Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
Sabemos que, usando máscaras, podemos ajudar a reduzir a transmissão da COVID-19 e sabemos que nem todo tipo de máscara facial é igualmente eficaz no bloqueio de gotículas virais quando tossimos, espirramos, falamos – ou mesmo quando simplesmente respiramos. Mas como podemos realmente saber com certeza?
Além de simplesmente acreditar nas afirmações dos fabricantes, se você quisesse, de alguma forma, testar diferentes máscaras umas em relação às outras para comparar quanta proteção elas oferecem de fato, como você faria isso?
Uma nova pesquisa de cientistas da Universidade Duke, Estados Unidos, mostra que você não precisa de muito para fazer um teste. Em um estudo de prova de conceito, eles montaram um dispositivo a laser simples e de baixo custo e conduziram um experimento comparando 14 tipos diferentes de máscaras e proteções faciais.
“A questão fundamental é: quão eficiente um tipo específico de máscara evita que as gotículas se espalhem”, disse o pesquisador-chefe e especialista em imagem molecular Martin Fischer em uma sessão de Q&A para a imprensa.
A questão é particularmente relevante na pandemia de coronavírus, visto que muitas pessoas começaram a comprar online máscaras de tecido ou a fazer suas próprias máscaras em casa.
Embora o consenso geral dos especialistas seja que todos esses tipos de máscaras rentes ao rosto ajudam a reduzir a transmissão da COVID-19 – razão pela qual as máscaras são obrigatórias em muitos lugares ao redor do mundo agora – a maioria dos testes de máscara até o momento tem sido feito em máscaras cirúrgicas e máscaras N95 ajustadas, e não em máscaras de tecido ou coberturas faciais.
“As máscaras cirúrgicas são comumente usadas por equipes médicas e passaram por uma grande quantidade de testes em ambientes clínicos”, diz Fischer. “Mas, pelo que sabemos, não havia uma maneira rápida, fácil e econômica de demonstrar a eficácia de uma grande variedade de outros tipos de máscara”.
Para responder essas questões, Fischer e sua equipe desenvolveram um experimento de laser barato e fácil de fazer, que pode ser usado para testar como diferentes tipos de máscaras bloqueiam gotículas que saem da boca das pessoas quando elas falam.
Na configuração experimental, uma lente transforma um laser óptico em um feixe estreito de luz. Este feixe estreito de luz, iluminado através de um invólucro escuro (feito de folhas de papelão e fita adesiva), se manifesta quando as gotas passam por ela, sendo o resultado filmado por uma câmera de celular.
Em experimentos, as pessoas falavam, em direção ao feixe estreito de luz, a frase “Stay healthy, people” (em inglês: “Permaneçam saudáveis, pessoas”), enquanto usavam 14 tipos diferentes de máscaras e coberturas faciais.
“Confirmamos que, quando as pessoas falam, pequenas gotas são expelidas, de modo que a doença pode ser transmitida falando, sem tossir ou espirrar”, disse Fischer.
“Também pudemos ver que algumas coberturas faciais tiveram um desempenho muito melhor do que outras no bloqueio de partículas expelidas”.
Os resultados mostraram que as máscaras N95 ajustadas bloquearam a maior quantidade de gotículas liberadas pela pessoa que falava, seguidas das máscaras cirúrgicas e depois as máscaras de polipropileno.
No entanto, todos os tipos de máscaras, incluindo máscaras de algodão e até mesmo as de malha, mostraram uma capacidade de bloquear gotas, assim como uma versão valvulada da máscara N95, que não obteve pontuação tão boa quanto a máscara N95 ajustada devido à sua válvula de escape.
“Essas válvulas permanecem fechadas ao inspirar, mas podem abrir ao falar, deixando escapar o ar não filtrado”, diz Fischer.
“Em outras palavras, eles fazem um ótimo trabalho em proteger o usuário do ambiente externo, mas um péssimo trabalho em proteger os outros do usuário, e é a segunda função que é importante para reduzir a disseminação da COVID-19”.
O mais surpreendente, entretanto, foram os resultados na parte inferior da tabela. Em termos de bloqueio de gotas, as bandanas estavam entre as menos eficazes, mas a pior proteção de todas é usar um tecido de lã, que os pesquisadores descobriram ser pior do que não usar nenhum tipo de cobertura facial.
Isso parece contraintuitivo – e provavelmente justifica um exame mais aprofundado – mas os pesquisadores acreditam que o tecido de lã realmente faz com que as gotículas se proliferem no ar.
“O bom senso ditaria que vestir qualquer coisa é melhor do que não vestir nada – este não era o caso aqui”, diz Fischer.
“Observamos que o número de gotas aumentava quando o locutor colocava a lã. Acreditamos que o material da lã decompõe as grandes gotas emitidas durante a fala em várias menores. Isso pode tornar o uso dessa máscara contraproducente, já que gotículas menores ter mais facilidade de serem levadas por correntes de ar e colocarem em perigo as pessoas próximas”.
Claro, os pesquisadores enfatizam que o foco do estudo é na verdade o método de teste de baixo custo que desenvolveram, não os próprios resultados de teste, que é sobre quais máscaras são mais e menos eficazes – já que o mesmo tipo de teste poderia ser conduzido de forma mais robusta e sistemática do que no estudo de prova de conceitoi.
Dito isso, o próprio teste deles certamente é motivo de reflexão, destacando novamente que nem todas as máscaras são iguais, e se você realmente deseja proteger outras pessoas e ajudar a reduzir a propagação do coronavírus, você realmente precisa pensar sobre o que está colocando na sua cara.
Os resultados foram publicados na Science Advances.