Por Jules Montague
Publicado no The Guardian
Se você deseja ganhar uma discussão esta semana, tente falar em neurolinguagem. Informações neurocientíficas irrelevantes – ou “neurobobagem” – são as explicações científicas mais convincentes, de acordo com pesquisadores da Universidade Villanova e da Universidade de Oregon.
Os cientistas deram a um grupo de 385 estudantes breves descrições dos fenômenos psicológicos, incluindo reconhecimento facial, memória espacial e estados emocionais, cada um acompanhado de explicações supérfluas para eles, derivadas da neurociência, ciências sociais ou ciências “duras”, como a física. As explicações neurocientíficas – envolvendo frases como “córtex pré-frontal” e “circuito neural” – foram consistentemente classificadas como as mais convincentes, mesmo quando as informações eram inúteis e não ofereciam mais informações. Os autores concluíram que os participantes consideraram a neurociência como a explicação mais atraente para os achados psicológicos, mesmo quando não deveria ser.
Quando utilizada adequadamente, a neurociência é uma disciplina poderosa. A neurobobagem, no entanto, não é. Mas aqui está um guia rápido de como usá-la de qualquer maneira, apenas para ganhar uma discussão:
Use a palavra “neuroplasticidade”, idealmente em uma frase
Por exemplo: “mudei de ideia sobre o SNP porque a neuroplasticidade do meu cérebro criou novas vias neurais”.
O que significa: quando utilizada fora do contexto, não diz muita coisa. A neuroplasticidade é a capacidade do sistema nervoso de responder aos estímulos, reorganizando sua estrutura, função e conexões. Porém, não explica por que pensamos no que fazemos.
Fale bobagens sobre o córtex insular se acendendo
Por exemplo: “Sabemos que as pessoas adoram iPhones, porque ao submeter alguém em um scanner cerebral, observando o próprio aparelho da Apple, podemos ver seu córtex insular se acendendo”.
O que isso significa: quase nada. O córtex insular se acenderá em um terço de todos os estudos de ressonância magnética, independentemente do que as pessoas sejam solicitadas a fazerem em um scanner.
Faça grandes reivindicações sobre neurônios-espelho
Por exemplo: “Os neurônios-espelho são a base da empatia humana, todo o surgimento da cultura e a formação de nossa civilização“.
O que significa: essa é a maior tolice. Os neurônios-espelho, que disparam quando macacos fazem algo ou veem um macaco fazendo algo, foram tratados como “o conceito mais sensacionalista em neurociência”. Porém, a pesquisa ainda não está confirmada para se aplicar aos seres humanos.
Se você puder gritar “Parklife!” no final de sua frase com a palavra “hipocampo” ou “giro fusiforme” em qualquer lugar, haverá uma chance de que você tenha dominado a neurobobagem.