Pular para o conteúdo

Tsunami de asteroide que matou dinossauros teve ondas de quilômetros de altura e atingiu metade do mundo

Traduzido por Julio Batista
Original de

O asteroide que matou os dinossauros ao atingir a Terra há 66 milhões de anos também desencadeou um tsunami de tamanho gigante com ondas de quilômetros de altura no Golfo do México, cujas águas viajaram metade do mundo, segundo um novo estudo.

Pesquisadores descobriram evidências desse tsunami monumental depois de analisar núcleos de mais de 100 locais em todo o mundo e criar modelos digitais das ondas monstruosas após o impacto do asteroide na Península de Iucatã, no México.

“Este tsunami foi forte o suficiente para perturbar e erodir sedimentos em bacias oceânicas do outro lado do globo”, disse a principal autora do estudo, Molly Range, que conduziu o estudo de modelagem para uma tese de mestrado no Departamento de Ciências da Terra e Ambientais da Universidade de Michigan (EUA), em comunicado.

A pesquisa sobre o tsunami de mais de 1,5 km de altura, que foi apresentada anteriormente na reunião anual da União Geofísica dos Estados Unidos de 2019, foi publicada online na terça-feira (4 de outubro) na revista AGU Advances.

Range mergulhou na jornada do tsunami imediatamente após a colisão do asteroide. Com base em descobertas anteriores, sua equipe modelou um asteroide que media 14 quilômetros de diâmetro e estava a 43.500 km/h, ou 35 vezes a velocidade do som quando atingiu a Terra. Após a colisão do asteroide, muitas formas de vida morreram; os dinossauros não-aviários foram extintos (somente os pássaros, que são dinossauros vivos, sobrevivem hoje) e cerca de três quartos de todas as plantas e espécies animais foram exterminadas.

A perturbação modelada da altura da superfície do mar do tsunami (em metros) quatro horas após o impacto do asteroide no final do Cretáceo. (Créditos: Range et al. em AGU Advances, 2022)

Os pesquisadores estão cientes de muitos dos efeitos perniciosos do asteroide, como desencadear incêndios violentos que cozinharam animais vivos e pulverizar rochas ricas em enxofre que levaram à chuva ácida letal e estendeu o resfriamento global. Para saber mais sobre o tsunami resultante, Range e seus colegas analisaram a geologia da Terra, analisando com sucesso 120 “seções restringidas”, ou sedimentos marinhos depositados pouco antes ou depois do evento de extinção em massa, que marcou o fim do período Cretáceo.

Essas seções restringidas corresponderam às previsões de seu modelo de altura e curso das ondas, disse Range.

A energia inicial do tsunami de impacto foi até 30.000 vezes maior do que a energia liberada pelo tsunami de dezembro de 2004 no Oceano Índico que matou mais de 230.000 pessoas, descobriram os pesquisadores.

Uma vez que o asteroide atingiu a Terra, ele criou uma cratera de 100 km de largura e levantou uma densa nuvem de poeira e fuligem na atmosfera. Apenas 2,5 minutos após o ataque, uma cortina de material ejetado empurrou uma parede de água, formando brevemente uma onda de 4,5 km de altura que caiu quando o material ejetado despencou de volta à Terra, de acordo com a simulação.

Na marca de 10 minutos, uma onda de tsunami de 1,5 km de altura a cerca de 220 km de distância do local do impacto varreu o golfo em todas as direções. Uma hora após o impacto, o tsunami deixou o Golfo do México e correu para o Atlântico Norte. Quatro horas após o impacto, o tsunami passou pelo Mar da América Central – uma passagem que separava o Norte da América do Sul na época – e entrou no Pacífico.

Um dia inteiro após a colisão do asteroide, as ondas viajaram pela maior parte do Pacífico e do Atlântico, entrando no Oceano Índico de ambos os lados e tocando a maior parte das costas do globo 48 horas após o impacto.

A perturbação modelada da altura da superfície do mar do tsunami (em metros) 24 horas após o asteroide que matou os dinossauros atingir a Terra. (Créditos: Range et al. em AGU Advances, 2022)

O poder do tsunami 

Após o impacto, o tsunami irradiou principalmente para leste e nordeste, jorrando para o Oceano Atlântico Norte, bem como para o sudoeste através do Mar da América Central que flui para o Oceano Pacífico Sul. A água viajou tão rapidamente nestas áreas que provavelmente ultrapassou 0,6 km/h, uma velocidade que pode erodir os sedimentos de grão fino do fundo do mar.

Outras regiões escaparam em grande parte do poder do tsunami, incluindo o Atlântico Sul, o Pacífico Norte, o Oceano Índico e o que hoje é o mar Mediterrâneo, de acordo com os modelos da equipe. Suas simulações mostraram que as velocidades da água nessas áreas eram inferiores ao limite de 0,6 km/h.

A amplitude máxima da onda (maximum wave amplitude) do tsunami (em centímetros (centimeters)) após o impacto do asteroide que atingiu a Terra há 66 milhões de anos. (Créditos: Range et al. em AGU Advances, 2022)

A equipe até encontrou afloramentos – ou depósitos rochosos expostos – do evento de impacto nas ilhas norte e sul do leste da Nova Zelândia, a uma distância de mais de 12.000 km da cratera Chicxulub, no México. Originalmente, os cientistas pensavam que esses afloramentos eram da atividade tectônica local. Mas devido à sua idade e localização na rota modelada do tsunami, os pesquisadores do estudo atribuíram-no às ondas massivas do asteroide.

“Sentimos que esses depósitos estão registrando os efeitos do tsunami de impacto, e esta é talvez a confirmação mais reveladora do significado global deste evento”, disse Range.

Embora os modelos não tenham avaliado as inundações costeiras, eles revelaram que as ondas em mar aberto no Golfo do México teriam excedido 100 m, e as ondas teriam atingido alturas de mais de 10 m no tsunami que se aproximou das regiões costeiras do Atlântico Norte e partes da costa do Pacífico da América do Sul, de acordo com o comunicado.

À medida que a água se tornava rasa perto da costa, as alturas das ondas teriam aumentado dramaticamente.

“Dependendo das geometrias da costa e do avanço das ondas, a maioria das regiões costeiras seria inundada e erodida em certa medida”, escreveram os autores no estudo. “Quaisquer tsunamis historicamente documentados se apequenam em comparação com esse impacto global.”

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.