Pular para o conteúdo

Restos de um morcego-vampiro gigante de 100.000 anos são encontrados em caverna argentina

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

A mandíbula de um morcego que viveu 100.000 anos atrás foi confirmada como pertencente a uma espécie extinta de morcego-vampiro gigante.

A descoberta da mandíbula da espécie Desmodus draculae, encontrada em uma caverna na Argentina, está ajudando a preencher as enormes lacunas na história desses animais incríveis e pode fornecer algumas pistas de por que esses morcegos foram extintos.

Os morcegos hoje são extremamente diversificados. Eles constituem cerca de 20 por cento de todas as espécies de mamíferos conhecidas, o que é realmente uma parte considerável, depois de prosperar há cerca de 50 milhões de anos.

Você pode pensar, portanto, que o registro fóssil está cheio de morcegos, e que mapear sua história evolutiva e diversificação teria muitos dados em que se basear.

Você estaria errado. O registro fóssil de morcegos é notoriamente escasso e irregular. O que significa que cada descoberta é valiosa – especialmente quando se trata de morcegos-vampiros.

Impressão artística de D. draculae na toca de uma preguiça-gigante. Crédito: Museu de Miramar.

“Eles são a única família de morcegos no mundo que desperta a curiosidade das lendas da Transilvânia e de seu assustador Conde Drácula”, disse o paleontólogo Mariano Magnussen, do Laboratório Paleontológico do Museu Miramar de Ciências Naturais da Argentina.

“Mas na realidade são animais pacíficos que se alimentam de sangue de animais, e às vezes de humanos, por alguns minutos sem causar desconforto… A única coisa ruim é que podem transmitir raiva ou outras doenças se estiverem infectados. Certamente seus representantes pré-históricos tiveram comportamentos semelhantes”.

Hoje, apenas três das cerca de 1.400 espécies de morcegos conhecidas são morcegos-vampiros, ou Desmodontinae – aqueles que se alimentam exclusivamente do sangue de outras criaturas, conhecidas como hematófagos.

Todos os três só podem ser encontrados na América Central e do Sul: o morcego-vampiro comum (Desmodus rotundus), o morcego-vampiro-de-perna-peluda (Diphylla ecaudata) e o morcego-vampiro-de-asa-branca (Diaemus youngi).

Essas três espécies parecem intimamente relacionadas, o que sugere que a hematofagia só evoluiu uma vez nos morcegos e que todas as espécies de morcegos-vampiros – existentes e extintas – divergiram de um ancestral comum.

Fósseis de espécies extintas de morcegos-vampiros podem nos ajudar a desvendar por que as espécies de hoje sobreviveram. E a nova descoberta de D. draculae tem muito significado para um pequeno osso.

A mandíbula de D. draculae. Crédito: Museu de Miramar.

“Os significados dos fósseis são vários, para começar, os restos fósseis de morcegos são raros na Argentina”, disse o paleontólogo Santiago Brizuela, da Universidade Nacional de Mar del Plata, na Argentina, ao ScienceAlert.

“Também confirma a presença da espécie em latitudes médias e durante o Pleistoceno (o único outro material da espécie na Argentina é isolado, mas muito mais jovem). Este é um dos registros mais antigos, é desconhecido no Plioceno”.

Sabemos da existência de D. draculae desde que foi formalmente descrito em 1988, embora não saibamos muito mais sobre isso. Viveu durante o Pleistoceno na América Central e do Sul, até bem recentemente: alguns vestígios que foram descobertos são recentes o suficiente para não terem sido fossilizados, sugerindo que podem ter sido extintos apenas algumas centenas de anos atrás.

Foi também o maior morcego-vampiro conhecido que existiu – era cerca de 30 por cento maior do que seu parente vivo mais próximo, o morcego-vampiro comum de hoje, com uma envergadura estimada em cerca de 50 centímetros.

A mandíbula é certamente especial. Foi recuperada de sedimentos do Pleistoceno em uma caverna não muito longe da cidade de Miramar, em Buenos Aires. Isso é importante porque, na época em que o morcego vivia, a caverna era a toca de uma preguiça-gigante, provavelmente da família Mylodontidae.

Esta pode ser uma grande pista de como os morcegos viviam. Alguns pesquisadores acham que D. draculae se alimentava de roedores ou veados, mas outros suspeitam que sua presa fosse a megafauna. Encontrar vestígios de um morcego tão intimamente associado ao habitat dos Mylodontidae pode significar que o último está correto.

Se for o caso, isso seria consistente com as teorias de que a espécie de morcego declinou após a extinção da megafauna há cerca de 10.000 anos – embora, com apenas um único espécime, seja impossível fazer uma decisão definitiva.

“Isso tem duas possibilidades”, disse Brizuela. “Uma, era que ele morava lá e também se alimentava dos habitantes [da caverna]; a outra possibilidade é que [o morcego] fosse presa de uma coruja e foi regurgitado na caverna”.

Finalmente, o fóssil pode revelar algo sobre o antigo clima da região. O morcego-vampiro comum faz sua casa a cerca de 400 quilômetros ao norte de onde os restos mortais foram descobertos. Isso sugere, dizem os pesquisadores, que o clima do local do fóssil era diferente 100.000 anos atrás do que é hoje.

Por sua vez, isso sugere que o declínio e eventual extinção de D. draculae provavelmente teve múltiplos fatores contribuintes – não apenas a indisponibilidade da presa, mas um clima cada vez mais inóspito.

A pesquisa da equipe foi publicada na Ameghiniana.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.