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Reconstrução facial revela que o ‘retrato de uma múmia’ egípcia foi fiel, exceto por um detalhe

Por Laura Geggel
Publicado na Live Science

Logo após a virada do primeiro milênio depois de Cristo, uma criança que vivia no Egito contraiu uma doença mortal – provavelmente pneumonia – e morreu. Seu corpo pequeno foi preparado para a mumificação e sepultamento. Alguns de seus órgãos foram removidos, seus restos mortais foram embrulhados em faixas de linho entrecruzadas e um retrato de seu rosto foi afixado na frente de sua múmia.

O assim chamado “retrato de múmia” fazia parte de uma tradição popular entre alguns egípcios na época greco-romana, desde o primeiro ao terceiro século depois de Cristo. Mas quão fiéis eram esses retratos? Para descobrir, uma equipe de cientistas da Áustria e da Alemanha fez uma tomografia computadorizada do corpo desse menino e criou uma reconstrução digital em 3D de seu rosto.

Os resultados mostram que o retrato era bastante fiel, exceto por um aspecto – o artista fazia a criança parecer mais velha do que seus 3 ou 4 anos de idade.

“O retrato mostra traços um pouco ‘mais velhos’, que podem ter sido resultados de uma conveniência artística da época”, disse ao Live Science o pesquisador-chefe do estudo Andreas Nerlich, diretor do Instituto de Patologia da Academia Clínica de Munique-Bogenhausen, na Alemanha, por e-mail.

Este único retrato, no entanto, não revela se era uma prática comum dos antigos artistas egípcios fazerem os jovens parecerem mais velhos em seus retratos de múmias.

Múmias de crianças

Dos cerca de 1.000 retratos de múmias recuperados do Egito greco-romano, apenas cerca de 100 ainda estão afixados à múmia. Para o projeto – o primeiro a comparar o retrato de múmia de uma criança do antigo Egito com sua reconstrução facial – os pesquisadores escolheram a múmia desse menino, encontrada na década de 1880 em um cemitério próximo à pirâmide de Hawara, a sudoeste do Cairo. A múmia de 78 centímetros de comprimento, que data de algum tempo entre 50 a.C. a 100 d.C., agora está abrigada no Museu Egípcio de Munique.

A equipe de tomografia computadorizada escaneou a múmia – e examinou radiografias tiradas da múmia em 1984 – para que pudessem criar uma imagem digital 3D do corpo do menino. A tomografia computadorizada revelou que o cérebro do menino e alguns de seus órgãos abdominais foram removidos, uma prática comum durante a mumificação no antigo Egito. O desenvolvimento dos ossos e dentes revelou a idade do menino ao morrer, provavelmente de pneumonia, de acordo com os pesquisadores, que notaram “resíduos de tecido pulmonar condensado” na tomografia computadorizada, disse Nerlich.

Em seguida, os pesquisadores se concentraram no rosto do menino. O retrato do menino mostra “cabelos cacheados entrelaçados em duas mechas de cabelo que vão do topete às orelhas”, escreveram os pesquisadores no estudo. “O indivíduo tem olhos grandes e castanhos, nariz comprido e fino e uma boca pequena com lábios carnudos. Um colar com um pequeno medalhão está pendurado no pescoço”.

Para reconstruir a espessura adequada da pele, os pesquisadores confiaram em padrões de crianças modernas entre 3 e 8 anos de idade. Muito do rosto recriado foi baseado no formato de seu crânio e dentes, enquanto a pele do menino, a cor e o estilo de cabelo foram baseados na pintura, disseram os pesquisadores.

A reconstrução facial foi “muito semelhante” ao retrato, pois as dimensões da testa à linha dos olhos e a distância do nariz à boca “eram exatamente as mesmas presentes tanto no retrato, como na reconstrução”, escreveram os pesquisadores no estudo. “No entanto, existiam diferenças entre a largura da ponte nasal e o tamanho da abertura da boca, com ambos sendo mais esguios e ‘estreitos’ no retrato do que na reconstrução virtual”.

Os dois são tão semelhantes que o retrato “deve ter sido feito brevemente antes ou depois de sua morte”, disse Nerlich.

Esse nem sempre foi o caso para retratos de múmias. Estudos anteriores de indivíduos adultos cujas múmias eram afixadas com retratos mostram que, embora alguns sejam muito semelhantes à realidade, outros não eram; uma múmia de um homem mais velho com uma barba branca mostrava um retrato do homem quando ele era jovem, enquanto outra conhecida como “a múmia de Glyptothek” tinha um retrato de uma pessoa totalmente diferente, com base nas proporções do crânio, pesquisas anteriores reveladas.

O estudo foi publicado online em 16 de setembro na revista PLOS One.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.