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Telescópio Webb capturou lindas nuvens de formação estelar em outras galáxias

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Há muita coisa acontecendo no espaço entre as estrelas.

Ali, a poeira e o gás opacos que preenchem os vazios às vezes se juntam para formar nuvens densas. É assim que nascem as estrelas, formadas a partir de aglomerados de material que colapsam e explodem sob a gravidade para iluminar o Universo.

Encoberto pela névoa, o próprio processo de formação estelar ainda é um grande mistério. Mas o Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês), com sua resolução sem precedentes em comprimentos de onda infravermelhos, vê o que nossos olhos não conseguem.

Imagens do telescópio espacial estão sendo usadas para juntar os segredos de como e onde ocorre a formação de estrelas em 19 galáxias espirais próximas e mapear o gás e a poeira que ondulam por toda parte.

O projeto é chamado de Física em Alta Resolução Angular em Galáxias Próximas (PHANGS, na sigla em inglês), e 21 papers apresentando as descobertas iniciais em quatro dessas galáxias acabaram de ser publicados em uma edição especial do The Astrophysical Journal Letters.

“Com o JWST, você pode fazer mapas incríveis de galáxias próximas em resolução muito alta que fornecem imagens incrivelmente detalhadas do meio interestelar”, disse a física Karin Sandstrom, da Universidade da Califórnia, em San Diego, EUA.

A razão pela qual o JWST é capaz de ver partes de galáxias opacas para outros telescópios não é apenas porque é o telescópio espacial mais poderoso já construído, mas também porque vê o Universo em infravermelho. Comprimentos de onda mais curtos de luz, como ópticos, dispersam pequenas partículas e, portanto, tendem a não penetrar em nuvens espessas. Comprimentos de onda mais longos, como infravermelho, têm uma chance muito maior de navegar pela poeira sem impedimentos.

Telescópios espaciais infravermelhos anteriores, como o Spitzer, sugeriram os tesouros infravermelhos escondidos nessas nuvens, mas a resolução espetacular do JWST está nos dando uma visão sem precedentes do interior.

Uma comparação de imagens de M74 (também conhecido como NGC 628 ou Galáxia Fantasma) do Telescópio Espacial Spitzer (esquerda) e JWST (direita). (Créditos: SST: NASA/JPL-CalTech/JWST: NASA, ESA, CSA, STScI)

O projeto PHANGS foi projetado especificamente para isso, estudando uma amostra de 19 galáxias espirais próximas com propriedades semelhantes às da Via Láctea, orientadas no espaço para que possamos vê-las de frente. Essa orientação significa que obteremos a melhor visão da distribuição de poeira e gás dentro das galáxias e poderemos mapear com mais precisão onde ocorre e não ocorre a formação estelar.

Apenas nas quatro primeiras galáxias estudadas pelo PHANGS – M74NGC 7496IC 5332NGC 1365 – os cientistas conseguiram identificar belas estruturas com detalhes incríveis, incluindo características que se estendem dos centros galácticos chamados de barras e “vestígios” de gás frio entre os braços espirais – regiões consideradas ricas em formação estelar.

NGC 1365, uma das galáxias estudadas na primeira fase do projeto PHANGS. (Créditos: NASA, ESA, CSA e J. Lee/NOIRLab, A. Pagan/STScI)

“A clareza com que estamos vendo a bela estrutura certamente nos pegou de surpresa”, disse o astrônomo Adam Leroy, da Universidade Estadual de Ohio, EUA.

De acordo com a astrofísica Nadine Neumayer, do Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha, “os novos dados do PHANGS-JWST nos fornecem uma visão fascinante da formação estelar das galáxias espirais circundantes na mais alta resolução”.

Essas imagens finalmente permitem que os cientistas confirmem que a formação estelar realmente ocorre entre os braços espirais bem definidos: eles capturaram estrelas bebês dentro dos vestígios.

Eles também encontraram alguns mistérios, como o coração da galáxia M74, também conhecida como NGC 628 ou a Galáxia Fantasma. Aqui, o núcleo galáctico, que consiste em um aglomerado de estrelas em torno de um buraco negro supermassivo, fica em uma cavidade de 1.300 anos-luz de largura, completamente desprovida de gás e poeira. Como essa região foi despovoada é um enigma.

O coração misteriosamente vazio de M74, a Galáxia Fantasma. (Créditos: ESA/Webb, NASA & CSA, J. Lee e a Equipe do PHANGS-JWST)

Outras equipes se concentraram na química do meio interestelar, investigando a presença de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs). Essas moléculas são facilmente ionizadas e distribuídas uniformemente, o que as torna um excelente rastreador de todo o meio interestelar.

Juntos, esses resultados iniciais sugerem que PHANGS tem muito a nos dizer sobre como as galáxias produzem novas estrelas.

“Uma das coisas que mais me entusiasmam é que agora que temos esse rastreador de alta resolução do meio interestelar, podemos mapear todos os tipos de coisas, incluindo a estrutura do gás difuso, que precisa se tornar mais denso e molecular para que ocorra a formação estelar”, disse Sandstrom.

“Também podemos mapear o gás ao redor de estrelas recém-formadas, onde há muito ‘feedback’, como explosões de supernovas. Realmente conseguimos ver todo o ciclo do meio interestelar com muitos detalhes. Esse é o núcleo de uma galáxia formando estrelas.”

Os 21 papers foram publicados em uma edição especial do The Astrophysical Journal Letters.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.