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Quais países e cidades desaparecerão devido ao aumento do nível do mar?

Por Joe Phelan
Publicado na Live Science

O nível do mar está subindo rapidamente. A taxa em que está subindo mais que dobrou, de 1,4 milímetros por ano durante a maior parte do século 20 para 3,6 milímetros por ano de 2006 a 2015, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA).

A NOAA prevê que os níveis do mar provavelmente subirão pelo menos 0,3 m acima dos níveis vistos em 2000 no início do próximo século, enquanto o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas estima que eles subirão de 40 e 63 centímetros até 2100.

Se o nível do mar subir a esse ponto, pode causar estragos em todo o mundo. Cerca de 250 milhões de pessoas, em todos os continentes, podem ser “diretamente afetadas” até 2100, de acordo com um estudo de 2019 da revista Nature Communications.

Então, algum desses países, cidades ou estados desaparecerá inteiramente em nosso século, e há algo que possa ser feito para evitar um desastre?

“Se cidades ou países irão desaparecer depende se nós, como humanos, estamos fazendo algo para neutralizar a ameaça”, disse Gerd Masselink, professor de geomorfologia costeira da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, à Live Science por e-mail. “A maior parte da Holanda já está abaixo do nível do mar, mas não está desaparecendo, porque os holandeses estão construindo e mantendo suas defesas costeiras”.

Quais países serão mais afetados?

Primeiro, vamos olhar para os países com as elevações mais baixas.

De acordo com a organização sem fins lucrativos União de Cientistas Preocupados (UCS, na sigla em inglês), as Maldivas, compostas por 1.200 pequenas ilhas de coral e que abrigam cerca de 540.000 pessoas, são o país mais plano da Terra, com uma altitude média de apenas 1 m. Se as Maldivas experimentarem um aumento do nível do mar na ordem de apenas 45 cm, perderão cerca de 77% de sua área terrestre até 2100, de acordo com a UCS.

Outro país com uma altitude média extremamente baixa – cerca de 1,8 m acima do nível do mar – é Kiribati. Esta pequena ilha no coração do Pacífico, com uma população de cerca de 120.000 habitantes, pode perder dois terços de sua terra se o nível do mar subir 0,9 m.

O aumento do nível do mar é uma ameaça para Male, a capital das Maldivas. Observe as defesas costeiras já instaladas. Créditos: Niromaks via Getty Images.

Na verdade, quase todas as pessoas que vivem em uma ilha do Pacífico provavelmente serão severamente afetadas pelo aumento do nível do mar. Cerca de 3 milhões de habitantes de ilhas do Pacífico vivem a 10 km da costa e, portanto, podem precisar se mudar antes do final do século, de acordo com a Science and Development Network, uma organização sem fins lucrativos focada em facilitar o aprendizado científico.

O aumento do nível do mar já levou ao desaparecimento de pelo menos cinco “ilhas de recifes vegetadas” que anteriormente faziam parte das Ilhas Salomão, com “mais seis ilhas experimentando uma severa recessão na costa”, de acordo com um estudo de 2016 na revista Environmental Research Letters.

Essas ilhas do Pacífico, embora muito ameaçadas, tendem a ter populações relativamente pequenas. Então, quais nações maiores podem ser as mais atingidas?

O país onde a maioria das pessoas será potencialmente afetada pela mudança do nível do mar é a China, com 43 milhões de pessoas em locais costeiros precários. Outros países sujeitos a enfrentar grandes problemas relacionados ao aumento do nível do mar incluem Bangladesh, onde 32 milhões de pessoas estarão em risco até 2100, e a Índia, com 27 milhões, de acordo com o projeto Life Adaptate, financiado pela União Europeia.

Assim, enquanto vários países ao redor do mundo estão prontos para ver as consequências do aumento do nível do mar em primeira mão até o final do século e muitos milhões de pessoas serão afetadas, parece improvável que quaisquer países, mesmo aqueles com altitudes muito baixas, desapareçam inteiramente até 2100 – embora possa ser apenas uma questão de tempo até que alguns sejam consumidos pelo oceano.

Cidades costeiras

Embora nenhum país seja provavelmente devorado pelo mar até 2100, várias grandes cidades correm um risco muito sério de serem inundadas. Um dos exemplos mais claros do aumento do nível do mar causando dificuldades significativas atualmente é Jacarta, a capital da Indonésia.

Jacarta, lar de cerca de 10 milhões de pessoas, foi apelidada pela BBC de “a cidade que mais rápido se afunda do mundo”; está afundando de 5 a 10 cm por ano devido à “drenagem excessiva das águas subterrâneas”, de acordo com Earth.org, uma organização ambiental sem fins lucrativos com sede em Hong Kong.

Quando combinado com o aumento do nível do mar, esta é uma receita para o desastre. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, grande parte de Jacarta pode estar submersa até 2050. Na verdade, a situação de Jacarta é tão terrível que está sendo substituída como capital da Indonésia por Nusantara, uma cidade a ser construída em breve na costa leste de Bornéu, cerca de 2.000 km de Jacarta.

