O Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo, grupo de pesquisa da UNESP/Marília, vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, realizou um levantamento de dados referentes ao aumento do número de problemas no coração durante a época do feriado de Natal e Ano Novo.
O aumento da mortalidade por complicações cardiovasculares nos feriados foi previamente publicado na literatura científica. Knight et al. avaliaram dados individuais de mortalidade diária no Ministério da Saúde da Nova Zelândia entre 1988 e 2013. Como conclusão principal, o estudo observou que durante o feriado de Natal, um acréscimo de 4,2% de pessoas morreram por causas cardíacas fora do hospital em comparação com outras tendências sazonais de longo prazo. Phillips e colaboradores descreveram que 42.325 mortes naturais adicionais foram associadas a feriados de Natal e Ano Novo durante um período de 25 anos nos Estados Unidos. Os autores destacaram algumas explicações plausíveis para essa evidência, incluindo estresse psicológico, consumo excessivo de alimentos e bebidas.
Além disso, o aumento do consumo de energia durante as festas de Natal e Ano Novo é incentivado por eventos sociais e uma rotina mais relaxada. A acessibilidade a uma variedade maior de alimentos ricos em caloria, tamanhos de porção maiores e consumo elevado de álcool são fatores adicionais relacionados ao ganho de peso no feriado de Natal e Ano Novo.
Foi observado também nesse estudo que o número de intercorrências no departamento de emergência como resultado de insuficiência cardíaca durante as festas de Natal e Ano Novo era maior em comparação a outros períodos do ano. Os pesquisadores revelaram que os casos mais altos de mortes cardíacas ocorreram em 2 de janeiro, 26 de dezembro e 27 de dezembro. Este estudo relatou um aumento de 30% nos quatro dias adjacentes ao Natal e um aumento de 35% entre as comemorações de Natal e ano novo. Phillips et al., (Phillips et al., 2004) detectaram que os maiores casos de mortes cardíacas surgiram em 25 e 26 de dezembro e 1º de janeiro.
As principais circunstâncias incluíram estresse emocional, aumento da ingestão de sal, alimentos, álcool e gorduras, atraso inadequado na busca de orientação médica, clima mais frio, resistência vascular elevada, formação de trombos e espasmos coronários.
Além disso, o nervo vago, décimo par de nervo craniano, inerva vários órgãos do corpo, incluindo estômago, intestino, pulmões e coração. Nesse sentido, levanta-se a hipótese de que a sobrecarga de alimentos e bebidas durante essa época sobrecarrega as fibras nervosas aferentes do nervo vago, o que prejudica seu funcionamento, causando efeitos prejudiciais ao coração.
Portanto, as pesquisas apresentadas acima chamam a atenção para a população mais vulnerável, que já apresenta fator de risco cardiovascular. As medidas preventivas incluem consulta a equipe médica e nutricionista para acompanhar o estado de saúde e evitar que complicações no coração ocorram.
Referências
- Phillips DP, Jarvinen JR, Abramson IS, Phillips RR. Cardiac mortality is higher around Christmas and New Year’s than at any other time: the holidays as a risk factor for death. Circulation. 2004;110(25):3781-8.
- Kloner RA. The “Merry Christmas Coronary” and “Happy New Year Heart Attack” phenomenon. Circulation. 2004;110(25):3744-5.
- Knight J, Schilling C, Barnett A, Jackson R, Clarke P. Revisiting the “Christmas Holiday Effect” in the Southern Hemisphere. J Am Heart Assoc. 2016 Dec 22;5(12). pii: e005098.