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Quantos anos de antecedência precisaríamos para impedir a chegada de um asteroide assassino?

Por Morgan McFall-Johnsen e Aylin Woodward
Publicado no Business Insider

No mês passado, especialistas da NASA e de outras agências espaciais ao redor do mundo enfrentaram um cenário hipotético preocupante: um misterioso asteroide tinha acabado de ser descoberto a 56 milhões de quilômetros de distância e estava se dirigindo para a Terra. Esperava-se que a rocha espacial atingisse o planeta em seis meses.

A situação era fictícia, parte de um exercício de uma semana que simulou a chegada de um asteroide para ajudar os especialistas estadunidenses e de outros países a praticar como responder a tal situação.

A simulação ensinou ao grupo uma dura lição: se um asteroide em direção à Terra fosse avistado tão em cima da hora, não há nada que alguém pudesse fazer para impedi-lo de atingir o planeta.

Os especialistas determinaram que nenhuma tecnologia existente poderia impedir o asteroide de colidir com o planeta, dada a janela de seis meses do cenário. Não existe uma espaçonave capaz de destruir um asteroide ou empurrá-lo para fora de sua trajetória que pudesse sair do solo e voar até a rocha nesse período de tempo.

Paul Chodas, gerente do Centro de Estudos de Objetos Próximos da Terra da NASA, ajudou a hospedar a simulação recente, bem como cinco anteriores semelhantes. Ele disse que este exercício preparou os participantes para o fracasso.

“É o que chamamos de cenário de alerta com pouca antecedência”, disse ele ao Insider. “Foi, em conceito, muito desafiador”.

Na realidade, se um asteroide como aquele fictício estivesse se dirigindo para a Terra, os cientistas precisariam de anos – não meses – de aviso. Cinco anos é o mínimo, de acordo com Chodas. Outros, como o astrônomo do MIT Richard Binzel, dizem que precisaríamos de pelo menos uma década.

“O tempo é a mercadoria mais valiosa que você poderia desejar, se confrontado com uma ameaça real de asteroide”, disse Binzel à Insider.

Mas os cientistas não conseguiram identificar a maioria das rochas espaciais perigosas que passam perto de nosso planeta, o que diminui as chances de obtermos um período de aviso de cinco ou dez anos. Em 2005, o Congresso tentou resolver esse problema determinando que a NASA encontrasse e rastreasse 90% de todos os objetos próximos à Terra de 140 metros ou maiores. Com esse tamanho, os asteroides podem destruir uma cidade do tamanho de Nova York. Mas, até o momento, a NASA avistou apenas cerca de 40% desses objetos.

“O que isso significa é que, por enquanto, estamos contando com a sorte para nos manter a salvo de grandes impactos de asteroides”, disse Binzel. “Mas sorte não é um plano”.

Para defender um planeta, ‘conheça o seu inimigo’

Na simulação recente da NASA, os cientistas participantes não sabiam o quão grande era o asteroide hipotético até uma semana antes de ser confirmado para atingir a Terra.

“Não sabíamos se o objeto tinha 35 metros ou 500 metros de largura. E isso faz uma grande diferença”, disse Sarah Sonnett, pesquisadora do Instituto de Ciência Planetária que participou do exercício, ao Insider.

Um asteroide de 35 metros pode explodir na atmosfera e enviar ondas de choque aos arredores. Um asteroide de 500 metros pode dizimar uma cidade, afetando uma área do tamanho da França.

Portanto, uma parte crucial para impedir que um asteroide atinja a Terra é entender o máximo possível sobre a rocha. Isso inclui seu tamanho, a trajetória que ele percorre ao redor do sol e do que é feito. Com essas informações, os cientistas podem avaliar estratégias para destruir a rocha ou interromper sua trajetória.

“Leva tempo para conhecer o seu inimigo”, disse Binzel.

Idealmente, disse Sonnett, os cientistas seriam capazes de estudar um asteroide perigoso ao passar pela Terra algumas vezes em sua órbita ao redor do Sol, antes que essa trajetória o aproxime o suficiente para colidir com nosso planeta. Observar um asteroide passando várias vezes pode levar anos ou mesmo décadas.

Etapa 2: Destrua ou desvie o asteroide

A NASA tem três ferramentas principais em seu arsenal de defesa planetária. O primeiro é detonar um dispositivo explosivo perto de um asteroide que se aproxima para dividi-lo em pedaços menores e menos perigosos. A segunda é disparar lasers que podem aquecer e vaporizar a rocha espacial o suficiente para mudar sua trajetória orbital. O terceiro é enviar uma nave espacial para colidir com o asteroide, tirando-o de sua trajetória.

A NASA está prestes a testar essa última estratégia. Seu Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo enviará uma sonda ao asteroide Dimorphos na primeira metade de 2022 e o atingirá propositalmente.

Mas qualquer uma das três opções, disse Chodas, levaria anos.

“Normalmente, é um longo processo de vários anos ir do conceito para realmente ter uma espaçonave em um veículo de lançamento – sem falar do fato de que você ainda tem que navegar para chegar ao seu destino e desviar o asteroide”, disse ele.

Depois disso, demoraria um ou dois anos para que a trajetória do asteroide em torno do Sol mudasse o suficiente para levá-lo para longe da Terra. É por isso que a linha do tempo é importante: quanto mais cedo os cientistas puderem identificar uma rocha espacial perigosa, menos ambiciosa terá que ser uma missão de deflexão.

Mas é claro, todos esses métodos são inúteis se ninguém sabe que o asteroide está chegando.

“Acho que o melhor investimento é em conhecimento. O melhor investimento é saber o que está lá fora”, disse Binzel.

Isso significa completar um catálogo de objetos próximos da Terra que podem danificar o planeta.

NASA está desenvolvendo um telescópio espacial para rastrear asteroides

A NASA está planejando uma missão para rastrear asteroides que são muito escuros para serem vistos pelos telescópios na Terra. A missão NEO Surveyor, como é conhecida (NEO significa ‘objeto próximo à Terra’, acrônimo do inglês Near-Earth Object), lançaria um telescópio infravermelho na órbita da Terra em 2026. Sonnet está na equipe da missão.

“Se fizermos o trabalho agora de encontrar esses objetos e rastreá-los, conhecendo suas órbitas, sabendo para onde eles estão indo e, em seguida, caracterizando seus tamanhos, então devemos estar em boa forma”, disse ela.

Se o telescópio for lançado e funcionar conforme planejado, ele deve cumprir o objetivo do Congresso da NASA para encontrar 90% dos objetos próximos da Terra mais perigosos.

Mas, por cinco anos, o NEO Surveyor foi pego no “limbo infernal das missões da NASA”, como disse Binzel. Devido ao financiamento insuficiente, não passou da fase inicial de desenvolvimento.

Sonnett cruzou os dedos para que a missão NEO Surveyor se saísse bem em uma análise que está por vir. No final deste mês, a NASA avaliará se a missão está pronta para avançar para a próxima fase. Nesse caso, a equipe poderia começar a construir protótipos e desenvolver hardware e software. Do contrário, o lançamento do telescópio pode ser atrasado ainda mais.

“Como agora temos a capacidade de detectar e saber o que está lá fora, acho que cientificamente temos a responsabilidade moral de obter essas informações”, disse Binzel. “Seria injusto que fôssemos pegos de surpresa, por um impacto de asteroide que poderíamos ter previsto”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.