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Programação neurolinguística: charlatanismo e pseudociência

Por Alejandro Borgo
Publicado no El Ojo Escéptico

O discurso dos pseudocientistas melhorou e está cada vez mais interessante. Agora é a programação neurolinguística (PNL). O que é isso? Mais uma variante do neoxamanismo ou uma fábula transcientífica? O alarme soa quando descobrimos que a neurolinguística é uma refém inocente de uma legião de psicoprogramadores que retomam um verso obsoleto com pretensão de uma nova psicoterapia.

Introdução

A programação neurolinguística (PNL) pretende ser um sistema de procedimentos e modelos para incrementar a eficácia de nossa comunicação e influência sobre as pessoas. A PNL é o resultado de uma mistura teórica formidável (toma elementos da hipnose médica, da terapia familiar, da corrente sistêmica, da psicanálise, da terapia gestaltica e da terapia do comportamento) eminentemente pragmática: busca resultados independentemente de uma teoria que suporte e explique. Tal teoria é impossível e incômoda: deve-se reunir correntes conflitantes, além do fato fundamental de que os resultados foram positivos, isto é, que a PNL foi eficaz.

Com postulados básicos, a PNL refere-se aos sistemas de representação, sistemas que uma pessoa possuem e que podem ser auditivos, visuais ou cinestésicos, de acordo com a forma que representará internamente o mundo exterior ou elementos externos e internos com as quais se envolve. Assim, argumenta-se que há pessoas que têm uma preferência pelo visual: expressa-se em termos visuais (“vejo que a situação é tal”), descreve as coisas apelando para imagens visuais (“isso me fez ver estrelas”), etc. De modo que cada um teria um sistema representacional preferido (SRP).

Por outro lado, afirma que olhando atentamente para a SRP de uma pessoa e adaptando-se a ela, podemos influenciar o seu comportamento enquanto melhoramos a comunicação. Como é que sabemos qual é o SRP de Fulano? Aqui PNL começa a cambalear: dizem que existem seis sistemas de representação (Azcoaga 1993).

Mas o mais interessante – e que agrava-se de maneira pendente – é que pressupõe-se que esses seis sistemas estão correlacionados com o movimento dos olhos e com a postura corporal – mas, em seguida, adicionaram a voz e a respiração. Isso significa que, se alguém olhar para cima, à direita, estará evocando imagens visuais? Sim, e seguindo esses movimentos aprenderemos o SRP de Fulano. Mas há uma observação: embora Fulano tenha um SRP visual isso apenas indicará que ele predomina esse sistema, sem prejuízo de que possa usar os outros (Cudicio 1991).

Seguindo esse esquema simples (os partidários da PNL tratam-nos de reducionistas) o tipo visual manteria uma postura rígida, com os movimentos oculares para cima, respiração superficial e rápida, voz aguda e ofegante, utilizando palavras visuais. O tipo auditivo manteria uma postura relaxada, de “escuta telefônica”, respiração ampla, voz bem timbrada no ritmo médio, usando palavras auditivas. E o tipo cinestésico manteria uma postura muito descontraída, com os movimentos que “mimam” as palavras, respiração profunda, voz grave, com ritmo lento e pausas, apelando para as sensações ao escolher palavras (Cudicio 1991).

Ao manter que as correlações entre os movimentos dos olhos e os sistemas de representação estão baseadas na lateralidade cerebral, e, particularmente, na linguagem (com a sua área localizada no hemisfério esquerdo), a PNL seria válida apenas para os destros. Mas a acomodação da teoria da PNL feita por Bandelr – um de seus criadores – declarou que isso não era necessariamente assim, e que não deveríamos considerar como uma restrição para o modelo geral. E para não ser curto, Bandler também pontificou em julho de 1986 que os SRP não são considerados elementos importantes. A goma da PNL começava a se estender como acontece com todas as pseudociências: quando algo não coalha, deixa de ser importante.

Resultados

O Conselho Nacional de Investigação, criado pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, encomendou ao Comitê de Técnicas para a Melhoria do Desempenho Humano a tarefa de investigar a PNL com o objetivo de determinar a sua validade como técnica terapêutica e de aprendizagem. As conclusões são claras:

  1. Muitas das teorias que apelam a PNL e que citam como congruentes com ela, não têm aceitação científica (teoria do cérebro holográfico de Pribram, e a descrição do cérebro estatístico de John).
  2. Na literatura sobre PNL não citam nenhum dado que apoie a relação entre o movimento ocular e os sistemas representacionais.
  3. Os experimentos apresentados em apoio a PNL não são satisfatórios.
  4. O embasamento da PNL não é um conjunto de descobertas e preposições ordenadas de modo que implique que a PNL declara-se como uma estrutura; pelo contrário, está constituída por uma série de anedotas e fatos concatenados que não levam a nenhuma conclusão particular.
  5. Há erros na descrições dos processos biológicos básicos: Por exemplo, que a sinapse se define como uma conexão dendrito-dentrito, ao invés de dendrito-axónio.
  6. As referências biológicas e psicológicas estão desatualizadas. Não se menciona a neurotransmissores quando se fala da organização cerebral e o que se cita da psicologia cognitiva omite aos últimos 20 anos de trabalho.
  7. A conclusão geral é que não há evidência empírica que permita assegurar tanto as pretensões como a eficácia da PNL.

Apesar dessas conclusões, ainda se fala da eficácia da PNL como psicoterapia, como técnica de aprendizagem de trabalhos, na venda – onde a convicção é importante -, e a compreensão e influência interpessoal. Como toda pseudociência, o que a PNL tem de romance não tem de comprovação científica, e o que é eficaz não lhe pertence. Recordemos que, enquanto aprendizagem de modelos, a psicologia conta desde muito tempo com as técnicas de modelagem: modelo abstrato, modelo criativo, que constituem os processos de aprendizagem por observação (Bandura 1982).

Além disso, os resultados obtidos indicam que a PNL pode ser contraproducente: o fato de uma pessoa prestar atenção extrema nos movimentos, nas posturas e nas palavras de um interlocutor, pode fazer com que ela se distraia e se confunda.

Nota

Em uma meta-análise, publicada na Polish Psychological Bulletin, Tomasz Witkowski analisa 63 estudos que foram publicados em revistas científicas sobre a eficácia da programação neurolinguística. Os resultados indicam que ela não possui qualquer base empírica que sustente suas reivindicações (Witkowski 2010).

Referências

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.