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Um dos melhores candidatos do Sistema Solar para vida alienígena tem sinais de água líquida

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

Estranhas cordilheiras duplas na superfície da lua de gelo de Júpiter, Europa, podem ser sinais de reservatórios rasos de água.

Uma análise de algo semelhante no manto de gelo da Groenlândia mostra que, aqui na Terra, essas cordilheiras podem ser criadas por bolsões de água líquida contidos no próprio gelo.

Esta descoberta oferece uma nova visão sobre os processos geofísicos que moldam o mundo congelado. Também sugere que a vida extraterrestre, se existir na lua, pode não se concentrar em um oceano dezenas de quilômetros abaixo do gelo de Europa, mas pode de fato estar muito mais perto, dentro de um alcance fascinante.

“Por estar mais perto da superfície, onde você obtém substâncias químicas interessantes do espaço, de outras luas e dos vulcões de Io, existe a possibilidade de que a vida tenha uma chance se houver bolsões de água na camada superficial”, disse o geofísico Dustin Schroeder, da Universidade de Stanford. “Se o mecanismo que vemos na Groenlândia é como essas coisas que aparecem em Europa, isso sugere que há água em todos os lugares”.

Europa está cheia de enigmas, em sua casa distante orbitando o maior planeta do Sistema Solar. Evidências sugerem que o corpo frígido não está completamente congelado, mas abriga um oceano líquido e salgado aquecido por processos geológicos internos sob sua espessa camada de gelo.

Foi identificado como o melhor lugar no Sistema Solar para procurar vida extraterrestre, agrupado em torno de aberturas vulcânicas no fundo do oceano, como as que tem aqui na Terra.

No entanto, não sabemos muito sobre a lua. Por exemplo, sua superfície é marcada por enormes cordilheiras duplas, que correm ao longo de ambos os lados de longos vales. Essas formas têm sido um mistério desde que foram descobertas pela primeira vez em imagens tiradas pela sonda Galileo na década de 1990.

Reconstrução 3D de uma cordilheira dupla de Europa, a partir de imagens da sonda Galileo. Créditos: NASA / JPL / DLR.

Como tantas vezes acontece na ciência, o acaso pode ter nos dado uma resposta.

Schroeder e seus colegas, os geofísicos Riley Culberg de Stanford (que liderou o estudo) e Gregor Steinbrügge do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, assistiram a uma apresentação sobre Europa e notaram que as cordilheiras duplas eram estranhamente familiares.

Pareciam demais com versões gigantes de cordilheiras que observaram na geleira da Groenlândia durante um projeto não relacionado.

“As pessoas estudam esses cordilheiras duplas há mais de 20 anos, mas esta é a primeira vez que conseguimos observar algo semelhante na Terra e ver a natureza fazer sua mágica”, disse Steinbrügge. “Estamos dando um passo muito maior na direção de entender quais processos realmente dominam a física e a dinâmica da camada de gelo de Europa”.

Embora muito menores do que às da lua Europa, as cordilheiras da Groenlândia pareciam ser praticamente as mesmas. Então, a equipe começou a investigar como as cordilheiras da Groenlândia se formaram.

Eles estudaram os dados coletados pela Operação IceBridge da NASA, que usa tecnologia de radar para ver o que está acontecendo sob o gelo. Os dados da equipe começaram em 2015, quando as cordilheiras não haviam se formado, até 2017, depois que apareceram.

Esses dados revelaram que as cordilheiras na Groenlândia se formaram quando um bolsão de água pressurizada recongelando dentro da camada de gelo causou a fratura da camada de gelo. Isso produziu a elevação em forma de M de cordilheiras duplas no gelo – e é eminentemente possível que processos semelhantes estejam ocorrendo em Europa, disse a equipe.

“Na Groenlândia, essa cordilheira dupla se formou em um lugar onde a água dos lagos e riachos da superfície frequentemente drena para a superfície e congela novamente”, explicou Culberg. “Uma maneira de formar bolsões de água rasa semelhantes em Europa pode ser através da água do oceano subterrâneo sendo forçada para dentro da camada de gelo por meio de fraturas – e isso sugeriria que poderia haver uma quantidade razoável de troca acontecendo dentro da camada de gelo”.

Também sugere que a água rasa e seus processos podem ser onipresentes em toda a superfície de Europa, tanto no tempo quanto no espaço – ou seja, o fato de que água líquida é, e tem sido, penetrante dentro da camada de gelo que envolve a lua, moldando sua estranha geografia.

Isso pode ter implicações para a busca de vida no mundo alienígena, mas não saberemos mais até que a espaçonave equipada com radar possa fazer observações da órbita de Europa, para comparar com os dados do radar da Groenlândia. Felizmente, duas missões para explorar a lua serão lançadas em breve, JUICE da ESA e Europa Clipper da NASA, ambas com radar de penetração no gelo.

Eles devem revelar mais sobre o que causa as estranhas cordilheiras em toda a superfície da lua gelada.

“Somos outra hipótese em cima de muitas – só temos a vantagem de que nossa hipótese tem algumas observações da formação de algo semelhante na Terra para apoiá-la”, disse Culberg. “Isso tudo está abrindo todas essas novas possibilidades para uma descoberta muito emocionante”.

A pesquisa foi publicada na Nature Communications.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.