As suspeitas que a gelada lua de Saturno, Encélado, abriga um oceano interno — um que poderia hospedar vida — se amadureceram com as observações extraordinariamente precisas da sonda Cassini, de acordo com um estudo publicado na revista Science.
Em órbita de Saturno, Cassini tinha “provado” a pluma de água salgada que “vomita” na região do Polo Sul de Encélado. Os geoquímicos concluíram ser provável que a pluma de água do mar vem a partir de um oceano sob a dezenas de quilômetros da espessura de gelo, ao invés de uma decomposição seca de depósitos de gelo (Science, 10 de junho de 2011, p. 1259). Agora, os membros da equipe analisam as observações da Cassini do campo gravitacional da lua que apresentam fortes evidências que a água líquida está subjacente, pelo menos na parte mais meridional do corpo de 500 quilômetros.
As observações recentemente notificadas dependem de uma variante de alta tecnologia do familiar efeito Doppler, em que o Tom do apito de um trem aumenta conforme o trem se aproxima e em seguida cai enquanto ele se afasta. Grandes antenas terrestres captaram sinais semelhantes — mas muito menor — deslocando-se em sinais de rádio de 81-watt da sonda Cassini quando voou a menos de 100 quilômetros da superfície gelada da lua.
Cassini acelerou e desacelerou por vários milímetros — Sim, milímetros — por segundo passando levemente sobre Encélado, em parte por causa de um campo gravitacional flutuante, devido às variações na massa sob a nave espacial. Para isolar essa assinatura de gravidade, os cientistas tinham que filtrar outros efeitos que poderiam imitar o pequeno sinal, tais como a pressão sobre a nave espacial da luz solar, o empurrão do calor irradiado do seu gerador elétrico, e o arrasto do “vento” quando a Cassini mergulhou através das tênues plumas polares do Sul.
O cientista planetário Luciano Iess, da University of Rome em Sapienza, e seus colegas relatam na página 78, os dados gravitacionais da Cassini dos três voos rasantes suportam as inferências anteriores que a água líquida se esconde dentro de Encélado. “Eu acho que a presença de um oceano é bastante forte,” diz David Stevenson, coautor e físico planetário da California Institute of Technology, em Pasadena. “É muito difícil evitar a interpretação que tem água lá.” A presença de água líquida permanece inexplicável, mas a poderosa gravidade de Saturno provavelmente desempenhou um papel, por “amassar” a lua e aquecer seu interior.
A forma do campo gravitacional de Encélado, observam os autores, indica fortemente que uma camada de aproximadamente 10 quilômetro de espessura de água em estado líquido encontra-se abaixo de 30 a 40 quilômetros da crosta gelo no Polo Sul. O físico planetário William McKinnon, da Washington University, em St. Louis tende a concordar. “Você pode criar um modelo (do interior), sem água, mas as pessoas não achariam satisfatório,” ele diz. A camada de água poderia se envolver em torno da lua para formar um oceano global como a da lua de Júpiter, Europa. Mas os autores da Cassini dizem que um mar subcrustal confinado a latitudes do sul poderia explicar melhor os dados de gravidade, a ampla depressão topográfica, os cientistas da Cassini mapearam todo o Polo Sul e a perda de calor de Encélado provém das ranhuras da superfície que vomitam as plumas.
Esse forte apoio para um mar sob as plumas de Encélado deve incentivar os cientistas, em sua maioria membros da equipe da Cassini, que querem que a NASA envie uma nova missão para Encélado para procurar vida. Mas Europa, lua de Júpiter, ainda aparece com grandes potenciais para a vida. O Congresso dos EUA adicionou dinheiro para o ano fiscal de 2014 para um estudo da eventual missão Europa; a administração juntou-se com um pedido de dinheiro para a missão Europa no ano fiscal de 2015. E em dezembro, os astrônomos disseram ter visto o que parecia ser um breve sopro de vapor de água proveniente do Polo Sul de Europa. Se for verdade, a observação mostra que em Europa, talvez, as águas carregadas de vida poderiam ser tão acessíveis como aqueles dentro de Encélado.
Com a possibilidade de uma missão para Encélado, as perspectivas de maiores informações sobre o mar de Encélado permanecem sombrias. Atualmente, a Cassini está prevista para “eliminação” por incineração na atmosfera de Saturno, em 2017. Mesmo que os cientistas ganhem uma extensão de 3 anos para a missão, ela vai fazer apenas mais três voos rasantes em Encélado, nenhum dos quais será capaz de levar os dados da gravidade. Então, podem passar décadas antes que a humanidade realize um olhar mais atento em Encélado.