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Prêmio Nobel de Química vai para descoberta de um novo método de visualizar biomoléculas

Jauqes Dubochet, Richard Henderson e Joachim Frank. (Créditos: El País)

Por Daniel Mediavilla
Publicado na El País

A Academia Real das Ciências da Suécia concedeu o Prêmio Nobel de Química para Jacques Dubochet (Aigle, Suíça, 1942), Joachim Frank (Siegen, Alemanha, 1940) e Richard Henderson (Edimburgo, Reino Unido, 1945), por suas contribuições no desenvolvimento de tecnologias para gerar imagens tridimensionais das moléculas da vida, algo que já está servindo para entender melhor os processos biológicos, como as infecções e os nossos ciclos de sono. Nas palavras da academia, o mérito da equipe foi o “desenvolvimento da microscopia crioeletrônica para a determinação em alta-resolução da estrutura de biomoléculas em solução“.

A estrutura das moléculas está diretamente relacionada ao que elas são capazes de fazer e conhecê-las e fotografá-lo ajuda a entender suas funções. A microscopia crioeletrônica permitiu congelar essas biomoléculas em movimento e torná-las uma foto com resolução atômica.

Como relata a nota emitida pela academia, esta tecnologia permitiu observar com precisão desde as proteínas que conferem resistência a quimioterapias contra o câncer ou antibióticos que usamos contra infecções, até a operação dos complexos moleculares que regulam o relógio circadiano (que recebeu o Nobel Medicina este ano) ou os mecanismos pelos quais a luz é capturada durante a fotossíntese. Em um caso muito prático mencionado, lembra-se que, quando os pesquisadores começaram a suspeitar que o vírus Zika foi a causa da epidemia de bebês nascidos com anormalidade cerebral no Brasil, eles usaram a microscopia crioeletrônica para obter fotografias do vírus. Graças às imagens tridimensionais que obtiveram, foram capazes de começar a procurar remédios para combater a infecção.

Até 1990, acreditava-se que os microscópios eletrônicos só eram possíveis ser usados ​​para obter imagens de matéria morta porque os feixes de elétrons destruíam a matéria viva. No entanto, nesse ano, Richard Henderson, pesquisador do Laboratório de Biologia Molecular MRC em Cambridge, Reino Unido, conseguiu usar um desses dispositivos para gerar uma imagem tridimensional de uma proteína com resolução atômica.

Joachim Frank, da Universidade de Columbia, Nova Iorque, EUA, incorporou avanços que fizeram a tecnologia ultrapassar a dos testes iniciais, desenvolvendo um método para o processamento de imagens bidimensionais desfocadas obtidas por microscopia eletrônica, analisando e combinando-as para para obter uma estrutura tridimensional bem definida.

Finalmente, Jacques Dubochet da Universidade de Lausanne na Suíça foi responsável por controlar o papel da água no processo. No vácuo de um microscópio eletrônico, a água líquida evapora e faz com que as biomoléculas percam a forma original. No início da década de 1980, Dubochet conseguiu vitrificar a água em um método que a congela suficientemente rápido para se solidificada em torno de uma molécula biológica e manter sua estrutura natural mesmo no vácuo do microscópio eletrônico.

“Eu acho que é maravilhoso; uma imagem visual é um componente essencial da compreensão, muitas vezes o primeiro que abre nossos olhos e mentes para um avanço científico “, disse a bióloga britânica da Universidade de Cambridge Magdalena Zernicka-Goetz em um dos comentários reunidos pela Science Media Center após o anúncio do prêmio. “Esse avanço na biologia estrutural tem sido transformador. Para dar um exemplo, no ano passado, publicamos a estrutura tridimensional da estrutura enzimática que produz amilóide do Alzheimer usando essa tecnologia. Conhecer essa estrutura oferece a possibilidade de um projeto racional para medicamentos nesta área “, disse John Hardy, neurocientista do University College de Londres.

Nos próximos dias, a Academia Sueca anunciará os vencedores do Nobel da Literatura*, o da Paz e o da Economia. A data do anúncio do prêmio em Literatura foi a única ausente nos anúncios dos seis Nobel, onde a Academia Sueca tradicionalmente costuma anunciar alguns dias antes da decisão, que sempre acontece em uma quinta-feira. O vencedor do ano passado foi Bob Dylan, em uma das eleições mais controversas dos últimos tempos.

Este ano, cada prêmio é dotado de nove milhões de coroas suecas (cerca de 940.000 euros ou 1,1 milhão de dólares), que serão compartilhados caso o prêmio for dividido em vários vencedores. O processo eleitoral é o mesmo em todas as categorias: cientistas, acadêmicos e professores universitários apresentam indicações e vários comitês do Nobel criam as seleções para escolher o vencedor ou vencedores, até três por prêmio.

NOTA: O prêmio foi anunciado na quinta (5 de outubro de 2017) para Kazuo Ishiguro, autor britânico de origem japonesa das obras “Os vestígios do dia” e “Não me abandone jamais”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.