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Vários peixes podem secretamente andar na terra, sugere estudo

Por George Dvorsky
Publicado no Gizmodo

Um número surpreendente de bótias – uma família de peixes asiáticos – são capazes de andar na terra usando todos os quatro membros, de acordo com um novo estudo. É uma descoberta que poderia explicar como alguns dos primeiros animais conseguiram caminhar em terra firme.

Os bótias do sul da Ásia são uma família de pequenos peixes que muitas vezes podem ser encontrados grudados a rochas em águas correntes. Uma nova pesquisa publicada no Journal of Morphology sugere que pelo menos 11 espécies de Bótias de Rio também podem andar na terra, como evidenciado por suas anatomias peculiares. Pelo menos uma espécie, um peixe de caverna cego conhecido como Cryptotora thamicola, foi de fato capturado caminhando na terra em flagrante, mas a nova pesquisa sugere que outras bótias de montanha também podem fazer isso.

Brooke Flammang, bióloga do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey (EUA) e principal investigadora do estudo, junto com seus colegas, analisou 29 espécimes de bótia. Usando micro-tomografias, a equipe estudou e comparou as várias amostras, observando suas formas distintas, grupos musculares e estruturas esqueléticas.

Cryptotora thamicola vista em múltiplas perspectivas. Créditos: Zach Randall / Brooke Flammang.

Essa equipe internacional de pesquisadores, que incluía cientistas do Museu de História Natural da Flórida, da Universidade Estadual da Louisiana (os dois últimos institutos sendo do EUA) e da Universidade de Maejo da Tailândia, também realizou alguns trabalhos genéticos, amostrando o DNA de 72 bótias para reconstruir sua árvore genealógica evolutiva.

Juntas, as análises físicas e genéticas revelaram as capacidades incomuns dos peixes para caminhar pela terra.

“Na maioria dos peixes, não há conexão óssea entre a espinha dorsal e as nadadeiras pélvicas. Esses peixes são diferentes porque têm quadris”, explicou Flammang por e-mail. “O osso do quadril é uma costela sacral e, nos peixes que estudamos, encontramos três variantes morfológicas que vão desde muito finas e mal conectadas até robustas e com uma conexão resistente. Imaginamos que aqueles com os ossos do ‘quadril’ maiores e mais robustos tenham a melhor capacidade de caminhar”.

Cryptotora thamicola na natureza. Crédito: Museu da Flórida.

Dos peixes estudados, 11 foram encontrados com esses quadris robustos – ou cinturas pélvicas. Curiosamente, a capacidade de andar resultante é uma reminiscência da maneira como as salamandras andam em terra. Como observado, o único exemplo documentado de uma botia ambulante é do Cryptotora thamicola, também conhecido como peixe-anjo de caverna. Esses peixes cegos, além de caminharem por terra, já foram vistos subindo cachoeiras, o que fazem com os quatro membros.

Essas adaptações pélvicas permitem que os peixes empurrem suas nadadeiras contra o solo, empurrando seus corpos para cima e para frente a cada passo, disse Flammang. Essas características provavelmente evoluíram como adaptações a águas de fluxo rápido, como rios e riachos. Nos peixes-anjo de caverna, essa mobilidade aumentada pode permitir um maior acesso às águas oxigenadas, que é uma característica importante entre este grupo familiar.

Essa espécie de Bótia de Rio, Homaloptera bilineata, pode deslizar para cima de um galho usando seus membros, mas sua capacidade de andar na terra é desconhecida. Crédito: Museu da Flórida.

E como Zach Randall, biólogo do Museu de História Natural da Flórida e coautor do estudo, explicou em um comunicado de imprensa do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, essas características são “provavelmente a chave para ajudar esses peixes a evitarem de serem arrastados pelo ambiente com fluxo rápido de águas onde eles vivem”. E acrescentou: “O que é realmente legal sobre este paper é que ele mostra com muitos detalhes que cinturas pélvicas robustas são mais comuns do que pensávamos na família dos bótias”.

Flammang disse que esses peixes não representam uma espécie intermediária, ou seja, algum tipo de elo perdido entre os animais totalmente aquáticos e aqueles capazes de viver na terra.

“Mas sabemos que ao longo da evolução, os organismos convergiram repetidamente para morfologias semelhantes por conta de enfrentar pressões semelhantes da seleção natural”, disse ela. “E também sabemos que a física não muda com o tempo. Portanto, podemos aprender com a mecânica que esse peixe utiliza para caminhar na terra e usá-la para entender melhor como os primeiros animais podem ter caminhado”.

Na verdade, a equipe agora está voltando sua atenção exatamente para isso – a mecânica de caminhada empregada por esses notáveis peixes. Para isso, a equipe está estudando a locomoção de uma Bótia de Rio em laboratório usando câmeras de precisão e uma técnica que registra sua atividade muscular.

“Podemos então usar as informações dos peixes vivos que podem caminhar na terra para programar os peixes robóticos anfíbios que estamos construindo”, disse Flammang. “O peixe robô pode então ser adaptado para representar formas fósseis para que possamos estudar sua morfologia funcional e biomecânica locomotora”.

Esse tipo de coisa já foi feito antes, particularmente com espécies extintas, incluindo um antigo animal que caminhou sobre a terra conhecido como Orobates. Agora estamos ansiosos para ver os peixes-anjo de caverna robóticos da equipe e os insights científicos resultantes.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.