O Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) é o maior laboratório de Física de Partículas do mundo. Lá que a World Wide Web (www) foi criada e também onde a presença do bóson de Higgs foi confirmada.
Professores brasileiros do Ensino Médio (EM) transformaram o sonho de conhecer o CERN em realidade ao participarem de um projeto denominado Escola de Física CERN.
Neste artigo, tratarei do programa que leva professores de Física do EM brasileiro ao CERN, do relato de alguns dos professores que participaram e, claro, um pouco do funcionamento do que talvez seja o maior empreendimento humano. Como base de informações, tenho o livro “Nós, professores brasileiros de Física do Ensino Médio, estivemos no CERN”, publicado pela Livraria da Física em conjunto com a SBF (Sociedade Brasileira de Física).
O CERN e a Física de Partículas
Criado em 1954 para recuperar a ciência da Europa, desnorteada pela Segunda Guerra Mundial, o CERN tem como proposta fazer pesquisa fundamental de maneira pública, sem fins militares. Suas principais instalações ficam na fronteira da Suíça com a França.
Dispondo de muitos físicos, engenheiros e técnicos, o CERN tem construído aceleradores que transferem cada vez mais energia às partículas. Detectores, que analisam o resultado das colisões entre partículas, também compõem uma parte importante para o empreendimento, afinal, experimentos sem registros não fazem sentido.
O LHC (Large Hadron Collider) é o mais recente acelerador de partículas feito por lá. Com um perímetro de cerca de 27 quilômetros, construído abaixo do solo, sob a região de Genebra, ele tem como objetivo fornecer prótons com grande velocidade (alta energia) e fazê-los colidir entre si em pontos específicos – onde ficam os experimentos que farão a detecção das partículas resultantes dessas colisões.
Nas palavras de Nilson M. Dias Garcia, coordenador da Escola de Física CERN: “Compondo o atual sistema de detecção das partículas resultantes da colisão de prótons, ao longo da trajetória do LHC existem quatro experimentos principais, o CMS, o ALICE, o LHCB e o ATLAS, também projetados e construídos por consórcios internacionais de pesquisa, envolvendo universidades, laboratórios e pesquisadores de diversas partes do mundo. Obras magníficas da Física, da Engenharia e da tecnologia, cada um deles tem dimensões de dezenas de metros em comprimento, largura e altura e milhares de toneladas em estrutura e equipamentos de detecção, e são conectados a um também sofisticado e complexo sistema de eletrônica e de análise de dados, que produz conhecimentos que permitem melhor estudar, dentre outros aspectos, as interações entre as partículas, a matéria, a antimatéria, a matéria escura.”
A Escola de Física CERN
O projeto ambiciona levar professores de Física do EM ao CERN, de modo que tenham contato com a atual ciência e tecnologia em pesquisa fundamental. Vale ressaltar que a intenção não é dar uma formação em Física de Partículas aos participantes, mas motivá-los para que atuem como multiplicadores, incentivando cada vez mais alunos a ingressarem em Física ou Engenharia. Inspirar os cientistas de amanhã é uma missão vital do CERN, afinal, eles precisam de capital intelectual para responder ao que não se tem resposta, bem como questionar o que já se tem.
É comum que os alunos, sobretudo do EM, vejam a ciência como algo muito distante, só para gênios. Isso fica mais gritante quando se trata de áreas muito dependentes de recursos tecnológicos. As grandes questões que hoje assolam a Física de Partículas (Buracos Negros, Estrutura da Matéria, Matéria Escura, Energia Escura, Assimetria Matéria-antimatéria, Violação de Carga-paridade, etc.) são apenas termos exóticos que não possuem nenhum significado à maioria deles. Aqui entra o professor, que, preparado pela Escola de Física CERN, pode criar uma trilha para seus alunos caminharem com menos dificuldades por esses temas – talvez assim fazendo com que desenvolvam profundos laços, dando origem a futuros pesquisadores.
A Escola de Física CERN constitui num programa criado pelo setor de educação do CERN destinado a professores do EM dos seus países membros. Os participantes têm palestras, fazem visitas técnicas, participam de debates sobre as pesquisas em Física de Partículas, realizam atividades experimentais, visitam museus temáticos e até participam de atividades culturais não relacionadas à ciência.
Foram realizadas seis Escolas de Física CERN até o ano de 2014, com a participação de 143 professores de Física que atuam no EM brasileiro. A seguir, uma lista com títulos de palestras dadas nas turmas até 2014:
“Matéria e antimatéria: o detector LHCb e a participação brasileira”, pelo prof. Ignacio Bediaga do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), para a turma de 2009.
“Estatísticas em Física de Partículas e a participação brasileira no CERN”, ministrada à turma de 2010 por Vitor Oguri, professor pesquisador da UFRJ.
Na escola de 2011, houve a participação de dois palestrantes brasileiros: a professora Carla Gobel, da PUC-RJ, falando sobre “Assimetria matéria-antimatéria, violação de CP e a participação brasileira no CERN” e também o professor Alberto Santoro, do CBPF e da UERJ, que falou sobre “A Física de Partículas e o Brasil”.
Em 2012, novamente palestrou o prof. Ignacio Bediaga, agora em “A Assimetria Matéria-Antimatéria e o LHCb”. No mesmo ano, o prof. Ronald Cintra Shellard, também do CBPF, fez a palestra de encerramento da edição do programa falando sobre “A importância da descoberta do bóson de Higgs”.
Denis Oliveira Damazio, vinculado ao Brookhaven National Laboratory e que trabalha no ATLAS, palestrou sobre as “Visitas virtuais ao ATLAS” na edição de 2014.
Estes exemplos dão uma noção do que foi e do que é a Escola de Física CERN.
Não poderia terminar este artigo sem parabenizar a SBF (Sociedade Brasileira de Física) por organizar este projeto que, a meu ver, valoriza a docência e tira da inércia os professores interessados.
Se você está no Ensino Médio, não esqueça de mostrar este artigo ao seu professor de Física, independente do que ache das aulas dele.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GARCIA, Nilson Marcos Dias (Org.). Nós, professores brasileiros de Física do Ensino Médio, estivemos no CERN. São Paulo: Livraria da Física, 2015. 542 p.
REFERÊNCIAS WEBGRÁFICAS
SBF (Brasil) (Ed.). Escola de Física CERN. Disponível em: <http://www.sbfisica.org.br/v1/escolacern/index.php/home/sobre-a-escola>. Acesso em: 19 abr. 2016.
BRAZ JÚNIOR, Dulcidio. Nós Estivemos no CERN. 2015. Disponível em: <http://fisicanaveia.blogosfera.uol.com.br/2015/01/26/nos-estivemos-no-cern/>. Acesso em: 01 maio 2016.
ALBINO JÚNIOR, Amadeu. Mago da Física – Aos Professores de Física (Convocação Escola de Física CERN 2013).2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2441SkL7njU>. Acesso em: 10 abr. 2016.