Paulo Henrique Fernan
Graduando em Psicologia (2019) pela Universidade Paulista (UNIP); estágio de iniciação científica em Psicologia Social (2017). Ilustrador, desenhista e artista plástico nas horas vagas. Membro da Mensa Brasil (desde 2013). Tem interesse nas áreas de Psicologia, Biologia Evolutiva, Filosofia, História, Neurociência, Sociologia, Antropologia e Entomologia.
Existem vários mitos que se relacionam aos superdotados. Esses mitos, por exemplo, apoiam-se nas concepções de que os alunos com altas habilidades são vistos como possíveis doentes mentais; como aqueles que terão sucesso profissional garantido, autodidatas que são auto-educáveis, calculadoras humanas, que possuem rendimento ótimo em tudo na escola. Hábeis por natureza em matemática, física, química, etc., porém deficientes em habilidades motoras (Rech e Freitas, 2005).
Esses mitos, assim como qualquer outro, surgem no imaginário popular como forma de tentar compreender os mistérios de natureza física, sobrenatural do mundo, mas também são produtos de determinadas circunstâncias históricas e sociais. Podem ser reconhecidos basicamente como representações coletivas muito simplistas.
Pérez (2003, p. 47) cita que “o sentimento de amor e ódio em relação aos superdotados vislumbrava-se no Renascimento, quando os “gênios” eram alvo dos mitos que a sociedade criava para estas pessoas. Após o surgimento de outros artistas, novos estereótipos se consolidaram na sociedade. Por causa disso há um relativismo cultural que faz com que o conceito de portador de altas habilidades, ou superdotado, não é absoluto e muda em função de determinantes sociais (Soares, Arco-Verde, e Baibich, 2004).
O gênio já foi associado ao talento artístico de muitos pintores e estes sujeitos já foram apontados como seres esquisitos e incompreensíveis por natureza. Já foi caracterizado ora por suas virtudes, ora por sua angústia, ora por seu equilíbrio, ora por sua criatividade, ora por seu entusiasmo. Já foi considerado insano, um louco liberal de comportamento extravagante, mas também já foi estimado como um ser superior, conservado e introvertido. Como Charles Bukowski, ou Franz Kafka, Leonardo Da Vince, ou van Gogh.
Dependendo da análise, que pode ser feita pela sociedade, por historiadores, por filósofos ou médicos, o conceito e as características do gênio adquirem um caráter particular (Soares, Arco-Verde, e Baibich, 2004). O mesmo acontece com o superdotado, que hoje é reconhecido também por organizações de superdotados como a Mensa Internacional e a Prometheus Society. Por essas razões não se pode conceituar a superdotação de um modo absoluto. O conceito de superdotação está sujeito às variações culturais. (Parrat-Dayan, 2001).
Guenther (2000, p. 115) argumenta que a dotação intelectual é algo que o indivíduo tem consigo, faz parte de seu aparato cognitivo e, portanto, é herdado, mas cujo desenvolvimento e concretização será construído através de estímulos sociais durante a sua vida.
Num modelo que foge das representações estereotipadas do coletivo, temos um modelo aceito cientificamente onde se encontram três aspectos do sujeito com altas habilidades. São eles: a capacidade acima da média, o envolvimento com a tarefa e a criatividade, todos entrelaçados.
- A capacidade acima da média compõe-se dos comportamentos observados no sujeito que sejam comprovadamente superiores a uma média, em qualquer campo do saber ou fazer.
- O envolvimento com a tarefa são os comportamentos observáveis a partir da demonstração de expressivo interesse, motivação e empenho pessoal nas tarefas que realiza nas diferentes áreas.
- A criatividade são os comportamentos observáveis por meio da demonstração de traços criativos no fazer ou no pensar, expressos de diversas maneiras, que podem ser verbal, gestual, plástica, teatral, musical, entre outras formas de expressão (Soares, Arco-Verde, e Baibich, 2004).
Além disso, há também diversificações nas habilidades. Por exemplo, Halpern (1997) aponta que, escores de testes de inteligência devem ser interpretados em consideração ao gênero do indivíduo que foi submetido ao teste. O interessante é que, segundo a autora, as mulheres tendem a obter escores mais altos nas tarefas que requerem velocidade perceptual, habilidades motoras finas, produção e compreensão de prosas complexas e uso de informação fonológica e semântica na memória a longo prazo. Por outro lado, os homens tendem a ter melhor desempenho em tarefas que exigem transformação na memória de trabalho visoespacial, respostas espaço-temporais e raciocínio matemático abstrato.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- GUENTHER, Z. C. Desenvolver capacidades e talentos: um conceito de inclusão. Petrópolis: Vozes, 2000.
- PARRAT-DAYAN, S. Gênio e Criatividade. In: PIAGET, J. et al. Criatividade: psicologia, educação e conhecimento do novo. São Paulo: Moderna, 2001. p.113-124.
- PÉREZ, S. G. P. B. Mitos e crenças sobre as pessoas com altas habilidades: alguns aspectos que dificultam o seu atendimento. Cadernos de Educação Especial, v. 2, nº 22, p. 45-59, 2003.
- RECH, Andréia Jaqueline Devalle & FREITAS, Soraia Napoleão.Uma análise dos mitos que envolvem os alunos com altas habilidades: a realidade de uma escola de Santa Maria/RS. Rev. bras. educ. espec., 2005.
- SOARES, Ana Maria Irribarem; ARCO-VERDE, Yvelise Freitas de Souza and BAIBICH, Tânia Maria.Superdotação: identificação e opções de atendimento. Educ. rev. [online]. 2004, n.23, pp.125-141. ISSN 0104-4060.