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Usamos o telescópio espacial mais poderoso já construído para observar Urano

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Acabamos de receber uma nova perspectiva espetacular sobre o que é possivelmente a bola mais estranha do Sistema Solar.

O Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês) voltou seu olhar infravermelho para o enigmático sétimo mundo a partir do Sol, Urano – e a imagem que ele retornou revelou o planeta turquesa em toda sua glória reluzente. Luas, anéis e tudo.

Cada planeta e planeta anão no Sistema Solar tem seu próprio conjunto de peculiaridades e idiossincrasias que o tornam especial, mas Urano é verdadeiramente peculiar. O mundo gelado, à primeira vista, parece bastante banal, mas quanto mais perto você olha, mais estranho – e mais bonito – ele fica.

Mas você tem que olhar além das cores que nossos próprios olhos podem detectar, nas quais Urano parece ser uma bola relativamente inexpressiva de cor azul pálido. Em imagens térmicas, por exemplo, compreendendo comprimentos de onda de rádio e infravermelho, os cientistas conseguiram medir as propriedades físicas dos opacos anéis gelados de Urano.

Uma visão ampliada mostrando o espetacular sistema de anéis etéreos de Urano. (Créditos: NASA/ESA/CSA/STScI/J. DePasquale)

O JWST é o telescópio espacial mais poderoso já lançado e vê o Universo exclusivamente no infravermelho e no infravermelho próximo. Isso o torna perfeito para capturar o brilho estendido da luz que foi espalhada bilhões de anos em nosso passado.

Felizmente, essa sensibilidade infravermelha pode fazer mais do que olhar profundamente no espaço para investigar o alvorecer do Universo; é igualmente útil para observar coisas mais próximas de casa e ajudar a entender os mistérios de nosso próprio Sistema Solar. Como os comprimentos de onda infravermelhos podem revelar muito sobre o funcionamento de Urano, o JWST foi empregado para dar uma olhada mais de perto.

Embora o tempo alocado tenha sido de apenas 12 minutos, o telescópio espacial ainda conseguiu observar detalhes nunca antes vistos.

Uma coisa que você notará rapidamente sobre Urano é sua rotação incomum, inclinada de lado em relação ao seu plano orbital. Isso significa que suas estações polares são muito diferentes das dos outros planetas. Durante sua órbita de 84 anos, os polos de Urano receberão todo o brilho do Sol durante o verão, mas a escuridão completa no inverno.

Quando a Voyager 2 passou por Urano em 1986, era verão no polo sul; agora, é final da primavera no polo norte, com o verão chegando em 2028.

Imagem mostrando a calota polar (polar cap) e as nuvens (clouds) brilhantes na atmosfera uraniana. Tradução da imagem: anel zeta (zeta ring). (Créditos: NASA/ESA/CSA/STScI/J. DePasquale)

Isso significa que o JWST conseguiu obter imagens de uma característica esclusiva de Urano: um brilho polar à medida que o planeta se move para a luz total do Sol de verão. O que causa essa calota polar brilhante é desconhecido, mas os cientistas pensaram que a resolução sem precedentes fornecida pelo JWST pode fornecer algumas novas perspectivas.

E eles não estavam errados. Os dados revelam uma região sutil, mas inconfundível, de maior brilho no centro da calota polar.

Ainda não sabemos o motivo, mas os cientistas poderão levar essas informações em consideração ao estudarem o fenômeno em detalhes.

Outras características brilhantes vistas na imagem são nuvens, ligadas à atividade de tempestades na atmosfera predominantemente de hidrogênio e hélio do gigante  gelado.

Embora dificilmente seja tão famoso quanto o impressionante conjunto de anéis de Saturno, Urano tem pouco mais de uma dúzia de anéis humildes. O JWST registrou 11 dos 13 anéis conhecidos que circundam o planeta, incluindo os dois anéis internos opacos e empoeirados que são tão opacos que não foram descobertos até a Voyager 2 aparecer em 1986.

As futuras observações do JWST, esperam os cientistas, também serão capazes de capturar os dois anéis externos opacos, além do grupo principal.

Imagem anotada mostrando seis das luas de Urano aparecendo na imagem do JWST. (Créditos: NASA/ESA/CSA/STScI/J. DePasquale)

Finalmente, o telescópio capturou muitas – mas não todas – das 27 luas conhecidas de Urano. Algumas são opacas demais para serem vistas. Mas essas luas têm órbitas muito diferentes. As seis luas vistas na imagem acima compartilham seu plano orbital com o plano equatorial de Urano, assim como as luas internas menores. Mas Urano também tem uma coleção de luas irregulares muito mais distantes que têm órbitas elípticas inclinadas, semelhantes às das luas irregulares de Júpiter.

Estudar as particularidades dessas luas pode ser útil para entender como Urano chegou a ser do jeito que é, uma questão espinhosa que foge de respostas simples.

Outras observações do JWST de Urano estão em andamento ou programadas para o futuro. Vamos esperar que elas possam ajudar os cientistas a criar um caso convincente para enviar uma sonda dedicada a este mundo intrigante.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.