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Um filhote canino preservado no gelo por 14 mil anos comeu um dos últimos rinocerontes-lanudos da Terra

Por Laura Geggel
Publicado na Live Science

Pouco antes desse filhote canino morrer durante a última era glacial, ele comeu um pedaço de carne de um dos últimos rinocerontes-lanudos da Terra.

Os pesquisadores fizeram essa descoberta enquanto faziam uma necropsia (autópsia de um animal) nos restos mortais mumificados do filhote da era do gelo. Depois de encontrar um pedaço de pele não digerido com uma pelagem amarela no estômago do filhote, os pesquisadores inicialmente pensaram que o filhote havia mastigado um pedaço de carne de um leão-das-cavernas em sua última refeição.

No entanto, uma análise de DNA da amostra revelou que não era um leão-das-cavernas (Panthera spelaea), mas um rinoceronte-lanudo (Coelodonta antiquitatis), que foi extinto há cerca de 14 mil anos, bem na época em que esse filhote fez sua última refeição.

Isso significa que esse filhote canino comeu um dos últimos rinocerontes-lanudos que existiram, disse Edana Lord, estudante de doutorado no Centro de Paleogenética da Suécia, um empreendimento conjunto entre a Universidade de Estocolmo e o Museu Sueco de História Natural. Lord foi coautora de um estudo publicado em 13 de agosto na revista Current Biology sobre a extinção dos rinocerontes-lanudos.

O filhote mumificado foi descoberto em Tumat, uma localidade rural no nordeste da Sibéria, em 2011. Uma análise revelou que o filhote provavelmente tinha entre 3 e 9 meses quando morreu, mas não está claro se o filhote era um cachorro ou um lobo, destacou Lord. Esse é um mistério que também envolve um filhote canino de 18.000 anos encontrado na Sibéria em 2018, conforme a Live Science relatou anteriormente.

“Eu acho que isso gira em torno do momento crítico da domesticação do cão/lobo”, disse ela ao Live Science, acrescentando que uma equipe de pesquisa em Copenhagen está tentando decifrar se o filhote de Tumat foi domesticado ou não.

A datação por radiocarbono revelou que o filhote canino de Tumat viveu cerca de 14.000 anos atrás. Os pesquisadores também dataram com radiocarbono o pedaço de pele com pelos do rinoceronte, para descartar a possibilidade de que o rinoceronte não tivesse morrido antes e sido preservado no pergelissolo da Sibéria, apenas para ser descoberto pelo filhote em uma data posterior. É possível “que esse filhote tenha pertencido a uma matilha de necrófagos, e que os lobos abateram o rinoceronte ou estavam procurando comida e encontraram uma carcaça de rinoceronte”, observou Lord.

Se o filhote foi domesticado, é possível que vivia com humanos, que podem ter compartilhado a refeição do rinoceronte com o filhote, disse ela. Logo depois que o cachorro comeu o rinoceronte-lanudo, ele morreu, embora ninguém saiba como. Os pesquisadores foram capazes de descartar um cenário. “Não parece que foi esmagado, antes de ser preservado como uma múmia no gelo do pergelissolo”, disse Lord.

Apesar de “jantarem rinocerontes”, os predadores provavelmente não causaram a extinção do rinoceronte lanudo, de acordo com a nova pesquisa de Lord. Em vez disso, o culpado teria sido o rápido aquecimento do clima no final da última era do gelo, segundo a descoberta dela e de seus colegas. Quando a equipe sequenciou um genoma nuclear de rinocerontes-lanudos e 14 genomas mitocondriais (DNA passado pela linhagem materna) – incluindo a espécime encontrado na barriga do filhote – eles descobriram que a população de rinocerontes-lanudos era estável e diversa até alguns milhares de anos antes dos herbívoros serem extintos. Essa diversidade genética indica que não houve endogamia, um problema que atormentou os mamutes-pigmeus na Ilha de Wrangel, na costa norte da Rússia, cerca de 4.000 anos atrás.

Por causa da diversidade genética, bem como “a associação da extinção com a oscilação de Bølling-Allerød, um período de aquecimento muito abrupto (cerca de 14.700 a 12.900 anos atrás), sugerimos que o rinoceronte-lanudo foi extinto devido às mudanças climáticas”, disse Lord.

As análises de DNA também revelaram que o rinoceronte-lanudo tinha mutações genéticas que o ajudaram a se adaptar ao frio. Uma dessas mutações tornou a criatura peluda menos sensível à sensação de frio, “o que significa que eles teriam sido capazes de sobreviver melhor no frio mais extremo”, disse Lord. “Por causa dessas adaptações genômicas ao clima ártico, eles provavelmente não foram bem adaptados para lidar com o aquecimento do clima”.

Além disso, os rinocerontes estavam acostumados a se alimentar nas pastagens secas, mas o clima quente durante a oscilação de Bølling-Allerød mudou o ambiente para um nevoso “habitat arbustivo e arborizado”, que não fornecia o “alimento favorito dos rinocerontes”, disse Lord.

Os filhotes, por outro lado, comem quase tudo, desde rinocerontes-lanudos a sapatos, o que pode explicar sua adaptabilidade.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.