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Túmulo de 31.000 anos revela o mais antigo sepultamento de bebês gêmeos do mundo

Por Laura Geggel
Publicado na Live Science

Um antigo túmulo na Áustria pode representar o mais antigo sepultamento de gêmeos já registrado, descobriu um novo estudo.

O túmulo de 31.000 anos data do Paleolítico Superior (um período que durou de 40.000 a 10.000 anos atrás), também conhecido como Idade da Pedra Antiga. Um dos bebês morreu logo após o nascimento, enquanto seu irmão gêmeo viveu cerca de 50 dias, ou pouco mais de 7 semanas, de acordo com análises de ambos os bebês.

Um terceiro bebê, de 3 meses de idade, enterrado em uma cova a cerca de 1,5 metros de distância é, provavelmente, o primo dos dois, de acordo com o estudo, publicado em 6 de novembro na revista Communications Biology.

Os pesquisadores encontraram o túmulo em forma oval dos gêmeos no sítio arqueológico de Krems-Wachtberg, na margem do rio Danúbio, perto do centro da cidade de Krems, em 2005. Os restos mortais dos bebês gêmeos estavam cobertos de ocre, um pigmento vermelho que era frequentemente usado em sepultamentos antigos em todo o mundo.

Os restos mortais dos gêmeos. Crédito: Orea Öaw.

O sepultamento duplo também continha 53 miçangas feitas de marfim de mamute que, provavelmente, haviam sido colocadas em um colar, e um dente incisivo de uma raposa com perfurações e três moluscos também com perfurações que, possivelmente, eram pingentes de colar, disseram os pesquisadores. Uma escápula de mamute colocada sobre a sepultura protegeu os pequenos corpos ao longo dos milênios.

A sepultura do outro bebê também continha ocre, bem como um alfinete feito de marfim de mamute de 8 centímetros, que pode ter prendido uma roupa de couro no momento do sepultamento, disseram os pesquisadores.

A descoberta ganhou as manchetes logo após sua descoberta, e os pesquisadores até criaram uma réplica do sepultamento dos gêmeos, que foi exposta no Museu de História Natural de Viena em 2013.

No entanto, os cientistas ainda tinham muito que aprender sobre o antigo cemitério. Assim, no novo projeto, um grupo interdisciplinar de pesquisadores se uniu para decifrar a relação entre essas três crianças e determinar seu sexo e idade ao morrer.

Os artefatos na sepultura incluía miçangas de marfim de mamute (superior e inferior esquerdo) e três conchas (segunda imagem à direita). Crédito: Orea Öaw.

O estudo é o primeiro já registrado a usar DNA antigo para confirmar a identificação de gêmeos no registro arqueológico, disseram os pesquisadores. E não de qualquer gêmeo, mas gêmeos idênticos.

Essa é a “prova mais antiga de um nascimento de gêmeos”, disse o pesquisador sênior Ron Pinhasi, professor associado do Departamento de Biologia Evolutiva da Universidade de Viena, em um comunicado.

Os pesquisadores não sabem o quão comuns eram os nascimentos de gêmeos durante o Paleolítico Superior (a taxa varia por região e tempo), mas, hoje, gêmeos (idênticos e fraternos) ocorrem em cerca de um em 85 nascimentos, enquanto gêmeos idênticos ocorrem em cerca de um em 250 nascimentos.

“Descobrir um sepultamento múltiplo do período Paleolítico é algo especial em si”, disse a pesquisadora principal do estudo Maria Teschler-Nicola, bióloga do Museu de História Natural de Viena, no comunicado. “O fato de que DNA antigo em quantidade suficiente e de alta qualidade pudesse ser extraído dos fragmentos esqueléticos da criança para uma análise do genoma excedeu todas as nossas expectativas e pode ser comparado a um bilhete premiado de loteria”.

Uma análise genética do terceiro bebê revelou que ele era um parente de terceiro grau do sexo masculino, provavelmente um primo, descobriram os pesquisadores.

Para determinar com que idade os bebês morreram, os pesquisadores examinaram o segundo incisivo superior de cada bebê. A equipe prestou atenção especial à chamada “linha do recém-nascido”, uma linha escura no esmalte do dente que separa o esmalte formado no período pré-natal daquele formado após o nascimento, disse Teschler-Nicola.

Essas linhas de recém-nascidos, bem como o desenvolvimento do esqueleto dos bebês, sugeriam que os gêmeos eram bebês recém-nascidos ou quase nascidos a termo. Parece que o grupo de caçadores-coletores enterrou o primeiro gêmeo e, em seguida, reabriu a sepultura quando enterrou seu irmão.

Essa descoberta confirma a prática histórico-cultural de reabertura de uma sepultura para fins de sepultamento no paleolítico, que nunca havia sido antes documentada, disseram os pesquisadores.

A equipe também analisou elementos químicos, incluindo isótopos de carbono, nitrogênio e bário, no esmalte dos dentes, revelando que cada um dos gêmeos foi amamentado. Mesmo que o primo dos gêmeos tenha sobrevivido por três meses, “linhas de estresse” em seus dentes sugerem que ele teve dificuldades de alimentação, talvez porque sua mãe teve uma infecção dolorosa nos seios conhecida como mastite, ou talvez porque ela não sobreviveu ao parto.

Não se sabe exatamente o porquê esses bebês morreram, mas as mortes desses gêmeos e de seu primo foram, provavelmente, eventos dolorosos para esse grupo de caçadores-coletores do paleolítico, que montou um acampamento e enterrou seus bebês no Danúbio há muito tempo.

“Os bebês eram obviamente de particular importância para o grupo e altamente respeitados e estimados”, disse Teschler-Nicola ao Live Science.

Os extraordinários túmulos “parecem implicar que a morte dos bebês foi uma grande perda para a comunidade e sua sobrevivência”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.