Por Emmanuel Parisse
Publicado na ScienceAlert
Uma procissão de carros alegóricos carregou os restos mumificados de 22 faraós, incluindo a mais poderosa rainha antiga do Egito, através do Cairo na noite de sábado, em um desfile atraente rumo a um novo local de descanso para esses restos mortais.
Sob forte segurança, as múmias foram conduzidas em carros alegóricos de sete quilômetros através da capital, do icônico Museu Egípcio ao novo Museu Nacional da Civilização Egípcia.
Chamado de “Desfile de Ouro dos Faraós”, os 18 reis e quatro rainhas viajaram em ordem, os mais antigos primeiro, cada um a bordo de um veículo separado decorado em estilo egípcio antigo.
Tanto os pedestres quanto os veículos foram barrados na Praça Tahrir, local do atual museu, e em outras seções do trajeto.
Imagens do desfile elegante e uma cerimônia de abertura coreografada igualmente de forma meticulosa foram transmitidas ao vivo pela televisão estatal, com uma música épica.
As múmias entraram no terreno do novo museu para uma salva de 21 tiros, depois de um tempo de viagem um pouco menor do que o esperado de cerca de meia hora.
“Este espetáculo grandioso é mais uma prova da grandeza… de uma civilização única que se estende até as profundezas da história”, disse o presidente Abdel Fattah al-Sisi antes dos procedimentos.
Sekenenré Taá II, “o bravo”, que reinou sobre o sul do Egito cerca de 1.600 anos antes de Cristo, estava na primeira carruagem, enquanto Ramsés IX, que reinou no século 12 a.C., assumiu a retaguarda.
Outro grande guerreiro, Ramsés II, que governou por 67 anos, e a Rainha Hatexepsute, a mais poderosa mulher faraó, também estavam na curta viagem.
Com o brasão do nome de seu soberano à mostra, as carruagens douradas e pretas foram equipadas com amortecedores para a viagem, para garantir que nenhuma das cargas preciosas fosse acidentalmente perturbada por superfícies irregulares.
Informações atualizadas
De uma descoberta perto de Luxor de 1881 em diante, novos detalhes fascinantes da vida dos faraós – e das mortes – ainda estão surgindo.
Um estudo de alta tecnologia de Sekenenré Taá II, envolvendo tomografias computadorizadas e imagens 3D de suas mãos e fraturas de crânio há muito tempo estudadas, indica que ele provavelmente foi morto em uma cerimônia de execução, após ser capturado em batalha.
Para a procissão pelas ruas do Cairo, as múmias foram colocadas em recipientes especiais cheios de nitrogênio, em condições semelhantes às suas vitrines normais.
O novo local de descanso, o Museu Nacional da Civilização Egípcia no distrito de Fustat, no Cairo Antigo, consiste em edifícios elegantes e baixos com uma pirâmide no topo em meio a terrenos extensos.
As múmias passarão por 15 dias de restauração em laboratório antes de serem exibidas individualmente em sua nova casa, em um ambiente que lembra as tumbas subterrâneas.
Eles serão acompanhados por uma breve biografia.
Em sua nova casa, eles estarão dispostos em “vitrines ligeiramente melhoradas”, disse Salima Ikram, professora de egiptologia da Universidade Americana do Cairo.
O controle de temperatura e umidade também será aprimorado.
O “museu tem tudo para preservar (múmias), os melhores laboratórios… é um dos melhores museus que temos”, disse Waleed el-Batoutti, assessor do Ministério do Turismo e Antiguidades, à televisão estatal.
‘Maldição do Faraó’
O Museu Nacional da Civilização Egípcia abriu suas portas para exposições limitadas a partir de 2017 e foi totalmente inaugurado no domingo, antes das múmias serem exibidas ao público em geral duas semanas depois.
Nos próximos meses, o país deve inaugurar mais uma nova exibição, o Grande Museu Egípcio, próximo às pirâmides de Gizé.
Também abrigará coleções faraônicas, incluindo o célebre tesouro de Tutancâmon.
Descoberto em 1922, o túmulo do jovem governante, que assumiu o trono por um breve período no século 14 a.C., continha tesouros, incluindo ouro e marfim.
A chamada “maldição do faraó” surgiu com o decorrer da descoberta de Tutancâmon em 1922-23.
Um dos principais financiadores da escavação, Lord Carnarvon, morreu de envenenamento do sangue (toxemia) meses depois que a tumba foi aberta, enquanto um dos primeiros visitantes morreu abruptamente em 1923.
Com o desfile ocorrendo apenas alguns dias depois de vários desastres atingirem o Egito, alguns inevitavelmente especularam nas redes sociais sobre uma nova maldição provocada por essa última realocação.
