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Relatos de pessoas queimando ‘espontaneamente’ podem ter uma explicação um tanto macabra

Traduzido por Julio Batista
Original de Paola Rosa-Aquino para Business Insider

Em dezembro de 2010, um homem de 76 anos morreu queimado no chão de sua sala na Irlanda.

Quase um ano depois, um legista determinou oficialmente que ele havia morrido de um fenômeno peculiar, informou o Irish Independent – combustão humana espontânea.

Esse fenômeno, como foi entendido ao longo dos séculos, envolve um corpo que entra repentinamente em chamas sem ser incendiado por uma fonte externa.

Os legistas normalmente se deparam com uma cena em que as mãos e os pés da vítima estão intactos, enquanto o torso e a cabeça são reduzidos a cinzas, disse Roger Byard, patologista da Universidade de Adelaide, ao Insider. Móveis próximos geralmente são minimamente danificados.

Mas se a combustão humana espontânea é um fenômeno real, acrescentou Byard, por que não acontece com mais frequência? Ele disse que aproximadamente 200 relatos de tais eventos ocorreram nos últimos 300 anos.

“A realidade é que as pessoas entram em combustão – mas não espontaneamente”, disse Byard.

Bombeiros removeram os escombros do local onde o corpo desintegrado de uma mulher foi encontrado em seu apartamento na Flórida, EUA, em 1951. (Créditos: Youtube/Moonlit Sapphire)

Combustão humana ‘espontânea’ ao longo dos séculos

No século XVII, um especialista em anatomia dinamarquês descreveu o primeiro caso conhecido de combustão humana espontânea.

Veio da Itália no final do século 14, quando um cavaleiro chamado Polonus Vorstius bebeu vinho uma noite antes de entrar em chamas.

A ideia de um humano subitamente envolvido em chamas era frequentemente associada ao consumo excessivo de álcool.

Charles Dickens alimentou as chamas desse mito escrevendo sobre ele em seu romance de 1853 “A Casa Soturna”. Nele, um personagem chamado Krook, que era alcoólatra, pega fogo espontaneamente e morre queimado.

Outros, ao longo dos anos, atribuíram o fenômeno a uma visita de Deus, obesidade ou gases intestinais.

Mas Byard disse que essas teorias não têm muito peso científico.

Embora a combustão humana seja plausível e precisa para vários relatos, disse ele, a ideia de que isso acontece espontaneamente é um equívoco: “Sim, os corpos das pessoas queimam, mas não há absolutamente nenhuma prova de que isso ocorra como uma combustão espontânea”.

Praticamente todos os relatos envolveram uma fonte externa para as chamas, acrescentou Byard. Os culpados mais comuns são cigarros acesos, lâmpadas ou velas.

Uma ilustração de uma edição de 1895 de “A Casa Soturna” de Charles Dickens, retratando a descoberta do corpo de Krook. (Créditos: A Casa Soturna (Bleak House) de Charles Dickens, MacMillan and Co, New-York London, 1895, página 402)

A ciência diz que os corpos podem agir como uma vela

A explicação científica predominante para a combustão humana espontânea é conhecida como efeito pavio, que propõe que os humanos podem agir como as velas.

Em 1998, como parte de um programa de televisão da BBC, cientistas do Reino Unido replicaram condições semelhantes com um porco morto. Eles enrolaram o porco em um cobertor antes de incendiá-lo. Os pés do porco permaneceram quase intactos – exatamente o resultado de muitos casos relatados de combustão humana espontânea.

A teoria do pavio sugere que a gordura age como uma fonte de combustível, e um corpo humano é mantido em chamas por meio de sua própria gordura após ser incendiado. Cobertores e roupas, por sua vez, agem como um pavio de vela.

“Você pode imaginar pessoas enroladas em cobertores, bebendo destilados – e derramando os destilados, que basicamente agem como um combustível de petróleo ou gasolina”, disse Byard. “O que acontece é que eles jogam um cigarro nessa enorme poça de álcool, que então se inflama e queima muito lentamente. Sabemos que a gordura pode realmente queimar em temperaturas muito baixas”.

Como as mãos e os pés têm menos gordura, eles não fornecem combustível suficiente para serem totalmente consumidos pelas chamas.

“As pessoas estão acreditando no mito urbano”, disse Byard. “O mecanismo subjacente é muito, muito mais simples do que a intervenção divina.”

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.