Como este é um conhecimento que adquiri na universidade por várias fontes diferentes e este texto é relativamente informal, se comparado à padronização acadêmica, é provável que, ao procurar as fontes, não encontre todas de onde tirei a informação. Entretanto, por outro lado, estarei aberto a qualquer questionamento e colocarei uma recomendação de livro abaixo para quem deseja aprofundar-se mais no conhecimento da farmacologia.
Para entender a farmacologia do paracetamol (acetaminofeno), é importante o conhecimento da cascata do ácido araquidônico, que constitui uma série de processos bioquímicos extremamente conhecidos dentro da área de saúde, uma vez que é de suma importância para a existência dos processos inflamatórios (presente em várias doenças), através da produção dos eicosanoides. No entanto, quando os sintomas decorrentes de tais processos são prejudiciais o suficiente ao conforto do paciente, é necessário que seja feita uma intervenção medicamentosa.
O ácido araquidônico pode seguir dois caminhos diferentes, mediados, cada um, ou pelas enzimas lipoxigenases (LOX) ou cicloxigenases (COX). As COX vão originar prostaglandinas e a sua inibição será feita pelos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), que agirão de acordo com os isômeros das enzimas que as produzem, os quais mais conhecidos são COX-1 e COX-2. Para facilitar o entendimento, eis a esquematização mais didática que achei na internet, cujas palavras cognatas não serão um problema para quem não consegue ler na língua inglesa:
Todo fármaco precisa ser metabolizado, isso porque ele não pode ficar vagando livremente pelo corpo, uma vez que pode, de certa forma, tornar-se tóxico. Dois órgãos principais no processo de metabolização são o fígado e os rins.
O paracetamol é metabolizado no fígado de várias formas, porém, uma delas é imprescindível para que se entenda a sua toxicidade e é constituída por duas etapas. Na primeira etapa, ele é transformado em um metabólito MAIS TÓXICO, surpreendentemente, inclusive, muito mais tóxico ao próprio fígado. Ele precisa, então, passar por uma segunda etapa para ser eliminado nos rins. A questão é que essa segunda depende de uma substância chamada de glutationa, que também está presente em locais com inflamação. Sua quantidade precisa estar equilibrada em todo o corpo, porém, quando há uma inflamação, é como se uma boa parte fosse direcionada ao local onde ocorre tal reação, de modo que ela fica relativamente em falta em outros lugares. Então, ou o corpo usa a enzima na inflamação ou usa no metabolismo. Se não usar na inflamação, é provável que uma infecção se espalhe, então, na maioria das vezes, a glutationa é poupada no fígado. Assim, o metabólito mais tóxico do paracetamol começa a agredir esse órgão. Para melhorar a compreensão, tente acompanhar o destacado em vermelho na seguinte imagem:
Dessa forma, o uso do paracetamol não deve ser demasiadamente prolongado. Porém, isso não significa que seus efeitos benéficos devam ser ignorados (resolvi guardar essa informação para o final). Lembram de que eu havia falado que os AINEs agem bloqueando as enzimas COX-1 e COX-2? Pois bem, também existe um outro isômero, a COX-3, presente especialmente no hipotálamo e que exerce um efeito crucial no aumento da temperatura corporal durante a febre. O paracetamol, apesar de ter poucos efeitos analgésicos e anti-inflamatórios relativamente a outros fármacos de sua classe, é um potente anti-pirético, isto é, ajuda muito a diminuir a febre. Portanto, por mais que o seu uso prolongado possa, em algum momento, fazer mal, o seu consumo não deve ser evitado para situações específicos, pois, se bem aplicado, pode causar melhoras significativas ao seu consumidor. NÃO OBSTANTE, SEMPRE É BOM LEMBRAR: NUNCA FAÇA A AUTO-MEDICAÇÃO SE NÃO FOR COMPETENTE PARA ISSO.
Como prometido, eis a recomendação de livro para quem desejar o aprofundamento:
GOLAN, D. E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.