Os últimos dias foram marcados por uma colisão ferroviária mortal e um desabamento de edifício no Cairo, enquanto as manchetes globais foram dominadas pelos esforços para reflotear o navio de contêineres gigante Ever Given, que bloqueou o Canal de Suez por quase uma semana.
O realojamento das múmias “marca o fim de muito trabalho para melhorar sua conservação e exibição”, disse a diretora-geral da UNESCO Audrey Azoulay, que estava no Cairo para o desfile.
“Isso desperta emoções que vão muito além da mera realocação de uma coleção – veremos a história da civilização egípcia se desenrolar diante de nossos olhos”.
Quem são os faraós que mudaram de casa no Cairo?
Aqui está uma lista dos faraós sendo realojados no Museu Nacional da Civilização Egípcia e uma descrição de cada um.
1 – Sekenenré Taá II, conhecido como “O Bravo”, reinou no sul do Egito cerca de 1.600 anos antes de Cristo e liderou uma guerra contra os hicsos, um povo semita que havia invadido o país.
2 – Rainha Amósis-Nefertari, sua filha poderosa e influente, era casada com seu irmão Amósis I, o primeiro monarca da 18ª Dinastia.
3 – Amenófis I, segundo faraó da 18ª Dinastia, era uma criança quando se tornou rei e governava com a ajuda de sua mãe, a Rainha Amósis-Nefertari.
4 – Amósis-Meritamun, filha de Amósis-Nefertari, era irmã mais velha e esposa de Amenófis I.
5 – Tutemés I, o terceiro faraó da 18ª Dinastia, ascendeu ao trono depois que Amenófis I morreu sem herdeiro e ajudou a expandir o domínio egípcio no sul.
6 – Tutemés II, filho do rei anterior, casou-se com sua meia-irmã Hatexepsute.
7 – Rainha Hatexepsute, conhecida como a “principal das nobres damas”; ela se declarou faraó, embora no antigo Egito as mulheres não pudessem aceitar esse papel. Mas ela se tornou uma poderosa monarca cujo governo houveram numerosos projetos construídos e o comércio com outros países floresceu.
8 – O rei Tutemés III foi lembrado como um dos grandes reis guerreiros do Novo Reino, cuja batalha em Megido é considerada um modelo de estratégia militar.
9 – Rei Amenófis II, seu filho, era conhecido como um excelente cocheiro e atleta versátil, bem como habilidoso com arco e flecha.
Ele protegeu as fronteiras do Egito e lutou em campanhas militares que garantiram imensa riqueza e poder, e também foi conhecido por expandir o complexo do templo de Carnaque perto de Luxor.
10 – Tutemés IV, filho do rei anterior.
11 – Amenófis III governou por 37 ou 38 anos. Seu reinado foi conhecido por sua opulência e a grandeza de seus monumentos, incluindo os Colossos de Mêmnon – duas estátuas de pedra maciças perto de Luxor que representam ele e sua esposa.
12 – A rainha Tié era casada com Amenófis III.
13 – Seti I, filho de Ramsés I, governou por pelo menos 21 anos, durante os quais liderou várias campanhas militares para restabelecer a autoridade do Egito fora de suas fronteiras.
Suas atividades e vitórias foram registradas no templo de Ámon em Carnaque. Seu túmulo no Vale dos Reis é um dos sepulcros reais mais bem preservados com cores vivas.
14 – Ramsés II governou por 67 anos, durante os quais foi conhecido como um grande guerreiro e construtor prolífico que ordenou a construção de templos em todo o Egito, incluindo o famoso Abu Simbel e o Ramessseum, seu templo mortuário.
15 – O rei Merneptá, filho de Ramsés II, governou 11 anos.
16 – Rei Seti II, filho do rei Merneptá.
17 – O rei Siptá subiu ao trono durante a 19ª Dinastia ainda criança e sua madrasta Tausserte, esposa de Seti II, atuou como regente.
18 – Ramsés III, rei da 20ª Dinastia, era conhecido como o último dos grandes faraós guerreiros do Novo Reino.
Vários papiros relatam uma chamada “conspiração de harém” envolvendo altos funcionários de sua esposa, a rainha menor Tí, conspirando para matá-lo para colocar seu filho Pentawer no trono.
Tomografias computadorizadas de seu corpo mumificado mostraram que a garganta do rei foi cortada por trás.
19 – Ramsés IV sucedeu a seu pai Ramsés III, mas governou apenas seis ou sete anos.
20 – Ramsés V governou apenas cerca de quatro anos e morreu sem um herdeiro ao trono.
21 – Ramsés VI, um dos filhos de Ramsés III, governou oito anos.
22 – Ramsés IX foi o oitavo rei da 20ª Dinastia que governou por cerca de 18 anos.