Pular para o conteúdo

Suas roupas no futuro podem ser um material vivo e auto-reparável

Traduzido por Julio Batista
Original de David Nield para o ScienceAlert

Uma equipe da Universidade de Newcastle e da Universidade de Northumbria, no Reino Unido, descobriu que os fios finos e parecidos com raízes produzidos por muitos fungos podem potencialmente ser usados ​​como um material biodegradável e vestível que também é capaz de se reparar.

Em seus testes, os pesquisadores se concentraram no fungo Ganoderma lucidum, produzindo um tecido a partir de filamentos ramificados conhecidos como hifas, que juntos formam uma estrutura chamada micélio.

Com um pouco mais de trabalho, os tecidos frágeis podem substituir o couro, satisfazendo os gostos veganos, ambientais e de moda, mas o processo de criação também precisa ser acelerado e ampliado antes de se transformar na roupa da próxima estação.

“Os resultados sugerem que os materiais de micélio podem sobreviver em ambientes secos e oligotróficos, e a autorreparação é possível com intervenção mínima após um período de recuperação de dois dias”, escreveram os pesquisadores em seu paper publicado.

Os materiais à base de micélio já estão sendo usados ​​em vários campos, da construção aos têxteis. No entanto, o processo de produção desses materiais tende a matar os clamidósporos – os esporos de fungos que ajudam o organismo a se regenerar.

Uma nova abordagem envolvendo uma mistura de micélios, clamidósporos, carboidratos, proteínas e outros nutrientes em um líquido incentivou o crescimento de um tecido que poderia ser removido e seco. Atualmente, os resultados são muito finos e delicados para serem transformados em roupas, mas os pesquisadores estão confiantes de que é possível que inovações futuras possam transformá-los em um tecido mais duro, possivelmente combinando camadas ou plastificando em glicerol.

Crucialmente, o processo de produção não matou os clamidósporos, que poderiam ser revividos para crescer novas hifas sobre buracos no tecido.

O material foi capaz de reparar-se ao longo de vários dias. Tradução da imagem: tecido de micélio perfurado (punctured mycellium skin), processo de regeneração (regeneration process), tecido de micélio autorreparado [lado externo] (self-healed mycellium skin [aerial side]) e tecido de micélio autorreparado [lado interno] (self-healed mycellium skin [floating side]). (Créditos: Elsacker et al., Advanced Functional Materials, 2023)

Testes no material mostraram que ele era realmente capaz de substituir os buracos feitos nele, se fosse colocado em condições semelhantes em que foi cultivado. O material era tão forte quanto antes, embora ainda fosse possível ver onde os buracos estavam.

“A capacidade deste material de micélio regenerativo para reparar micro e macro danos abre perspectivas futuras interessantes para aplicações de produtos exclusivos em substituições de artigos de couro, como móveis, assentos automotivos e roupas de moda”, escreveram os pesquisadores.

A equipe também trabalhou com o fungo Pleurotus ostreatus, que não contém clamidósporos. Não foi capaz de se autorreparar da mesma forma, demonstrando que foram os clamidósporos que deram ao material a capacidade de se regenerar.

Há um longo caminho a percorrer até que você use roupas feitas de fungos. Os processos de crescimento e reparo levam vários dias para acontecer atualmente, sendo algo que pode ser acelerado com o tempo.

No entanto, estes são tempos interessantes para o que os pesquisadores chamam de materiais vivos projetados ou MVPs: por causa das células vivas dentro deles, eles são capazes de se adaptar ao ambiente e podem ser ajustados de várias maneiras.

“Materiais vivos projetados compostos inteiramente de células fúngicas oferecem um potencial significativo devido às suas propriedades funcionais, como automontagem, detecção e autorreparo”, escreveram os pesquisadores.

A pesquisa foi publicada em Advanced Functional Materials.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.