Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Observações que não deram certo de um alvo específico usando o Telescópio James Webb (JWST, na sigla em inglês) resultaram em algo muito mais interessante.
No cinturão de asteroides que flutua entre Marte e Júpiter, o telescópio espacial detectou um asteroide até então desconhecido e excepcionalmente pequeno. O pedaço de rocha ainda sem nome mede apenas 100 a 200 metros de diâmetro e é provavelmente o menor objeto já captado pelo JWST.
Não é apenas uma demonstração magnífica das capacidades do JWST, mas sugere que essas capacidades podem ser aproveitadas para categorizar melhor os milhões de pedaços de detritos escondidos no Cinturão Principal.
“Nós – de forma completamente inesperada – detectamos um pequeno asteroide em observações de calibração do MIRI publicamente disponíveis”, disse o astrônomo Thomas Müller, do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre na Alemanha.
“As medições são algumas das primeiras medições do MIRI visando o plano eclíptico e nosso trabalho sugere que muitos novos objetos serão detectados com este instrumento”.
Quando o JWST metaforicamente abriu seu olho dourado em forma de favo de mel em julho de 2022, os cientistas começaram a testá-lo, calibrando sua instrumentação, certificando-se de que tudo estava funcionando como deveria. Um desses instrumentos é o Instrumento de Infravermelho Médio, ou MIRI.
O alvo de calibração do MIRI era um asteroide muito maior no Cinturão Principal chamado (10920) 1998 BC1, descoberto em 1998 e medindo 15,7 quilômetros de diâmetro. Infelizmente, as observações do JWST não foram particularmente boas: o telescópio não estava orientado corretamente e as imagens do alvo eram muito brilhantes e estouradas.
Não foi um fracasso total no que diz respeito a 10920; as imagens obtidas pelo JWST permitiram aos pesquisadores testar algumas técnicas para restringir o tamanho e a órbita dos asteroides, combinadas com dados de outros telescópios terrestres e espaciais.
Mas também havia outra coisa. As imagens individuais mostraram um objeto pequeno que se moveu em relação ao 10920 e às fontes de luz de fundo. A equipe fez uma análise cuidadosa, descobrindo que o objeto pequeno era provavelmente outro asteroide, não identificado anteriormente, e muito menor.
A descoberta ainda não foi confirmada, mas se for, será um dos menores asteroides já descobertos no Cinturão Principal. A detecção de asteroides deste tamanho é de vital importância para estudos da distribuição de frequência de tamanho de objetos no cinturão.
Você pode pensar que encontrar asteroides em um cinturão de asteroides é um pouco óbvio, mas é um pouco mais complicado do que você imagina. Até agora, os astrônomos identificaram positivamente mais de 600.000 asteroides do Cinturão Principal e identificaram provisoriamente quase 550.000 a mais… mas estima-se que existam milhões e milhões deles, a maioria deles de tamanho pequeno.
E os menores são muito mais difíceis de detectar do que os maiores. O que torna a detecção de um acidentalmente uma conquista, na verdade.
“Nossos resultados mostram que mesmo as observações ‘fracassadas’ do Webb podem ser cientificamente úteis, se você tiver a orientação certa e um pouco de sorte”, disse Müller.
“Nossa detecção está no cinturão principal de asteroides, mas a incrível sensibilidade de Webb tornou possível ver esse objeto de aproximadamente 100 metros a uma distância de mais de 100 milhões de quilômetros”.
O cinturão de asteroides é uma rosquinha de rochas esparsamente povoada que fica no plano do Sistema Solar, abrangendo uma distância entre 2,2 e 3,2 unidades astronômicas do Sol – 329 milhões a 478,7 milhões de quilômetros.
Mas a distância média entre os asteroides é estimada em cerca de 965.600 quilômetros. A menos que você esteja olhando para o pedaço certo do céu, você pode não ver nada.
O JWST, em suas observações de calibração, estava olhando acidentalmente para o pedaço certo do céu. E os pesquisadores acreditam que, no futuro, pode haver mais observações acidentais produtivas ao observar alvos que se alinham com o plano do Sistema Solar.
“Estimamos”, escreveram os pesquisadores em seu paper, “que frames do MIRI com apontamentos próximos à eclíptica e tempos de integração curtos de apenas alguns segundos sempre incluirão alguns asteroides; a maioria deles serão objetos desconhecidos”.
A pesquisa foi publicada na revista Astronomy & Astrophysics.