Cientistas alertam que devemos considerar um quadro maior do clima e não um intervalo pequeno de tempo para observar o impacto das alterações climáticas.
Caro EarthTalk: Todas estas enormes tempestades de gelo e neve em todo o país significam que o mundo não está realmente aquecendo? Eu nunca vi tal inverno! – Mark Franklin, Helena, MT
Argumentos ou dúvidas pertinentes como as do comentário acima, retirado do Earth Talk da revista Environmental Magazine, correlacionam o frio intenso que algumas regiões do planeta está sofrendo à uma possível refutação do aquecimento global. O fato é que o mundo está se aquecendo à medida que continuamos a bombear dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera, e extremos de frio em regiões e épocas isoladas não significam um comprometimento dos dados coletados durante uma grande quantidade de tempo e que indicam mudanças climáticas.
De acordo com a National Aeronautics and Space Administration (NASA), os 10 anos mais quentes registrados ocorreram desde 1997. E o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), relata que as últimas décadas foram as mais quentes desde pelo menos cerca de 1000 dC, e que o aquecimento que temos visto desde o final do século 19 não tem precedentes nos últimos 1.000 anos.
“Você não pode dizer muito sobre o clima ou onde ele está indo, concentrando-se em um dia particularmente frio, ou época, ou ano, mesmo”, escreve Eoin O’Carroll do Christian Science Monitor. “Está tudo nas tendências de longo prazo”, concorda o Dr. Gavin Schmidt, climatologista do Instituto Goddard da NASA para Estudos Espaciais.
A maioria dos cientistas concorda que é preciso diferenciar entre tempo e clima. A NOAA define clima como a média de tempo durante pelo menos um período de 30 anos. Aberrações periódicas como essas tempestades de inverno rigorosos que assolam muitos países (inclusive o Brasil) – não questionam a ciência do aquecimento global induzida pelo ser humano.
O outro lado da questão, é claro, é se o aquecimento global é, pelo menos em parte, culpado pelo clima de inverno especialmente rigoroso. Como foi falado em uma recente coluna do EarthTalk, as temperaturas mais quentes no inverno de 2006 fizeram com que o Lake Erie não congelasse, pela primeira vez em sua história. Isso realmente levou ao aumento da neve porque havia uma quantidade muito maior de água evaporada do lago disponível para a precipitação.
Mas enquanto eventos climáticos mais extremos de todos os tipos – desde tempestades de neve até furacões e secas – são efeitos colaterais prováveis de um clima em transição, a maioria dos cientistas sustentam que qualquer pequena variação do tempo ano-a-ano não pode estar ligada diretamente a qualquer um aquecimento ou resfriamento do clima.
Mesmo a maioria dos céticos do aquecimento global concordam que uma onda de frio específico ou tempestade não tem qualquer influência sobre se o problema do clima é real ou não. Um tal cético, Jimmy Hogan, do site da Rational Environmentalist escreve: “Se estamos jogando fora evidências anedóticas que refutam o aquecimento global, devemos ao mesmo tempo jogar fora evidências anedóticas que suportam isso.” Ele cita grupos ambientalistas sustentando o furacão Katrina como prova do aquecimento global como um exemplo deste último.
Ademais, todos nós devemos ter em mente que cada vez que ligamos o aquecedor neste inverno para combater o frio, estamos contribuindo para o aquecimento global por consumir mais energia de combustível fóssil. Enquanto não pudermos mudar a nossa economia sobre a fontes de energia mais verdes, o aquecimento global será um problema, independentemente de quão quente ou frio ele estiver lá fora.
Traduzido e adaptado de Scientific American.