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Mudanças Climáticas: A Terra vai ficar bem. Nós é que não vamos.

Muito tem se debatido a respeito das mudanças climáticas, na verdade creio que desde os anos 80, pelo menos. Ou seja, tai uma preocupação – e um alerta – que está longe de ser nova. Mas por que é um debate tão controverso hoje em dia?

Pode ser que o motivo remeta a interesses econômicos, mas também a mal-entendidos de terminologia e, claro à própria ignorância científica, principalmente. Por exemplo, este é um tema que, em português, é tratado como “aquecimento global”, que é a tradução direta de “Global Warming”. Mas a verdade é que o termo mais correto para este tema seria Mudança Climática (do inglês “Climate Change”), por que conversa melhor com o que, de fato, estamos lidando.

Há também muita confusão a respeito das mudanças climáticas. Desde confusões semânticas (“se a terra está aquecendo, como que em alguns países continua cada vez mais frio?”) até a interpretação errônea – proposital ou não – sobre o que está se tentando combater (“Mas mudanças climáticas não são normais ao longo das eras, mesmo antes do Homem surgir? Por que agora seria culpa do homem?”).

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O episódio mais recente de Cosmos lidou com este tema, e recentemente Neil DeGrasse Tyson, astrofísico e apresentador de Cosmos, também explicou o assunto num vídeo do Business Insider, da forma divertida e didática de sempre.

O vídeo está em inglês e não tem legendas, traduzirei aqui em forma de texto e deixarei o link para o vídeo ao final para quem quiser assistir. Acho que é uma mensagem que resume bem este assunto.

Confira:

“Como eu já disse uma vez, o bom da ciência, quando surge um consenso sobre experimentos, o bom da ciência é que ela é verdade, independente de se você acredita nela ou não. E as mudanças climáticas alcançaram uma dimensão política, social, cultural, e é estranho, por que eu não vejo as pessoas tomando partido sobre E=MC², ou outros fatos fundamentais da ciência.

Mas o consenso experimental está aí. Seres humanos, através de nossa [própria] conduta, queimando fontes de carbono – incluindo combustíveis fósseis – que estiveram enterrados por bilhões de anos, estão agora na atmosfera, e esta fonte de carbono produz dióxido de carbono, e um efeito estufa está aquecendo a Terra. E isso vem com consequências.

Aliás, a Terra vai sobreviver a isso! Pessoal diz: ‘Salvem o planeta!’ Não, não se preocupem com a Terra. A Terra estará aqui muito tempo depois que nós nos colocarmos em extinção. O que acontece é que estamos mudando o clima MAIS RÁPIDO do que nossas culturas talvez sejam capazes de responder.

Uma das consequências é, se você derreter calotas polares, o nível [global] de águas sobe. Não polegadas, não algumas dezenas de centímetros, mas metros, e isso começará a inundar orlas. Algumas das cidades mais importantes do mundo são construídas ao redor de orlas marítimas pelo motivo de que é assim que se faz transações econômicas, foi o que fez estes portos bem-sucedidos. Então, a própria base fundamental da nossa civilização requer orlas que existiam numa época onde não existia essa mudança global. Então, preparem-se pra isso, pois irá redesenhar os mapas do mundo. A menos que façamos algo a respeito.

Vênus sofre de um efeito estufa. São 900 graus Celsius de calor, não por que está próximo do sol do que nós, não está TÃO perto assim, apenas um pouco mais perto. Vênus possui quase 100% de CO2 em sua atmosfera, e esta atmosfera é 100 vezes mais densa que a nossa. Ou seja, calor entra, mas o calor não sai. E a temperatura sobe.

Eu não quero que a Terra fique como Vênus.”

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Esta semana o New York Times publicou uma matéria sobre o assunto, divulgando que as mudanças climáticas já estão afetando os EUA, com água ficando escassa em regiões mais secas do país, chuvas torrenciais aumentando em regiões úmidas, ondas de calor ficando cada vez mais comuns e mais severas, incêndios florestais ficando cada vez piores e florestas morrendo sob ataque de insetos que se proliferam com o calor.

O aquecimento, segundo o estudo, é de uma média de 2ºF e, se a taxa de gases de efeito estufa continuarem escalando neste rápido ritmo, o aquecimento pode ultrapassar 10ºF até o fim do século. O estudo ainda enfatiza que as pessoas não devem esperar que o aquecimento global aconteça num ritmo estável, nem numa distribuição uniforme pelo país.

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No Brasil, não conheço muitos estudos sobre mudanças climáticas e como esta afetará (ou já afeta) o País – embora saiba que eles existem – mas os especialistas já estão se movimentando. Entre os anos 2014 e 2016, espera-se que o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas se foque nos estudos e análises nas cidades brasileiras. Mas sabemos que, infelizmente, as regiões mais pobres são as mais castigadas.

Ou seja, atualmente, mudanças climáticas é um assunto difícil de ser ignorado. Mesmo com a controvérsia (que não é realmente uma controvérsia científica, mas mais uma controvérsia no senso comum) de se ela é causada ou não por fatores humanos, as mudanças em si são um fato.

97% dos estudos apontam para que as mudanças climáticas são causadas por ação humana. É um consenso científico. Claro que um consenso não significa, necessariamente, que se esteja certo, mas se fala em “consenso” em ciência, não estamos falando de opinião. Estamos falando de estudos que demonstraram os mesmos resultados. Ou seja, o consenso acontece quando estudos INDEPENDENTES (é sempre bom frisar isso) uns dos outros reproduzem os mesmos resultados e chegam às mesmas conclusões. Não confunda com “concordar” com alguém no sentido argumentativo, como acontece em debates políticos. Não que isso não aconteça também, é claro, mas não é disso que se trata.

Consenso científico é corroboração de evidências. Isso significa que é impossível discordar? Claro que não! Pelo contrário, é necessário discordar, mas dentro das regras da ciência, ou seja, apresentando evidências do contrário, ou apontando potenciais falhas na metodologia do estudo, e não simplesmente torcendo o nariz e criando teorias de conspiração.

Fontes:
Neil deGrasse Tyson: Don’t Worry, Earth Will Survive Climate Change — We Won’t
U.S. Climate Has Already Changed, Study Finds, Citing Heat and Floods
Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas vai focar estudo nas cidades
National Climate Assessment (Relatório)

Rafael Rodrigues

Rafael Rodrigues

Rafael Rodrigues é redator publicitário, roteirista de quadrinhos e divulgador científico. Formado em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina, escreve sobre terror, quadrinhos, filosofia e ciência para sites diversos. Seus assuntos favoritos são Filosofia da Ciência, Filosofia da Mente, História da Ciência, Neurociência, Genética e Evolução. Interessa-se pelo passado, pelo presente e pelo futuro.