Mas Jacarta está longe de ser a única cidade com futuro incerto. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, em 2100, Daca, Bangladesh (população de 22,4 milhões); Lagos, Nigéria (população de 15,3 milhões); e Bangkok, na Tailândia (com 9 milhões de habitantes), também pode ser totalmente inundada ou ter vastas extensões de terra submersas e inutilizáveis.

Uma rua inundada em um bairro residencial pobre no coração da cidade de Jacarta, na Indonésia. Créditos: AsianDream via Getty Images.

O aumento do nível do mar também provavelmente afetará significativamente os Estados Unidos. Com base em projeções recentes, muitas cidades dos EUA podem enfrentar sérios problemas até 2050, com vastas áreas de terra potencialmente inabitáveis.

De acordo com a NOAA, “em muitos locais ao longo da costa dos EUA, as inundações de maré alta são agora 300% a mais de 900% mais frequentes do que há 50 anos”, o que sugere que o nível do mar é um motivo real de preocupação.

A cidade de Nova York está em maior risco, de acordo com pesquisas da Climate Central. O relatório afirma que, até 2050, quase meio milhão (426.000) nova-iorquinos estarão vivendo em “terra ameaçada”. A vulnerabilidade de Nova York às inundações foi vista claramente em 2012, quando a cidade foi fortemente impactada pelo furacão Sandy. Pelo menos 43 pessoas na cidade morreram como resultado da supertempestade, cerca de um quarto de milhão de veículos foram destruídos e houve pelo menos US$ 32 bilhões em “danos e perdas”, disse o então governador Andrew Cuomo na época, segundo o site Politico.

No entanto, em termos de suscetibilidade a inundações, a Flórida parece ser o estado mais atingido. De acordo com a pesquisa da Climate Central, 36 das 50 cidades dos EUA que são mais vulneráveis ​​às inundações costeiras estão no estado do sudeste estadunidense.

Estamos condenados?

Então, o que pode ser feito? Essas cidades e países estão condenados ou podem ser salvos?

Países que investem em infraestrutura, como a Holanda, podem evitar alguns efeitos das inundações. Mas alguns investimentos, como os propostos na Flórida, não podem ser aplicados em todos os lugares. Por exemplo, a restauração de manguezais, como sugerido pela The Nature Conservancy, e a expansão de recifes de coral, são viáveis ​​apenas em certas regiões climáticas. Além disso, tais medidas são caras.

Autoridades do condado de Miami-Dade, na Flórida, anunciaram recentemente uma estratégia de mitigação que envolverá “elevar casas e estradas”, além de criar espaços abertos que permitirão a ocorrência de inundações sem danificar a infraestrutura, segundo o The New York Times.

No entanto, esses planos não foram recebidos com elogios universais. Alguns especialistas, como Rob Moore, analista sênior de políticas do Conselho de Defesa de Recursos Naturais dos EUA, disse ao New York Times que “não tem certeza se isso está realmente lidando com os problemas que estão no futuro de Miami”, enquanto outros sugeriram que o propostas “minimizaram a magnitude da ameaça”.

Em outros lugares da Flórida, houve conversas sobre se é economicamente viável, ou vale a pena, tentar proteger toda a infraestrutura, com sugestões de que poderia ser melhor aceitar a derrota em algumas regiões, de acordo com um estudo publicado pela Yale Climate Connections, uma mídia apartidária focada nas mudanças climáticas.

Em 2100, em Bangladesh, 32 milhões de pessoas enfrentarão grandes problemas relacionados ao aumento do nível do mar. Aqui já vemos os efeitos das enchentes em Daca, Bangladesh. Créditos: Stockbyte via Getty Images.

Embora países como os Estados Unidos possam investir em projetos de proteção costeira – e tenham a capacidade de aprender por tentativa e erro – a maioria das nações em desenvolvimento não tem o mesmo luxo. Quando comparado a países como Holanda e Estados Unidos em termos de poder financeiro para implementar tais projetos, “Bangladesh não está em uma posição tão afortunada”, disse Masselink.

Portanto, um fator-chave para determinar se uma cidade ou país desaparecerá não é necessariamente a taxa de aumento do nível do mar, mas mais a capacidade de uma cidade ou país de resolver o problema e desenvolver defesas de longo prazo.

“Um país de baixa altitude, mas politicamente estável e próspero, pode ficar bem nas próximas décadas, mas um país de baixa altitude, instável e pobre não será capaz de manter o mar afastado”, disse Masselink. “Isso, portanto, expõe particularmente cidades e países de baixa altitude como nações subdesenvolvidas”.

Com isso em mente, como será nosso planeta daqui a 100 anos?

“Isso é realmente difícil de prever, pois além da taxa incerta de aumento do nível do mar – que depende fortemente de nossas emissões de gases de efeito estufa – o principal fator é como as nações e a sociedade pretendem mitigar o aumento do nível do mar”, completa Masselink.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.