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A ciência de qualidade duvidosa da Journal of cosmology – a infundada alegação de diatomáceas extraterrestres

A revista Journal of Cosmology (JoC) ataca novamente. Com ciência ruim, MUITO ruim.

No recente estudo, os autores alegam ter encontrado diatomáceas extraterrestres.

O estudo é novo, mas as o histórico da revista é velho. E feio. E se propaga na mídia com muita facilidade (http://migre.me/g9xF6, http://migre.me/g9xHi, http://migre.me/g9xJ6). A mais recente empreitada da revista está sendo responsável por um viral que está se espelhando como evidência conclusiva da chamada panspermia.

Historicamente, um dos autores do texto, Chandra Wickramasinghe, esteve envolvido em outro vexame metodológico (http://migre.me/g9xPY, http://migre.me/g9xRq, http://migre.me/g9xUK) meses atrás sobre a alegação de ter encontrado diatomáceas em meteoritos. O estudo publicado naquela época foi conduzido com metodologia falha e sem evidências conclusivas para suportar a alegação. Não bastasse isso, os autores daquele estudo nem foram capazes de mostrar que o que tinham encontrado era de fato meteorito. Isso tudo havia sido publicado na JoC. Vale ressaltar que o periódico já foi mais de uma vez acusado de práticas metodológicas duvidosas (http://migre.me/g9xYk, http://migre.me/g9y7Z).

Voltando no tempo: Em Março de 2011, a mesma revista havia publicado um trabalho que indicava ter encontrado bactérias extraterrestres em meteoritos. Muito barulho, e pouquíssima racionalidade. Muito apelo a autoridade, visto que um dos autores, Richard Hoover, tinha credenciais vinculadas com a NASA (http://migre.me/g9ymk).

Na recente publicação, aparentemente os autores sequer consultaram especialistas em diatomáceas e foram apressados em dizer que era de origem extraterrestre.

Como bem menciona Phil Plait: “diatomáceas são endêmicas na Terra, essencialmente encontradas em todos os lugares onde há água. Será que essas não teriam vindo da Terra? Eles (autores) afirmam que tomaram precauções para se livrarem de contaminações. O que eles encontraram parece muito com as diatomáceas encontradas na Terra. Como poderiam ter chegado a estratosfera? Vulcões são uma possibilidade, embora eles dizem que nenhum vulcão teria entrado em erupção recentemente (na região de coleta) e afirmam que uma partícula daquele tamanho poderia sair fora da estratosfera rapidamente. Mas eu não estou muito certo que isso é o caso.

Eles citam um estudo mostrando a rapidez com que uma partícula cairia de diversas alturas, e dizem que a diatomácea cairia em questão de horas. Mas eu li o artigo, e eles assumem que a atmosfera é estável e imóvel, e não mencionam especificamente nenhuma outra força atuando sobre a partícula, exceto a gravidade e flutuabilidade. Há, no entanto, vento e turbulência na estratosfera que pode conseguir manter um pequeno objeto como esse no ar por algum tempo.”

A postura madura do Plait ainda fica mais intensificada na parte quando ele diz “o fato deles não saberem a maneira de como a amostra (diatomácea) chegou naquela região (estratosfera) isso NÃO significa que não há uma explicação.”

A postura dos autores lembra muito as inconveniências daqueles programas de TV obscurantistas que seguem com o raciocínio do tipo “não sei explicar, logo a causa é alienígena”. Talvez sirva como um belo exemplo de argumentum ad ignorantiam.

O JoC parece ter um compromisso com alegações extraordinárias. Mas as evidências são parcas, infantis e aparentemente explicações mundanas são muito mais satisfatórias que o dogmatismo pela panspermia que os autores propagam. A revista é um desserviço para a comunidade de astrobiólogos que se empenham seriamente ao estudo da possibilidade de vida extraterrestre.

Carl Sagan acertou quando disse que alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias. Abandonar a máxima saganiana é correr o risco de aceitar qualquer alegação pífia como representante genuína de conhecimento.

Cicero Escobar

Cicero Escobar

É doutorando em engenharia química pela UFRGS onde desenvolve pesquisa experimental sobre fotocatálise e outras coisas a mais em um reator químico (que alguns chamam, com razão, simplesmente de béquer). Cursou disciplinas de astronomia e exobiologia também pela UFRGS. Em dezembro de 2011 fez contato intraterrestre com astrobiólogos e astro-simpatizantes no Sao Paulo Advanced School of Astrobiology (pela USP). Desde então é um entusiasta de temas como origem da vida e possibilidade de vida extraterrestre.