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Vênus pode ter uma superfície ‘mole’ que está se regenerando regularmente

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Star para o ScienceAlert

Chamar Vênus de um planeta realmente estranho seria subestimar um pouco esse fato. É muito semelhante à Terra – e, ao mesmo tempo, tão diferente da Terra quanto se poderia esperar de um planeta parecido com a Terra.

Uma dessas diferenças é a litosfera venusiana – a camada dura e externa do planeta. Na Terra, a litosfera é fragmentada e móvel, dividida em placas tectônicas que ajudam a moldar a superfície planetária, enquanto vaza calor do interior do planeta em torno de suas bordas irregulares.

A litosfera de Vênus, por outro lado, é contínua, o que torna os mecanismos por trás do resfriamento e ressurgimento do planeta um mistério.

Um novo estudo sugere que Vênus pode realmente ter uma litosfera relativamente “mole” que ressurge regularmente.

Ilustração da grande Coroa de Quetzalpetlatl localizada no hemisfério sul de Vênus. (Créditos: NASA/JPL-Caltech/Peter Rubin)

Estudar esses mecanismos é complicado e difícil: Vênus é sufocado por uma espessa atmosfera tóxica que faz chover ácido e mantém as temperaturas da superfície em uma média de 475 graus Celsius. Aterrisadores enviados para lá não duraram muito.

Mas os dados coletados pelo orbitador Magalhães décadas atrás podem ter guardado segredos de Vênus todos esses anos. A espaçonave usou o radar para penetrar nas nuvens espessas do planeta e obter imagens da superfície – e agora, os cientistas usaram esses dados para descobrir que a litosfera de Vênus pode ser mais fina do que se pensava.

Liderados pela geofísica planetária Suzanne Smrekar do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, uma equipe de pesquisadores usou dados do Magalhães para fazer um estudo cuidadoso das características da superfície vulcânica chamadas coroas e das fossas, cordilheiras e cumes que as cercam. Eles descobriram que, onde as cordilheiras estão mais próximas, a litosfera é provavelmente bastante fina e flexível, com cerca de 11 quilômetros em média.

A modelagem sugere que o fluxo de calor através da superfície é maior nesses pontos do que o fluxo médio de calor na Terra.

“Por muito tempo estivemos presos a essa ideia de que a litosfera de Vênus é estagnada e espessa, mas nossa visão agora está evoluindo”, explicou Smrekar.

“Embora Vênus não tenha uma física tectônica semelhante à da Terra, essas regiões de litosfera fina parecem permitir que quantidades significativas de calor escapem, semelhante a áreas onde novas placas tectônicas se formam no fundo do mar da Terra”.

Por muito tempo, os cientistas pensaram que atualmente não tem muita acontecendo dentro de Vênus, mas estudos recentes têm sugerido cada vez mais o contrário. As coroas são uma dessas evidências.

Essas características se parecem um pouco com crateras de impacto e consistem em um anel elevado (como uma coroa) em torno de um centro afundado, com fissuras concêntricas irradiando para fora. Elas também podem ser enormes, com centenas de quilômetros de diâmetro.

Os cientistas inicialmente pensaram que as coroas eram crateras, mas uma análise mais detalhada revelou que elas são realmente de natureza vulcânica. Elas são causados ​​por plumas de material derretido quente que brotam do interior do planeta, empurrando a superfície para cima em uma cúpula que então colapsa para dentro quando a pluma esfria, vazando pelas laterais para formar um anel.

Imagem de Magalhães da Coroa de Aine na superfície de Vênus. (Créditos: NASA/JPL)

Na verdade, as crateras de impacto são relativamente poucas e distantes entre si em Vênus, pelo menos quando comparadas a planetas como Marte e Mercúrio. Esse contraste tem sido uma espécie de quebra-cabeça. Quanto mais crateras de impacto um planeta tiver, estima-se que sua superfície seja mais velha. Se um planeta tem poucas crateras de impacto, algo deve tê-las apagado.

A superfície de Vênus é 80 por cento de rocha vulcânica, o que implica algum tipo de mecanismo para levar o interior do planeta para o lado de fora no passado recente do planeta. Um número crescente de evidências sugere que tal vulcanismo não é apenas recente, mas contínuo, mantendo a superfície do planeta jovem.

O trabalho de Smrekar e seus colegas sustenta essa hipótese. A perda contínua de calor nas regiões de coroas de Vênus aponta para uma atividade geológica contínua à medida que o magma se agita logo abaixo da superfície.

Comparado a Marte, Vênus foi tristemente privado de nossa atenção nos últimos anos, então há uma verdadeira escassez de dados atualizados; a sonda Akatsuki da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão é atualmente a única missão dedicada a Vênus. Para um planeta tão parecido com a Terra, isso parece um descuido, apesar dos desafios, mas várias agências têm missões a Vênus atualmente em desenvolvimento.

Para a NASA, essa missão é VERITAS, um orbitador planejado para ser lançado em 2027. Os cientistas esperam poder usá-lo para observar mais de perto as curiosas coroas de Vênus.

“VERITAS será um orbitador geológico, capaz de identificar onde estão essas áreas ativas e desvendar melhor as variações locais na espessura litosférica. Seremos até capazes de capturar a litosfera no ato de deformação”, disse Smrekar.

“Vamos determinar se o vulcanismo realmente está tornando a litosfera ‘mole’ o suficiente para perder tanto calor quanto a Terra, ou se Vênus tem mais mistérios guardados.”

A pesquisa foi publicada na Nature Geoscience.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.