Por Nuño Domínguez
Publicado no El País
Uma equipe de astrônomos acaba de anunciar a descoberta de Sarasvati, um superaglomerado de galáxias que descrevem como uma das maiores estruturas do universo e provavelmente a mais distante que se conhece.
Para alcançá-la seria preciso viajar à velocidade da luz durante 4 bilhões de anos – quase a idade da Terra -na direção da constelação de Peixes. O novo superaglomerado, descoberto por astrônomos de várias instituições acadêmicas da Índia, tem um diâmetro de 600 milhões de anos-luz e uma massa equivalente a um trilhão de estrelas como o Sol.
O universo é formado por estruturas de complexidade cada vez maior. Os planetas se agrupam em torno de estrelas para formar sistemas solares. Milhões de sistemas solares se reúnem para formar galáxias. Milhares de galáxias se entrelaçam com matéria escura para formar aglomerados. Os aglomerados se agrupam em filamentos e outras estruturas e estas se unem para formar superaglomerados, as maiores estruturas do universo.
“Até agora só tinham sido descritos alguns poucos superaglomerados equiparáveis a este, como a concentração de Shapley e a Grande Muralha de Sloan, mas Sarasvati é o mais distante de todos”, explica Joydeep Bagchi, do Centro Interuniversitário de Astronomia e Astrofísica, em Puna, em um comunicado de imprensa divulgado pela instituição. A descoberta foi feita a partir de imagens da Sloan Digital Sky Survey, um projeto astronômico que já produziu os mapas tridimensionais mais precisos do universo visível. Os detalhes da descoberta acabam de ser publicados na publicação científica Astrophysical Journal.
Em 2014, descobriu-se que a galáxia na qual está nosso planeta, a Via Láctea, faz parte de um superaglomerado conhecido como Laniakea. A força de gravidade exercida por essas grandes estruturas determina o movimento das galáxias a grandes distâncias. No mesmo ano um estudo apontava que a força da gravidade exercida pelo superaglomerado de Shapley e um enorme espaço vazio a 500 anos-luz se combinam para fazer com que nossa galáxia viaje a dois milhões de quilômetros por hora em relação à velocidade constante da radiação cósmica de micro ondas, gerada depois do Big Bang.
Os superaglomerados também propõem um importante desafio para as teorias atuais de evolução do universo. Pode ser que alguns sejam antigos e grandes demais para encaixar nos modelos atuais que descrevem a evolução do universo depois do Big Bang, há 13,7 bilhões de anos. Acredita-se que as galáxias jovens viajam através dos filamentos até chegar aos aglomerados, onde sua capacidade de formar novas estrelas começa a decair. O estudo de Sarasvati pode ajudar a entender melhor os diferentes ambientes que uma galáxia percorre ao longo de sua vida e averiguar se a relatividade de Einstein também explica o comportamento dessas enormes estruturas até 10 ordens de magnitude maiores do que o Sistema Solar, afirma o estudo.
Sarasvati é uma referência a um rio citado no texto mais antigo da Índia e também é o nome da deusa hindu do conhecimento, da música, da arte e da sabedoria.
Para Yehuda Hoffman, astrofísico da Universidade Hebraica de Jerusalém, a descoberta de um superaglomerado a essa distância é interessante porque demonstra que “à medida que exploramos regiões cada vez mais distantes do universo, encontramos as mesmas estruturas, e com isso podemos entender melhor sua forma em grande escala”. O pesquisador acredita que Sarasvati confirma o modelo padrão da cosmologia, a teoria mais aceita sobre o nascimento e a evolução do cosmos. “É uma confirmação de nossa visão atual do universo”, ressalta.