Por Francisco Doménech
Publicado na OpenMind
Sendo um cientista jovem e muito promissor, recém formado em medicina e concluído sua tese de doutorado, o alemão Oscar Hertwig decidiu mudar totalmente o ponto de vista de sua pesquisa. Foi assim que ele se tornou o primeiro homem a ver verdadeiramente uma reprodução sexual, completa e detalhada. Ele fez isso observando no microscópio células de ouriços-do-mar. Sua descoberta abriu o caminho para as técnicas de fertilização e reprodução assistida, e ele também viu o papel do núcleo celular na transferência de herança biológica, que também fez dele um pioneiro da genética.
Wilhelm August Oscar Hertwig (21 de abril de 1849 – 25 de outubro de 1922) fez sua grande descoberta logo no início de uma longa carreira científica, o que o tornou um eminente zoólogo e estudioso da teoria da evolução. Naqueles dias, ele fez um brilhante duo científico com seu irmão Richard, nascido um ano depois. Na prestigiosa Universidade de Jena (Alemanha), os irmãos Hertwig logo se tornaram os mais brilhantes discípulos do grande naturalista Ernst Haeckel, que os convenceu a colocar a química de lado e a dedicar-se à medicina.
Após completarem seus estudos, os irmãos abandonaram a medicina e seguiram os passos de Haeckel, determinados a consolidar e ampliar a visão da zoologia de seu professor. Eles tentaram entender o funcionamento dos animais, seus corpos inteiros, a partir do estudo de suas células individuais e o desenvolvimento de seus embriões. Assim, eles se propuseram a resolver os mistérios da reprodução sexual ao estudar as células envolvidas em um animal relativamente simples, como ouriço-do-mar.
Naquela época, já se sabia que os espermatozoides e óvulos eram os protagonistas da fertilização, mas havia uma infinidade de incógnitas sobre os detalhes de como a faísca de uma nova vida se inflamava. Como os tipos de células se juntaram para dar origem a um embrião? Havia duas hipóteses muito diferentes. As características celulares particulares dos ouriços-do-mar permitiram a Oscar Hertwig observar claramente o processo no microscópio e realizar sua grande conquista, publicada em 1876: a fertilização ocorre quando o espermatozoide penetra no óvulo e seus núcleos se fundem, entre 5 e 10 minutos depois.
As chaves da herança biológica
Até esse nível de detalhe, Hertwig pode ver o pico da reprodução sexual que também descobriu que é um único espermatozoide que fertiliza o óvulo, embora sejam muitos que tentam. Assim, quando um espermatozoide consegue penetrar em um óvulo, ele gera uma membrana que impede a entrada de novos espermatozoides.
Oscar Hertwig continuou estudando a fertilização no interior do óvulo e observou que a chave estava no que acontecia com os cromossomos nesse processo. Já se tornado professor de anatomia em Berlim, em 1888, foi um dos primeiros a ensinar que a base da herança biológica residia nos cromossomos. Ele escreveu um livro que se tornou referência sobre o desenvolvimento biológico de animais. E sua grande intuição levou-o a dar um passo adiante, sugerindo que dentro do núcleo há uma substância química que não é apenas responsável pela fertilização, mas também pela transmissão de características hereditárias.
Mais de meio século depois, desde que Hertwig faleceu, foi possível provar também que ele estava certo sobre isso, quando, em 1944, o experimento de Avery-MacLeod-McCarty demonstrou que essa substância responsável pela herança biológica é um ácido nucleico, o DNA. Consagrado como uma eminência científica, nos últimos anos de sua carreira, Oscar Hertwig estudou profundamente a teoria da evolução e concluiu que Darwin estava equivocado em sua interpretação dos mecanismos evolutivos. Seu livro teórico mais importante é uma refutação das ideias de Charles Darwin sobre a chance (“Das Werden der Organismen, eine Widerlegung der Darwinschen Zufallslehre”, 1916), que teria contrariado seu mestre Haeckel, convencido darwinista. Mas as críticas de Hertwig serviram para estimular outros cientistas que conseguiram esclarecer e completar a teoria da evolução.