Pular para o conteúdo

Possíveis compostos orgânicos encontrados nas rochas de uma cratera de Marte

Traduzido por Julio Batista
Original de Hayley Dunning para o Colégio Imperial de Londres

Um estudo publicado na Science analisa várias rochas encontradas no fundo da Cratera Jezero em Marte, onde o rover Perseverance pousou em 2020, revelando uma interação significativa entre as rochas e a água líquida. Essas rochas também contêm evidências consistentes com a presença de compostos orgânicos.

A existência de compostos orgânicos (compostos químicos com ligações carbono-hidrogênio) não é evidência direta de vida, pois esses compostos podem ser criados por meio de processos não biológicos. Uma missão futura devolvendo as amostras à Terra seria necessária para determinar isso.

O estudo, liderado por pesquisadores do Caltech, foi realizado por uma equipe internacional, incluindo pesquisadores do Colégio Imperial.

O professor Mark Sephton, do Departamento de Ciências e Engenharia da Terra do Colégio Imperial, é membro da equipe científica que participou das operações do rover em Marte e considerou as implicações dos resultados. Ele disse: “Espero que um dia essas amostras possam ser devolvidas à Terra para que possamos observar as evidências de água e possível matéria orgânica e explorar se as condições eram adequadas para a vida no início da história de Marte”.

Água em movimento

O Perseverance já havia encontrado compostos orgânicos no delta de Jezero. Deltas são formações geológicas em forma de leque criadas na interseção de um rio e um lago na borda da cratera.

Os cientistas da missão estavam particularmente interessados ​​no delta de Jezero porque tais formações podem preservar microorganismos. Os deltas são criados quando um rio que transporta sedimentos de granulação fina entra em um corpo de água mais profundo e lento. À medida que a água do rio se espalha, ela desacelera abruptamente, depositando os sedimentos que carrega e prendendo e preservando os microrganismos que possam existir na água.

No entanto, o fundo da cratera, onde o rover pousou por razões de segurança antes de viajar para o delta, era mais um mistério. Nos leitos dos lagos, os pesquisadores esperavam encontrar rochas sedimentares, porque a água deposita camada após camada de sedimento. No entanto, quando o rover pousou lá, alguns pesquisadores ficaram surpresos ao encontrar rochas ígneas (magma resfriado) no fundo da cratera com minerais que registravam não apenas processos ígneos, mas contato significativo com a água.

Esses minerais, como carbonatos e sais, requerem água para circular nas rochas ígneas, cavando nichos e depositando minerais dissolvidos em diferentes áreas como buracos e rachaduras. Em alguns lugares, os dados mostram evidências de compostos orgânicos dentro desses nichos potencialmente habitáveis.

Descoberto por SHERLOC

Os minerais e possíveis compostos orgânicos co-localizados foram descobertos usando o instrumento SHERLOC, ou Scanning Habitable Environments with Raman & Luminescence for Organics & Chemicals (Varredura de Ambientes Habitáveis com Raman e Luminescência para Produtos orgânicos e Químicos, na tradução livre).

Montado no braço robótico do rover, o SHERLOC está equipado com várias ferramentas, incluindo um espectrômetro Raman que usa um tipo específico de fluorescência para analisar compostos orgânicos e também ver como eles estão distribuídos em um material, fornecendo informações sobre como eles foram preservados naquele local.

Bethany Ehlmann, coautora do paper, professora de ciência planetária e diretora associada do Instituto Keck Institute de Ciências Espaciais, disse: “As capacidades de imagem composicional microscópica do SHERLOC realmente abriram nossa capacidade de decifrar a ordem temporal dos ambientes passados de Marte”.

À medida que o rover avançava em direção ao delta, ele coletou várias amostras das rochas ígneas alteradas pela água e as armazenou para uma possível futura missão de retorno de amostras. As amostras precisariam ser devolvidas à Terra e examinadas em laboratórios com instrumentação avançada para determinar definitivamente a presença e o tipo de matéria orgânica e se têm algo a ver com a vida.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.