedade de condições nas quais uma caneta esferográfica normal teria problemas: temperaturas muito variadas, de cabeça para baixo, em superfícies gordurosas.

Fisher se ofereceu para vender essas canetas à NASA e, após testes rigorosos, a NASA decidiu comprá-las para futuras missões Apollo. A Fisher Space Pen estreou na Apollo 7 em 1968.

As Fisher Space Pens ainda estão em uso hoje, mas hoje em dia os astronautas e cosmonautas a bordo da Estação Espacial Internacional têm muito mais opções. Eles são fornecidos com canetas Sharpie com uma variedade de cores, bem como – sim – lápis. Do mecânico, lapiseiras ao invés da variedade de madeira.

Como explica o astronauta da NASA Clayton Anderson, “As lapiseiras são normalmente usadas pela tripulação para escrever em valores numéricos necessários para executar os procedimentos a bordo (tempos de queima, configurações do motor, etc.). A capacidade de apagar algo em seus procedimentos é necessária, especialmente se as situações mudarem, o que muitas vezes acontece.”

As pontas ainda podem quebrar; mas os avanços na tecnologia significam que o sistema de filtragem a bordo da Estação Espacial Internacional remove detritos potencialmente perigosos com bastante eficiência.

Estamos, verdadeiramente, vivendo em um futuro maravilhoso.

Notas

Nota do Tradutor: “Rosina” é o termo aportuguesado do termo “rosin” em inglês, o termo foi mantido e adaptado pra manter a fluidez e contextualização do texto, pois “rosin” em inglês é pronunciado de forma parecida com “resin“, tal semelhança e distinção é necessária pra entender a confusão do químico que levou a criação da caneta espacial, pois ao confundir “breu“, ou “rosina”,com “resina“, ou “resin”, ele acabou desenvolvendo um mecanismo pro funcionamento da caneta.*

Brendon Gonçalves

Brendon Gonçalves

Sou um nerd racionalista, e portanto, bastante curioso com o que a Ciência e a Filosofia nos ensinam sobre o Universo Natural... Como um autodidata e livre pensador responsável, busco sempre as melhores fontes de conhecimento, o ceticismo científico é meu guia em questões epistemológicas... Entusiasta da tecnologia e apreciador do gênero sci-fi na arte, considero que até mesmo as obras de ficção podem ser enriquecidas através das premissas e conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos diversos... Vida Longa e Próspera!