Publicado na EurekAlert!
Biólogos no Scripps Research Institure (TSRI) identificaram um hormônio cerebral que parece estimular a queima de gordura no intestino. Os achados em modelos animais podem ter implicações para o futuro desenvolvimento de fármacos.
“Isso foi ciência básica revelando um mistério interessante”, disse a Professora Assistente do TSRI Supriya Srinivasan, autora sênior do estudo, publicado dia 27 de Janeiro no periódico Nature Communications.
Estudos anteriores haviam demonstrado que o neurotransmissor serotonina pode levar à perda de gordura. Porém ninguém estava certo de como. Para responder à essa questão, Srinivasan e seus colegas experimentaram com vermes da espécie C. ellegans, que são comumente utilizadas como modelos de estudo na biologia. Esses vermes possuem sistemas metabólicos mais simples que os dos seres humanos, mas seus cérebros utilizam-se de muitas das mesmas moléculas de sinalização, levando muitos pesquisadores a acreditar que achados em C. ellegans podem ser relevantes para seres humanos.
Os pesquisadores deletaram genes nas C. ellegans para ver se conseguiam interromper o caminho entre a serotonina e a queima de gordura. Testando um gene após o outro, eles esperavam encontrar o gene sem o qual a queima de gordura não ocorresse. Esse processo de eliminação levou-os a um gene que codifica um hormônio neuropeptídico chamado FLP-7 (pronuncia-se “flip-7”).
Interessantemente, eles descobriram que a versão mamífera do FLP-7 (chamado de “Tachykinin”, em inglês) havia sido identificada 80 anos atrás como um peptídeo que estimulava contrações musculares em intestinos de porcos. Já naquela época cientistas acreditavam que se tratava de um hormônio que ligava o cérebro aos intestinos, mas desde então ninguém havia ligado o neuropeptídeo ao metabolismo de gorduras.
O próximo passo do estudo era determinar se o FLP-7 está diretamente associado aos níveis de serotonina no cérebro. A autora principal do estudo, Lavinia Palamuic, Pesquisadora Associada do TSRI, liderou essa tarefa marcando o FLP-7 com uma proteína fluorescente para que pudesse ser visualizado em animais vivos, o que foi possível devido à transparência dos corpos dos vermes. O trabalho dela revelou que o FLP-7 era de fato secretado por neurônios cerebrais que respondem à altos níveis de serotonina. FLP-7 então viaja pelo sistema circulatório para iniciar o processo de queima de gordura no intestino.
“Esse foi um grande momento para nós”, disse Srinivasan. Pela primeira vez, pesquisadores haviam encontrado um hormônio cerebral que especificamente e seletivamente estimula o metabolismo de gordura, sem nenhum efeito na ingestão alimentar.
Em suma, a recém-descoberta via de queima de gordura funciona assim: Um circuito neural no cérebro produz serotonina em resposta à pistas sensoriais, como a disponibilidade de alimento. Isso sinaliza outro grupo de neurônios à produzir FLP-7. FLP-7 então ativa um receptor em células intestinais, que começa a queimar gordura para produzir energia.
Em seguida, os pesquisadores investigaram as consequências de manipular os níveis de FLP-7. Aumentar os níveis de serotonina demonstrou influenciar a ingestão de alimento, movimentação e comportamento reprodutivo dos animais, mas aumentar apenas os níveis de FLP-7 não demonstrou nenhum efeito colateral observável. Os vermes continuaram a funcionar normalmente, apenas queimando mais gordura que o normal.
Srinivasan disse que esse achado pode encorajar estudos futuros sobre como os níveis de FLP-7 podem ser modulados sem apresentar os efeitos colaterais associados ao aumento dos níveis de serotonina.