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Tubarões navegam usando campos magnéticos da Terra como bússola, mostra nova pesquisa

Por David Nield
Publicado na ScienceAlert

Os tubarões são conhecidos por suas migrações de longa distância – ao longo de milhares de quilômetros – mas o que não está claro é exatamente como eles navegam. No entanto, um novo experimento interessante envolvendo piscinas e campos magnéticos pode nos dar algumas pistas importantes.

Sabendo que os tubarões são sensíveis a campos eletromagnéticos, os pesquisadores realizaram testes envolvendo 20 tubarões-de-pala jovens (Sphyrna tiburo), capturados na natureza e colocados individualmente dentro de uma piscina circular.

Sinais magnéticos ao redor da piscina foram simulados e, em seguida, modificados para ver se eles tinham um efeito na direção do nado dos tubarões – e os tubarões-de-pala de fato pareciam usar os campos magnéticos para descobrir em que direção seu lar estava.

A configuração do experimento. Tradução da imagem: norte (north), câmera (camera), oxigênio (oxygen) e fontes de energia (power supplies). Créditos: Keller et al, Current Biology 2021.

“Não era sabido com certeza como os tubarões conseguiam navegar com sucesso durante a migração para os locais selecionados”, disse o oceanógrafo Bryan Keller, da Universidade Estadual da Flórida (EUA). “Esta pesquisa sustenta a teoria de que eles usam o campo magnético da Terra para ajudá-los a encontrar seu caminho; é o GPS da natureza”.

Nos tanques, os tubarões-de-pala foram expostos a campos magnéticos que replicaram as condições muito distante ao norte e muito distante ao sul de seus lares. Na configuração sul, os tubarões mostraram uma tendência de querer viajar para o norte.

Quando o campo magnético no tanque combinou com o campo magnético do local onde os tubarões foram capturados, eles não mostraram preferência em termos de nadar em uma direção específica – parece que pensaram que estavam de volta onde deveriam estar. Ambas as condições corresponderam à hipótese da equipe de estudo.

Não houve diferença perceptível quando os tubarões foram expostos à configuração norte.

Os pesquisadores sugerem que isso ocorreu porque os tubarões nunca experimentaram uma configuração de campo magnético como esta – em outras palavras, eles apenas respondem a ambientes que aprenderam em suas viagens, ao invés de interpretar qualquer campo magnético em qualquer lugar da Terra. Mas será necessário fazer mais pesquisas para confirmar isso.

O que acontece com esses jovens tubarões-de-pala provavelmente se aplica a outros tipos de espécies de tubarões. Os autores do estudo apontam para o tubarão-branco que foi documentado viajando entre a África do Sul e a Austrália durante um ano, por exemplo.

“Não é legal que um tubarão possa nadar 20.000 quilômetros de ida e volta em um oceano tridimensional e voltar ao mesmo local?”, disse Keller. “É realmente incrível. Em um mundo onde as pessoas usam o GPS para navegar em quase todos os lugares, essa capacidade é realmente notável”.

A estrutura da população também pode ser controlada por esse sentido magnético, sugerem os pesquisadores – é possível que as respostas ao campo magnético da Terra afetem a localização das populações de tubarões e a genética dessas comunidades.

Os tubarões também não são as únicas criaturas que se locomovem assim, porque as tartarugas marinhas também dependem de sinais magnéticos para encontrar o caminho de volta às praias onde nasceram, às vezes cobrindo distâncias igualmente enormes.

Há mais trabalho a fazer – os pesquisadores querem testar como os tubarões respondem aos campos magnéticos de objetos feitos pelo homem, como cabos, e como esses campos afetam a vida cotidiana dos tubarões – mas essa pesquisa inicial sobre piscina e ímãs é um sucesso definitivo.

“Para ser honesto, estou surpreso que funcionou”, disse Keller. “A razão pela qual esta questão ficou sem respostas por 50 anos é porque os tubarões são difíceis de estudar”.

A pesquisa foi publicada na Current Biology.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.