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Voyager 1 está detectando um ‘zumbido’ de ondas de plasma no vazio do espaço interestelar

Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert

A Voyager 1, que passou mais de 43 anos se afastando da Terra desde seu lançamento em 1977, agora está muito, muito, muito longe.

Sua distância do Sol é mais de 150 vezes a distância entre a Terra e o Sol. Demora mais de 21 horas para que as transmissões viajando na velocidade da luz cheguem à Terra. Ela oficialmente passou a heliopausa – o limite no qual a pressão do vento solar não é mais suficiente para empurrar o vento do espaço interestelar – em 2012.

A Voyager 1 deixou o Sistema Solar – e está descobrindo que o vazio do espaço não é tão vazio, afinal.

Na última análise de dados da intrépida sonda, a uma distância de quase 23 bilhões de quilômetros, os astrônomos descobriram, a partir de 2017, um zumbido constante de ondas de plasma no meio interestelar, o gás difuso que percorre entre as estrelas.

“É muito fraco e monótono, porque está em uma largura de banda de frequência estrita”, disse a astrônoma Stella Koch Ocker, da Universidade Cornell (EUA). “Estamos detectando o zumbido fraco e persistente do gás interestelar”.

Obviamente, sabemos que o espaço interestelar não está completamente vazio, mas como as estrelas são tão brilhantes, o material difuso que fica entre elas é realmente difícil de ver e examinar. Normalmente, temos que confiar na maneira como a luz muda quando viaja através do material interestelar para saber que está lá e quantificá-lo.

As sondas Voyager são os primeiros objetos feitos pelo homem a entrar no espaço interestelar e, portanto, representam uma oportunidade única de amostrar o meio interestelar diretamente.

Porém, mesmo tão longe do Sol e mesmo fora do alcance do vento solar, não é exatamente fácil. O Sol ainda é um monstro brilhante e barulhento, deixando escapar erupções solares que podem abafar as condições ambientais.

“O meio interestelar é como uma chuva tranquila ou suave”, disse o astrônomo James Cordes, da Universidade Cornell. “No caso de uma erupção solar, é como detectar a explosão de um raio em uma tempestade e depois voltar para uma chuva suave”.

Essa chuva suave, de acordo com a equipe, sugere que pode haver mais atividade de baixo nível no meio interestelar do que os cientistas pensavam. O motivo dessa atividade não está totalmente claro; podem ser oscilações de plasma termicamente excitadas ou ruído quase térmico gerado pelos movimentos dos elétrons no plasma, produzindo um campo elétrico local.

O que quer que esteja causando isso, a descoberta tem várias implicações. O zumbido pode ser usado para mapear a densidade do plasma conforme as duas sondas da Voyager se movem mais profundamente no espaço interestelar (a Voyager 2 cruzou a heliopausa em 2018).

Também pode ser usado para entender melhor a interação entre o meio interestelar e o vento solar. Sabemos que há um aumento na densidade de elétrons do outro lado da heliopausa – ambas as sondas Voyager detectaram isso enquanto viajavam. Conhecer a densidade do meio interestelar com mais precisão pode nos ajudar a descobrir o porquê.

A descoberta e a persistência da emissão também sugerem que a Voyager continuará a ser capaz de detectá-la, fornecendo-nos leituras contínuas que nos ajudarão a entender a turbulência e a estrutura em larga escala do meio interestelar.

“Nunca tivemos a chance de examiná-lo. Agora sabemos que não precisamos de um evento fortuito relacionado ao Sol para medir o plasma interestelar”, disse o astrônomo Shami Chatterjee, da Universidade Cornell.

“Independentemente do que o Sol esteja fazendo, a Voyager está enviando detalhes de volta. A nave está dizendo: ‘Esta é a densidade pela qual estou navegado agora. E essa aqui é de agora. E essa aqui é de agora. E essa aqui é de agora’. A Voyager está muito distante e fará isso continuamente”.

Mas não para sempre. O gerador termoelétrico de radioisótopos que alimenta os instrumentos da sonda se degrada um pouco mais a cada ano. Por volta de 2025, pode não ser mais capaz de mantê-los funcionando.

É por isso que é tão importante coletar o máximo de dados possível, enquanto ainda há oportunidade.

A pesquisa foi publicada na Nature Astronomy.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.