Pular para o conteúdo

Problemas dentários geram problemas no coração e aumentam inflamação

A periodontite é um problema dentário, causado por uma resposta inflamatória crônica a um biofilme periodontal. Essa ocorrência compromete os tecidos de suporte ao redor dos dentes (osso alveolar, ligamento periodontal) causando perda dentária. Essa doença inflamatória representa um grande problema de saúde pública, com uma estimativa de mais de 790 milhões de pessoas em todo o mundo afetadas por esse quadro.

Estudos recentes demonstraram que os efeitos deletérios da periodontite não se restringem à cavidade oral, mas também podem afetar a saúde geral dos indivíduos. Um crescente número de evidências associou a inflamação periodontal a doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença vascular aterosclerótica. Além disso, foi postulado que essa relação pode ser tanto indireta, ou seja, via fatores de risco compartilhados, quanto direta, ou seja, através da translocação de bactérias orais para a corrente sanguínea, provocando uma resposta inflamatória generalizada.

A pesquisa conduzida na Universidade de São Paulo, USP, publicada na Scientific Reports, realizou avaliação ecocardiográfica do desempenho cardíaco, quantificação miocárdica de citocinas inflamatórias e avaliação hemodinâmica em modelos experimentais de animais com periodontite.

De acordo com os resultados, a perda óssea encontrada em camundongos submetidos a ligadura dentária mostrou que o modelo de periodontite examinada era direto. A avaliação da frequência cardíaca e variabilidade da pressão arterial, importantes variáveis hemodinâmicas, função cardíaca (ecocardiografia) e concentrações de citocinas (atividade inflamatória) do miocárdio revelou o impacto da periodontite no sistema cardiovascular neste modelo experimental de periodontite.

Os níveis basais de pressão arterial não foram diferentes entre os grupos periodontite e controle. No entanto, entre os principais achados, destaca-se considerável prejuízo do sistema nervoso autônomo devido à alta variabilidade da pressão arterial.

Dentro desse contexto, é importante destacar que, clinicamente, a alta variabilidade da pressão arterial é associada à disfunção do sistema nervoso autônomo, caracterizado por aumento da atividade do sistema nervoso simpático, aumentando o risco de eventos cardiovasculares.

Referência

  • Ribeiro, A.B., Santos-Junior, N.N., Luiz, J.P.M. et al. Cardiovascular and Autonomic Dysfunction in Murine Ligature-Induced Periodontitis. Sci Rep 10, 6891 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-020-63953-1
Vitor Engrácia Valenti

Vitor Engrácia Valenti

Graduado em Fisioterapia pela UNESP/Marília. Doutorado em Ciências pela UNIFESP com Sandwich na University of Utah. Pós-Doutor em Fisiopatologia pela USP e Livre-Docente pela UNESP/Marília. É Prof. Adjunto de Fisiologia e Morfofisiopatologia na UNESP/Marília. Membro do corpo editorial da Scientific Reports, da Frontiers in Physiology, da Frontiers in Neuroscience e da Frontiers in Neurology. Coordenador do Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo. Contato: vitor.valenti@unesp.br