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Autismo: meta-análise encontra poucas evidências que apoiem intervenções alimentares

Tradução de matéria publicada por Jyoti Madhusoodanan no portal Spectrum em 28 de outubro de 2019.

Dietas especiais que eliminam certos alimentos ou que envolvam suplementos têm um impacto mínimo nos traços do autismo, de acordo com uma revisão de dados de 27 ensaios clínicos.[1]

Muitas famílias com crianças autistas perguntam a seus médicos sobre essas intervenções, acreditando que elas podem ajudar a melhorar traços do autismo, como comportamentos repetitivos. No entanto, a meta-análise mostra que há pouca ou nenhuma evidência científica que apoie a maior parte dessas dietas. Apenas alguns suplementos, como os ácidos graxos ômega-3 e as vitaminas B6, B12, C, D e ácido fólico, parecem oferecer pequenas melhorias em relação a placebos.

“Começamos este trabalho por uma necessidade clínica”, disse a pesquisadora Mara Parellada, professora de psiquiatria da Universidade Complutense de Madri, na Espanha. “Vimos em primeira mão o número de intervenções que as famílias estavam tentando e queríamos documentar os benefícios”.

O novo estudo é o primeiro a avaliar quantitativamente os benefícios das dietas para o autismo. Especialistas dizem que a meta-análise é um recurso valioso. “A literatura científica a respeito das intervenções alimentares e suplementos para o autismo está em toda parte”, disse Bradley Ferguson, professor assistente de pesquisa em psicologia da saúde da Universidade do Missouri, que não participou do estudo. O novo trabalho “nos permite começar a sondar quais delas podem ser eficazes”.

Quebra-cabeças Alimentar:

Os pesquisadores vasculharam três grandes bancos de dados internacionais – Ovid Medline, Embase e PsycINFO – em busca de ensaios clínicos de intervenções alimentares para o autismo. A análise final incluiu 27 estudos e 1.028 pessoas autistas de 2 a 60 anos. Cerca de metade dos participantes recebeu intervenções nutricionais; o resto recebeu placebos. As dietas duraram em média 10,6 semanas.

Parellada e seus colegas dividiram e agruparam as dietas entre aquelas com suplementação e aquelas que cortam alimentos específicos. Eles analisaram o impacto dessas dietas nas principais características do autismo, como comportamentos repetitivos, bem como nos traços relacionados, como ansiedade e impulsividade.

Apenas os suplementos de ômega-3 e vitaminas parecem funcionar marginalmente melhor do que o placebo no alívio dessas características. Os resultados apareceram na edição de 4 de outubro da Pediatrics.

Mas a meta-análise agrupou suplementos em uma única categoria. Identificar quais são mais eficazes, e em quais doses, exigirá mais estudos. No geral, 75% dos estudos não levaram em consideração possíveis intolerâncias alimentares dos participantes ou deficiências nutricionais existentes. E, finalmente, os testes abrangeram diferentes faixas etárias, tornando difícil apontar com que idade as pessoas respondem melhor.

“A mesma intervenção comportamental não tem o mesmo efeito em indivíduos púberes versus crianças muito pequenas”, disse Parellada. “Precisamos fazer mais para estudar intervenções nutricionais em crianças muito pequenas também.”

Cortar glúten e caseína da dieta está entre as mudanças alimentares mais comuns que as famílias com crianças autistas fazem, disse ela, mas apenas um estudo analisado avaliou esses nutrientes.

Como os dados cumulativos cobrem uma gama diversificada de intervenções e traços comportamentais, as descobertas devem ser interpretadas com cautela, disse Zachary Warren, professor adjunto da Universidade Vanderbilt em Nashville, Tennessee, que não participou do trabalho.

No geral, os estudos analisados usaram mais de 200 instrumentos diferentes para medir os efeitos de coquetéis de suplementos.

“Este estudo me soa como um chamado por ensaios clínicos mais bem projetados”, disse Ferguson. “Os futuros ensaios clínicos que busquem avaliar os efeitos de intervenções alimentares precisam coletar outros biomarcadores”.

Por exemplo, medir biomarcadores de inflamação — que podem diminuir em resposta ao ômega-3 — poderia revelar por que esses suplementos aliviam traços como a ansiedade e quem é mais provável que se beneficie dos suplementos.

Referências:

  1. Fraguas D. et al.