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Vermes marinhos fantasmagóricos recém-descobertos parecem algo do folclore japonês

Traduzido por Julio Batista
Original de Jess Cockerill para o ScienceAlert

Um brilho azul etéreo logo abaixo da linha d’água atraiu cientistas como um fogo-fátuo folclórico para três novas espécies brilhantes de vermes-de-cerdas marinhos (poliquetas) .

O nome do gênero, Polycirrus, significa ‘muitas gavinhas‘ em latim. Olhando para esses vermes de outro mundo, você pode entender imediatamente o porquê.

Até agora, conhecíamos apenas quatro espécies de Polycirrus com a capacidade de bioluminescência. Além disso, havia apenas duas espécies de Polycirrus descritas no Japão. Esta nova descoberta, liderada pelo especialista em vermes marinhos Naoto Jimi, acrescenta três novas espécies para o registro.

Dois desses vermes receberam nomes de entidades sobrenaturais do folclore japonês, yokai. O nome da terceira espécie homenageia o ex-diretor do Aquário Notojima, Shinichi Ikeguchi, já que esse verme foi encontrado em águas próximas ao aquário, bem como na costa de Shirawara.

Polycirrus onibi, descoberto em Notojima e Sugashima, recebeu o nome de um yokai não muito diferente dos fogos-fátuos do folclore ocidental. Onibi são espíritos dos mortos que aparecem como uma bola flutuante de chama geralmente azul e tendem a habitar áreas úmidas da natureza.

Ilustração de um espírito Onibi. (Créditos: Sekien Toriyama/Domínio Público)

Polycirrus aoandon, encontrado em Sugashima, tem o nome do yokai Aoandon, uma criatura fantasmagórica de pele azul, cabelos longos, chifres e dentes afiados, que veste um quimono branco e carrega uma lanterna azul. Em algo semelhante à Loira do Banheiro, diz-se que Aoandon é invocado por aqueles que passaram a noite compartilhando histórias sobrenaturais.

O artista Sekien Toriyama popularizou a lenda de Aoandon. (Créditos: Domínio Público)

“A bioluminescência azul-violeta etérea emitida pela espécie Polycirrus é surpreendentemente semelhante às descrições dessas criaturas encontradas no folclore”, disse Jimi.

Esta cor de luz tem um comprimento de onda relativamente curto, por isso é absorvida menos rapidamente pela água do que outras cores e, portanto, viaja mais longe debaixo d’água. É por isso que esse tipo de bioluminescência costuma ser associado a criaturas das profundezas. A cor do brilho desses vermes é incomum, devido aos seus habitats costeiros.

Os vermes foram examinados no oceano selvagem, embora alguns espécimes também tenham sido levados ao laboratório para um estudo mais aprofundado.

A Japan Underwater Films Corporation ajudou a gravar a ação. No mar, os pesquisadores descobriram que as bolhas do equipamento de mergulho autônomo poderiam desencadear o hipnótico show de luzes do verme. Eles viram resultados semelhantes no laboratório cutucando os tentáculos dos vermes com pinças.

P. ikeguchii é mais laranja do que as outras duas espécies. (Créditos: Naoto Jimi/Universidade de Nagoya)

O padrão em que essas luzes cintilantes piscaram era quase idêntico em todas as três espécies.

Quando estimulados, os tentáculos piscaram por cerca de 0,3 a 1,1 segundos, com cada flash durando cerca de 0,15 segundos. Os cientistas também notaram que perturbar uma área de tentáculos não acionava flashes nos tentáculos vizinhos, nem os flashes sincronizavam em um indivíduo.

A intensidade das luzes diminuiu após cerca de 30 segundos de estimulação, como um bastão luminoso de uma rave. Mas depois que os vermes receberam alguns minutos de pausa das cócegas científicas, sua resposta bioluminescente foi capaz de recarregar, retornando ao brilho total.

“A descoberta de que todas as três novas espécies são luminescentes nos permitiu vincular descobertas taxonômicas e ecológicas e estabelecer pesquisas que outros podem aplicar prontamente ao estudo de organismos luminescentes”, disse Jimi.

As luzes piscantes podem ser uma espécie de sistema de alerta para assustar os predadores, não muito diferente das luzes de segurança com sensor de movimento em nossas casas. Como esses vermes são conhecidos por passar muito tempo enterrados na lama, fendas nas rochas ou nos habitats das esponjas, os pesquisadores acreditam que essa bioluminescência é usada principalmente para “situações de emergência”, quando o corpo do verme é exposto. O fato de que o ato de cutucar dos cientistas foi o principal gatilho para a bioluminescência dos vermes neste estudo certamente sustenta essa teoria.

“A bioluminescência é um tesouro de química interessante e incomum”, disse Jimi.

“Pretendemos usar nossas descobertas para aprofundar nossa compreensão da natureza molecular desse fenômeno e aplicar esse conhecimento ao desenvolvimento de novas tecnologias de ciências biológicas”.

Este estudo foi publicado na Royal Society Open Science.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.