Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
Cientistas relataram ter obtido algum sucesso no uso de ultrassom focalizado de baixa intensidade para “reanimar” partes do cérebro de pessoas em estado semelhante ao coma, despertando novamente certas funções em pacientes que estavam anteriormente em um “estado de consciência mínima” (ECM).
O método usa estimulação de ultrassom para excitar os neurônios no tálamo, um centro de organização cerebral e uma região que é conhecida por se tornar mais fraca após um coma. Duas sessões de tratamento de 10 minutos foram dadas a três pacientes com ECM, com uma semana entre cada sessão.
Enquanto um paciente não mostrou resposta, os pesquisadores observaram melhorias significativas nos outros dois pacientes. A pesquisa se baseia em descobertas semelhantes de 2016, envolvendo um paciente que estava se recuperando de uma cirurgia e de um coma induzido. No novo estudo, os estados semelhantes ao coma duraram muito mais tempo.
Uma pessoa em um estado minimamente consciente pode mostrar sinais de consciência claros, mas sutis ou inconsistentes. Esses sinais, como piscar ao comando ou despertar, geralmente são sustentados o suficiente para não serem vistos como comportamentos reflexivos e ajudam a diferenciar ECMs de coma ou estados vegetativos.
“Eu considero este novo resultado muito mais significativo porque esses pacientes crônicos eram muito menos propensos a se recuperar espontaneamente do que o paciente em um caso agudo que tratamos em 2016 – e qualquer recuperação normalmente ocorre lentamente ao longo de vários meses e mais tipicamente anos, não ao longo de dias e semanas, como mostramos”, disse o neurocientista Martin Monti, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), nos EUA.
“É muito improvável que nossas descobertas se devam simplesmente à recuperação espontânea”.
Um dos pacientes que responderam ao tratamento foi um homem de 56 anos, que estava em um estado minimamente consciente por mais de 14 meses, incapaz de se comunicar. Após o tratamento, ele não só podia olhar para as fotos dos parentes quando seus nomes eram mencionados, como também soltar ou agarrar uma bola quando solicitado. Quando lhe perguntavam questões simples sobre sua identidade, ele conseguia balançar a cabeça “sim” ou “não”.
A outra paciente a mostrar sinais de progresso, uma mulher de 50 anos, estava em um ECM ainda mais profundo por mais de dois anos e meio. Após as sessões de ultrassom, ela foi capaz de entender a fala e reconhecer objetos básicos, incluindo um lápis e um pente.
Os pesquisadores dizem que a técnica é segura, pois usa apenas uma pequena quantidade de energia e não houve alterações na pressão arterial, na frequência cardíaca ou nos níveis de oxigênio no sangue dos pacientes.
“É isso que esperávamos, mas é impressionante ver com seus próprios olhos”, disse Monti. “Ver dois de nossos três pacientes que estavam em uma condição crônica melhorar muito significativamente poucos dias após o tratamento é um resultado extremamente promissor”.
É importante ressaltar que a pesquisa ainda está em uma fase inicial e experimental. Embora a mulher de 50 anos tenha mostrado aumentos nos sinais de consciência meses depois, as diferenças para o ECM inicial não foram tão significativas. E depois de alguns meses sem tratamento, o homem de 56 anos havia retornado a algo próximo ao seu estado original de coma. Podemos relembrar, também, do único paciente que não respondeu ao tratamento.
Os pesquisadores permanecerão cautelosos sobre o sucesso do ultrassom e a rapidez com que pode ser implantado. No entanto, esses resultados são muito encorajadores – há sinais definitivos de que esse tipo de tratamento pode ajudar alguns pacientes em algum momento.
O tratamento pode ser aplicado em um dispositivo do tamanho de um pires, e os pesquisadores esperam que ele possa eventualmente ser usado de forma doméstica em pacientes que estão em estado de consciência mínima ou vegetativo por muito tempo.
“É importante ressaltar que esses comportamentos são marcadores diagnósticos da emergência de um distúrbio de consciência”, disse Monti. “Para esses pacientes, o menor passo pode ser muito significativo – para eles e suas famílias. Para eles, significa o mundo”.
A pesquisa foi publicada na Brain Stimulation.