Por Steven Novella
Publicado no Neurologica
Estamos a poucos minutos de distância da maior aproximação da sonda New Horizons a Plutão, o mundo mais distante que temos explorado até agora. É um momento emocionante, não apenas para os aficionados por astronomia ou entusiastas da ciência, mas para a humanidade. Fico feliz em ver um nível adequado de excitação entre a mídia e o público em geral.
Ainda assim, algumas pessoas têm comentado o por que isso seria importante. Por isso, permitam-me um momento para explorar o assunto, porque eu acredito que isso seja um projeto muito grande.
Em primeiro lugar, não esqueçamos o quanto tempo ele levou para chegar lá. New Horizons é a coisa mais rápida que os seres humanos já construíram. Ela chegou a lua em 8 horas e 35 minutos, e fez uma viagem de 5 bilhões de quilômetros (ou 5 terrametros, como diria o meu amigo Metric Maven). Em seu caminho ele girou em torno de Júpiter para obter um impulso gravitacional.
E depois de 10 anos e toda essa distância, ela finalmente está chegando exatamente onde os cientistas queriam – bem no meio do alvo, o sistema de Plutão. Sabemos que isso é verdade, porque estamos sendo recompensados com imagens próximas, de alta definição, de Plutão, Caronte e suas outras luas.
Pense sobre as implicações desse fato. Essa é uma validação impressionante não só da astronomia e da física, mas da própria ciência. Nenhuma outra ferramenta intelectual desenvolvida por seres humanos tem alcançado um sucesso tão grande. Nem radiestesista, vidente ou espiritualista poderia ter adivinhado as informações necessárias para orientar a sonda. Nenhum astrólogo poderia ter nos dado essa informação. A alquimia não poderia ter alimentado os foguetes de maneira tão poderosa e precisa.
Como Carl Sagan disse:
“Ciência entrega a mercadoria.“
A missão New Horizons também é um momento transcendental para a humanidade. A sonda não representa apenas o aumento do conhecimento dos norte-americanos sobre Plutão, mas do conhecimento do mundo. Todo mundo começa a se beneficiar, começa a olhar as belas imagens desse mundo congelado. Todo mundo tem um pouco de melhor apreciação para a escala do universo e o nosso lugar nele.
Isso será lembrado como uma conquista da nossa espécie, de nossa civilização, e do poder da ciência. Essa é uma das coisas que eu mais respeito sobre a ciência – ou seja, a sua universalidade e transparência.
New Horizons também representa o puro prazer da descoberta. Por que eu quero saber o que realmente se parece com Plutão? Porque ele está lá, e eu quero saber. Minha curiosidade chama por ele e quer satisfação. Porque amamos os mistérios, e agora temos mais alguns – as faixas escuras em Plutão, o que são? Qual foi o processo que as fez? Por que elas são tão uniformes?
E não vamos esquecer os benefícios da pura ciência básica. Nem sempre podemos prever como o conhecimento científico básico se traduzirá em um benefício concreto, mas isso é apenas a parte de um ponto. Não sabemos. Encontramos coisas lá fora porque estamos nos capacitando, é bom saber. O conhecimento tem uma forma de cascata, levando a mais conhecimento, maior introspecção, vemos melhor os padrões no tecido da realidade que não tínhamos considerado. O conhecimento é benéfico para o seu próprio bem, mesmo que um pouco de conhecimento em si não seja diretamente útil. Os benefícios indiretos são incalculáveis.
E pode haver algum benefício direto. Saber como os planetas se formam e evoluem pode ser bastante útil para a nossa espécie.
A sonda New Horizons é uma promessa cumprida, e não nos decepcionou. Sua missão também não acabou. Agora ela está se aventurando na escuridão do cinturão de Kuiper. Essa é uma das regiões exteriores do Sistema Solar, um lugar ainda onde nós não exploramos. Quem sabe o que encontraremos lá.