Publicado na BBC
Não é restrito o conhecimento da Segunda Guerra Mundial. Provavelmente, todos os leitores desse site sabem que seu acontecimento foi bastante importante para o rumo do século XX e suas consequências são vistas até os dias de hoje. Certamente, também saibam que Adolf Hitler foi uma das principais personagens do evento. A crueldade de suas ideias em prol de uma raça superior não teve limites. Várias pessoas foram dizimadas tendo uma utopia como justificativa.
Hitler, além de ter participado da Segunda Guerra Mundial, participou, também, da Primeira. Os resultados nefastos dela (como o Tratado de Versalhes) provocaram um sentimento de revolta tanto nele quanto no povo alemão (o que facilitou sua ascendência). No entanto, Hitler poderia não ter feito nada disso. Pouca gente sabe, mas, na Primeira Guerra, o futuro ditador supostamente se deparou com a morte ao ter um soldado britânico com a arma apontada para sua cabeça. O nome dele era Henry Tandey, posteriormente, condecorado como herói de guerra.
A história foi relatada por Hitler ao ter recebido uma visita do então Primeiro-Ministro Britânico Neville Chamberlain. Ele alegou que, na Primeira Guerra, Tandey e alguns colegas pouparam uma certa quantidade de alemães, recusando-se a matá-los pelo fato de estarem desarmados e feridos. Dentre tais, estava Hitler.
“Aquele homem chegou tão perto de me matar que achei que nunca veria a Alemanha novamente”, disse Hitler.
Durante a visita, Chamberlain notou que, no retiro de Hitler, havia um quadro na parede, descrevendo, supostamente, a Batalha de Menin, em 1914. Um dos soldados retratados parecia ser o Tandey. O museu Howards Green confirmou que havia, realmente, uma cópia de um retrato sob posse de Hitler, feita pelo pintor Fortunino Matania.
O museu tem, também, uma carta de agradecimento do assessor de Hitler, Capitão Fritz Weidemann: “O Führer é, naturalmente, interessado em registros relacionados às suas próprias experiências de guerra. Ele esteve, obviamente, exaltado quando mostrei essa pintura a ele”.
No entanto, há controvérsias. A história também é uma ciência e, portanto, não basta apenas analisar um relato para tomar determinada coisa como um fato. Hitler, aparentemente, queria reconhecer um soldado que ele havia conhecido durante a Primeira Guerra, mas, na realidade, a pintura trata-se de uma batalha que aconteceu em 1914 (enquanto o que estamos falando deva ter acontecido por volta de 1918).
Dr. David Johnson, biógrafo de Henry Tandey, lança mais dúvidas ao conteúdo. Ele diz que, mesmo que as datas se compactuem, o soldado Tandey estava bastante ferido, com muitos sangramentos, tornando-se, pois, quase irreconhecível, ao contrário do que mostra a pintura. Ainda, Dr. Johnson alega que não há nenhuma forma dos dois terem cruzado o mesmo caminho.
Em 17 de Setembro, a tropa de Hitler estava 80 quilômetros ao norte de Tandey. O encontro aconteceu, supostamente, em 28 de Setembro de 1918, enquanto Hitler estava partindo em retirada entre 25 e 27 de Setembro.
“Hitler pode ter, simplesmente, inventado a história. Principalmente, porque Henry Tandey foi um dos soldados britânicos mais condecorados da guerra”, diz Dr. Johnson. “Se ele tiver estado à beira da morte perante um soldado, quem melhor para ser tal do que alguém que ganhou as medalhas Victoria Cross, Military Medal e Distinguished Conduct Medal em apenas uma semana?”.
Dr. Johnson faz, ainda, outro questionamento acerca da história de Chamberlain. Supostamente, o primeiro-ministro, ao chegar em seu país, fez uma ligação para Tandey, visando a contar o que havia visto quando estava com Hitler. Aparentemente, um dos seus sobrinhos que atendeu à ligação. Mesmo assim, ainda há dúvidas sobre se essa ligação aconteceu. Primeiro, porque Chamberlain era um homem muito ocupado, que, provavelmente, não ligaria apenas para contar isso. Segundo, porque acha-se que Tandey não tinha nenhum telefone.
A história, mesmo assim, persistiu, vindo á tona em 1938. Tandey foi mencionado por um oficial que tinha contatos com Chamberlain.
Tandey não comentou sobre o assunto, mas disse que, realmente, poupou soldados em 1918.
“De acordo com eles, eu conheci Hitler”, disse Handey, em 1939, ao falar, dessa vez, diretamente sobre o assunto. “Talvez, estejam certos, mas eu não me lembro dele”.
Um ano depois, no entanto, ele pareceu mais convicto. “Se eu soubesse ao menos o que Hitler iria se tornar”.
“Quando vejo todas as crianças e mulheres que Hitler matou, peço perdão a Deus por tê-lo deixado ir”.
No entanto, as únicas evidências do que estamos discorrendo são anedotas, nada mais do que isso. Então, a história ainda permanece incerta.