O senso comum, levado por certas ideias relativistas, começou a entender o adjetivo “positivista” como uma ofensa, ou algum tipo de xingamento. Não que isso seja muito comum, mas que acontece e é visível a acepção pejorativa associada ao termo. Os divulgadores de ideias pró-ciência são eventualmente rotulados com essa alcunha, dentre outras usadas. Vejo necessidade em desmitificar esse preconceito, com o intuito de otimizar o entendimento do que seja ele realmente. A abordagem principal aqui será a histórica, para que entendamos como surgiu o termo.
Criado no século XIX pelo sociólogo e filósofo francês Auguste Comte, com o intuito de introduzir os ideais de “ordem” e “progresso”, inicialmente nos círculos acadêmicos, posteriormente na sociedade em geral. Ele propôs a rejeição de aspectos sobrenaturais, se calcando nas bases do empirismo de David Hume e largamente no ideal Iluminista. Sua ideia principal consiste na Lei dos Três Estados, que fraciona o conhecimento em três etapas fundamentais, que são estas:
• Teológico (ou Religioso): Explicação dos fenômenos da natureza com base nas crenças sobrenaturais. Comte considerou o monoteísmo como a expressão superior desta etapa. Uma vez superada, essa etapa daria espaço para o conhecimento ou estado metafísico;
• Metafísico: Nesta etapa, são utilizados não mais conceitos sobrenaturais para explicar os fenômenos, mas conceitos ou “forças” abstratas, imanentes. Conceitos entendidos como absolutos. Se superada, esta etapa daria espaço para o então chamado conhecimento Positivo;
• Positivo (ou Científico): A filosofia positiva aqui se encontra, sendo empregada de forma a organizar as ciências. A ciência seria então regida pela precisa descrição dos fenômenos, com o sentido de estabelecer leis ou princípios gerais a todas as ciências.
O positivismo é muitas vezes encarado como uma vertente radical do empirismo, que preza pela evidência e pelo entendimento puramente material da realidade. Embora seja aceita essa interpretação, não é factível que o próprio Comte enxergasse o positivismo desse modo, sendo este situado entre o empirismo (o saber obtido pela experiência) e o racionalismo, tido como “misticismo” por ele. A aquisição formal e definitiva do conhecimento se dá pela passagem progressiva nas três etapas. O “estágio final”, segundo Comte, seria o positivo, que por sua vez culminaria no máximo entendimento humano.
Assim surge o conceito, dentro de um contexto histórico e social conturbado, de intensa oposição entre o tradicionalismo teológico, baseado nos ideais religiosos da época, e o desenvolvimento científico que crescia na época, com forte participação do naturalismo de pessoas como Charles Darwin, Alfred Russel Wallace e T. H. Huxley.
Referências
- Dicionário Escolar de Filosofia.
- Nova Enciclopédia Barsa. Macropédia, volume 11.
Para saber mais: Aula sobre o Positivismo e o surgimento da Sociologia enquanto ciência.